Capítulo Vinte e Três

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Vinícius Miller:

Fiquei conversando com o pessoal, especialmente com Silvia, que dizia que eu era exatamente como o senhor Jones descreveu. Senti as bochechas esquentarem tanto que precisei jogar água no rosto para disfarçar. Nunca fui muito bom em receber elogios, então me concentrei no meu trabalho. Quando não consegui mais suportar, saí da sala de jantar.

Ao voltar, tentei me acalmar. Isaac estava sentado ali, rindo de Angel, que parecia envergonhado. Meu irmão olhou para mim, hesitante. Felizmente, ele era a única pessoa que me conhecia bem o suficiente para entender minha timidez e meus tiques. Como não havia muito que precisasse fazer para chamar sua atenção, havia poucas chances de que minhas reações fossem percebidas por qualquer outra pessoa daquela casa.

Só preciso me concentrar em desenhar as roupas do Calvin e do Alberto e depois costurar cada uma delas.

— Então, Vih, me diga, já apareceu em algum desfile? — ouvi a voz de Lincoln, me trazendo de volta para a realidade e longe dos meus pensamentos.

— Não, nunca como estilista — respondi, lembrando-me do momento em que conheci Sofia. Ela disse que acreditava que eu poderia me tornar um grande estilista, capaz de revolucionar a sociedade com minha influência. Mas agora, as coisas eram diferentes. Não queria me prender nesse meio por muito tempo, pois isso significaria perder parte da infância de Axel.

Sofia disse que não conseguia imaginar como uma pessoa tão inocente e gentil poderia sobreviver em um mundo tão assustador e terrível. Ela sabia o que cada estilista ou modelo seria capaz de fazer comigo. Naquela primeira ocasião, ela agarrou minhas mãos, dizendo que era surreal pensar que olhos tão puros como os meus pudessem passar por grandes dificuldades nas mãos de uma sociedade suja e feia.

Essas palavras me marcaram profundamente. Decidi que seguiria minha carreira de estilista não apenas por paixão, mas também para cuidar de Axel o máximo de tempo possível, protegendo-o desse mundo implacável.

— Ah, minha chefe, Sofia, diz que vai demorar bastante para que eu possa participar de um desfile como eu quero, mas não me importo muito em ficar longe das passarelas — falei, voltando ao presente.

— Se você participar de um, me chame para ser seu modelo — disse Lincoln, piscando um olho para mim. Calvin fechou a cara na hora.

— Não — Calvin disse por mim. — Você não vai participar de nada.

— Então... seria você o modelo ideal para os desfiles do Vih? — Lincoln provocou, fazendo Calvin bufar.

— Não o chame por esse apelido — Calvin retrucou, e Lincoln soltou uma risada.

Eu podia imaginar que Calvin provavelmente estava com medo de que Lincoln estivesse fingindo ser gentil e puro comigo, apenas para me magoar no futuro. Isso me fez fechar a cara. Não preciso ser protegido. Estou trilhando meu próprio caminho e me envolvendo em uma luta com um grande número de concorrentes perigosos.

Se ele fosse realmente uma pessoa gentil, eu teria recusado ou ficado desencorajado a considerar alguém com a aparência dele como modelo em um desfile que eu estivesse desenvolvendo. Por isso, não tive escolha a não ser mascarar meus pensamentos insidiosos e sorrir brilhantemente, para não revelar tolamente meus motivos ocultos ou ser pego em uma armadilha por alguém perverso.

— Não, não chamaria nenhum de vocês — falei, estalando a língua. — Preferiria alguém com menos experiência para desfilar para mim. Lincoln, eu nem te acho tão atraente e tenho certeza de que não saberia desfilar em silêncio, mesmo que você tenha bastante estilo para suas roupas.

Era mentira. Na verdade, eu sabia muito bem quem ele era. Antes de voltar para cá, pesquisei um pouco sobre Lincoln e descobri que ele era o filho mais velho de um casal de advogados, e que várias pessoas na internet diziam que ele poderia ser um ótimo modelo se desistisse da faculdade de Direito.

Metade de você (Mpreg) | Livro 2 - Amores perdidos e encontradosOnde histórias criam vida. Descubra agora