Bônus Cinco

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Samara Rossi:

Olho para a papelada empilhada sobre minha mesa no escritório de advocacia. Sou uma das últimas a permanecer aqui; quase todos já foram embora ou estão esperando seus colegas para irem a algum lugar onde possam beber à vontade.

Sei que meus amigos e minha família gostariam que eu fizesse o mesmo, que me divertisse como as outras pessoas. No entanto, não fui sempre assim. Acho que posso contar um pouco da minha história para vocês.

Enquanto ajeito os documentos e tento me concentrar no trabalho, meus pensamentos vagam para o passado. Lembro—me das noites que passei em claro, estudando e me esforçando para chegar onde estou. Houve momentos de dúvida e incerteza, mas também de grandes conquistas e realizações.

A vida nunca foi fácil para mim. Tive que lutar por cada passo, enfrentar desafios que pareciam insuperáveis. Mas cada obstáculo superado me tornou mais forte e mais determinado a alcançar meus objetivos.

Agora, sentada aqui neste escritório silencioso, percebo que minha jornada ainda está longe de acabar. Há muito mais por fazer, muito mais por conquistar. E embora às vezes sinta a tentação de desistir e me juntar aos outros na busca por diversão e despreocupação, sei que minha missão é maior. Tenho um propósito que me guia, uma paixão que me motiva a seguir em frente.

Então, enquanto arrumo a papelada e me preparo para mais uma noite de trabalho solitário, sinto uma sensação de paz interior. Porque sei que estou no caminho certo, fazendo o que é certo para mim. E essa é a história que quero compartilhar com vocês.

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Eu estava voltando da escola com a minha mãe. Ela segurava minha mão firmemente, e eu, na outra mão, segurava orgulhosamente meu desenho do peru que fizemos na primeira série, na semana anterior ao Dia de Ação de Graças.

Enquanto caminhávamos, ouvi minha mãe xingar alguém ao olhar para a tela do celular. Achei estranho ela ter vindo me buscar a pé na escola.

Chegamos ao prédio do meu tio. O elevador ainda estava quebrado, com uma placa informando o problema. Dá para dizer que as coisas poderiam ter sido diferentes se estivesse funcionando, mas acho que não.

— Porra de elevador. Digo para o puto do Ronaldo ir morar em outro lugar ou reclamar de tudo para o corno do maldito síndico — minha mãe murmurou, e rapidamente acrescentou, olhando para mim: — Você não ouviu isso? Se ouviu, nunca diga nada a ninguém sobre isso.

— Não ouvi o quê? — respondi, o que rendeu um sorriso dela.

Foi o último sorriso dela que recebi por um bom tempo. Chegamos ao andar do meu tio, e minha mãe bateu na porta do apartamento 3C. Ouvi os passos do meu tio se aproximando para abrir a porta, o que demorou um pouco, pois havia três trancas.

Meu tio dizia que era o preço que se pagava por viver com estilo. Ele era um agente literário que estava começando a ter bastante sucesso. O apartamento dele tinha seis cômodos e uma vista para a avenida principal. Sempre tinha uma faxineira que ia duas vezes por semana.

Minha mãe trabalhava em um restaurante, e, mesmo vivendo em um apartamento um pouco menor, morávamos bem.

Mas isso não durou muito tempo. Minha mãe foi embora quando eu menos esperava.

Voltei ao presente quando meu tio abriu a porta. Ele sorriu para nós com seus óculos de leitura caindo na ponta do nariz.

— Oi, Lídia — disse meu tio, ajeitando os óculos. — Como está, pequena?

Metade de você (Mpreg) | Livro 2 - Amores perdidos e encontradosOnde histórias criam vida. Descubra agora