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... eu tive um sonho estranho, noite passada.

Tinha sido um final de semana esquisito. Era difícil explicar. Porque, ao mesmo tempo em que o tempo havia passado num piscar de olhos, Kang Seulgi manteve a cabeça ocupada por todos os dois dias. Era complexo explicar como dois dias passaram voando e, mesmo assim, Seulgi teve a sensação de estar alerta a cada minuto passado no relógio. Mas valeu a pena. Talvez tivesse causado algumas dores de cabeça, crises existenciais, mas pareceu ter sido o certo a se fazer. Dentro do próprio quarto, isolada, Seulgi conseguiu reencontrar paz consigo mesma. Não total, mas parcial.

Ah, claro, teve a exceção de domingo, mas tomar um sorvete com Kim Yerim tinha sido divertido. Quase terapêutico. Um escape dos dramas da universidade para reviver um pouquinho os de uma veterana de ensino médio. Com certeza, falaram muita besteira e coisa com coisa também, mas, é. O convite que fizera à Yerim, na sexta, tinha sido uma boa decisão.

Nova semana, novos começos. Essa era a mentalidade que Seulgi queria estender aos próximos dias.

Era noite de segunda-feira e, como costumava ser naquele horário, passado das oito, Kang Seulgi mantinha os olhos quase que grudados na tela do computador, focados em cada nova palavra que era digitada no documento aberto. A música que tocava nos fones era apenas alta o suficiente para distraí-la dos demais barulhos da casa. A única pausa que fazia era para mordiscar a barra de chocolate aberta e deixada sobre a mesa. A má postura e olhos semicerrados não eram por simples problemas na vista – Seulgi estava de óculos -, como vocês sabem, era mau-hábito. Mas Seulgi não estava com tempo para corrigi-los. O objetivo era encerrar a cena antes de oito e meia. Ou perto disso. Então a luta era contra o relógio. Seulgi queria terminar o que estava escrevendo antes de...

Aquilo. Antes de exatamente aquilo acontecer.

Seulgi ouviu a porta de seu quarto ser aberta, sem ninguém bater antes para avisar, como era o habitual. Olhou rapidamente em direção a recém-chegada e aí sim ajeitou a postura, terminando a frase tão apressadamente quanto pôde ao voltar o olhar alerta para a tela do notebook.

- Pode continuar o que cê tá fazendo, eu não ligo.

Bae Joohyun, era a recém-chegada. E, de fato, a expressão da Bae era de falta de interesse. Tanto que Joohyun seguiu direto para a cama e se ali se jogou, como se fosse sua, se ajeitando de bruços entre as cobertas e travesseiros.

- Você real não tem mais o que fazer em casa mesmo, né? – Seulgi riu ao dar uma breve espiadinha para trás. Joohyun, virada para os pés da cama, e a encarava com a mesma expressão de tédio.

- Não. – Joohyun respondeu e Seulgi riu ao voltar a atenção para frente. Com Joohyun a tagarelar, Seulgi não conseguiria voltar a escrever por muito tempo nem se quisesse. Só tinha que terminar o fluxo daquele parágrafo, antes que a ideia se perdesse no cemitério da memória. - Vim cedo porque você deve ter ficado com saudade, semana passada, sem nossa ilustre presença. Vocês viram mesmo o episódio de semana passada, não? Não quero ter que ficar explicando nada pra ninguém.

- Eu vi, elas disseram que viram... relaxa. E se quiser ir ajeitando as coisas... à vontade. – Seulgi respondeu, entendendo a tentativa de repreendida da Bae. Isso porque, na semana anterior, por conta das provas, tinham decidido não se reunir e assistir à segunda transmissão do drama em suas respectivas casas, por conta própria. Era consenso que perderiam muito tempo com fofocas antes e depois do episódio. Muita distração interferindo nos estudos.

- Não quero. – Seulgi só ouviu Joohyun responder, mas riu ao imaginar Joohyun a enfiar a cara em um dos travesseiros em pura demonstração de preguiça, pelo barulho que ouvira.

E, de fato, foi o que acontecera.

Após alguns segundos com apenas o som constante das teclas do computador, Joohyun ergueu a cara amassada e ajeitou o cabelo para longe do rosto para observar o que a Kang fazia. Escrevia, óbvio, mas balançando a cadeira de uma forma que o encosto ficasse, na maior parte do tempo, bloqueando a visão de Joohyun à tela.