Bipolar

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Capítulo 2

Acordo em um pulo e encaro o homem ao meu lado.

- O que voxê tá fazendo aqui? - Pergunto e ele apenas me encara. - Responde.

- Nada, escutei você gritando feito uma hiena e vim ver o que tinha acontecido.

- Ah, bigada. - Falo e ele ri.

- Porque você age como se fosse uma neném? - Ignoro ele e volto a me deitar. - Beleza, depois não reclama se no outro dia não acordar. - Diz e escuto a porta se fechando com tudo.

Volto a dormir e não tive mais pesadelos.

Acordo com uma claridade batendo em meu rosto e então percebo que dormir um bom tempo, até porque quando eu fui dormir no dia anterior ainda era a tarde.

Fiquei cansada andando tanto. Me levanto e vou tomar banho.

Assim que volto vejo a bandeja com torrada e suco de laranja.

Devoro tudo e escovo os dentes, logo deitando de novo na cama.

- Titi, será que eu xou tão feia assim? Pa ninguém gostar de mim? - Encaro o Stitch.

- Você só é estranha mesmo. - O homem diz e encaro ele.

- Xua mãe não te falou que escutar converxa dos outos é feio? - Pergunto e vejo ele rindo. - Pouque você ri de mim? Tenho cala de paiaça?

- Porque você fala igual criança? - Ignoro de novo e fecho a cara.

- Você só xabe fazer essa peugunta?

- Você só sabe falar errado?

Pego o travesseiro e taco nele.

- Não goxto de voxê sai. - Ele permanece parado.

- Eu te tiro da rua e é assim que tu me trata? - Ele cruza os braços e me encara com a sobrancelha erguida.

- Não pedi pa xer xauva. - Emburro a cara.

- Beleza poh, pode ir então. - Ele vai até a porta e abre. - Vai pra rua tranquila, não me importo. - E simplesmente sai.

Fico um bom tempo pensando.
Se eu sair, posso acabar encontrando o velho nojento ou até mesmo aqueles homens das armas. Por outro lado, se eu ficar, tenho banho quente, roupas limpas, comida e ainda uma cama pra dormir.

- Voxê não mada em mim. - Grito e escuto ele rindo.

Será que ele só sabe fazer isso? Tenho cara de palhaça só pode.

Me sento na cama e começo a observar o quarto, vejo uma TV no mesmo. Ué, não vi essa TV aí ontem. Dou de ombros e ligo a mesma. Vejo o que estava passando e então coloco no canal que está passando desenho.

Em algum momento que eu não sei, aparece uma bandeja do meu lado com um prato de comida e um copo de suco como sempre. Será que ele não sabe tomar água?

- Quer ajuda pra comer também? - Ele pergunta debochado, simplesmente pego a colher e começo a comer. - Tu ficou porque?

- Pouque voxê não mada em mim. - Dou de ombros.

- Tô ligado, vai me contar sua história agora? - Nego.

- Pouque voxê que sabe tanto minha hixtólia?

- Porque tu tá na minha goma?

- O que é isso? É de cume?

- Goma é casa.

- Ah tá, maxmo assim não vo conta. - Tomo o suco. - Voxê só tem suco?

- Tranquilo poh, mas não faço essas merdas mais, tu desce e pegue. - Ele sai meio bravo do quarto e fico sem entender.

Homem maluco.

Fico assistindo desenho até que me dá sede e fome, me levanto e vou procurar a cozinha. Logo sinto cheiro de bolo pela casa e vou na direção do cheiro.

Vejo uma mulher cozinhando e resolvo voltar pro quarto mas paro assim que a mesma fala comigo.

- Preparei um bolo delicioso, Pesadelo contou que você estava aqui.

- Ah, bigada, mas melor eu fica no qualto. Não tô com foume tombém. - Minha barriga ronca fazendo ela rir.

- Anda, sente-se e come. - Ela me entrega um prato e me sento, devoro tudo e então tomando a água que a mulher acabará de deixar pra mim. - Está bom?

- Xim, tá muito bom. - Ela sorri e volta a fazer o  que estava fazendo.

Fico um bom tempo escutando e vendo epa fazendo as coisas.

Será que minha mãe também seria assim? Me trataria da mesma forma que ela?

- Tata cheguei. - O homem diz e vai até a mulher lhe dando um beijo na testa. Logo percebe a minha presença e fecha a cara.

- Não está vendo ela ali? Cumprimente ela, não foi assim que lhe ensinei menino. - Ela bate nele com pano de prato me fazendo rir.

- Qual é a graça? - Ele me encara serio e paro de rir na hora. Me levanto e vou pro meu quarto, escovo meu dente e me deito.

Grosso.

Durmo de novo.
Sim, eu só sei fazer isso, até porque no orfanato ou eu dormia, ou eu sofria nas mão de meus colegas. Tinha vez que mesmo quando ia dormir, eles me atormentavam, acho que nunca tive tanta paz como estou tendo agora.

Sei que não estou segura, mas ao mesmo tempo sinto que estou, até porque eu não irei sofrer mais nas mãos de meus colegas. O problema é o homem que mora nessa casa, eu não confio nele, ele me dá medo e não gosto de me sentir assim. Por ele ser bipolar, me dá mais medo.

Abraço meu Titi e pego a minha chupeta, coloco na boca e me cubro.

Minhas coisas se resumi a uma mochila. Não tenho muita coisa, são só algumas coisas que as famílias me davam, ao todo apenas quatro roupas, pois as quatro doou o resto, me deixando assim só com a roupa do corpo.

No orfanato todas as roupas que chegavam, as meninas pegavam pra elas porque pra elas as minhas eram as melhores. Tudo desculpa pra me deixar sem nada. Outras rasgavam as mesmas. Elas só não tocavam nessas minhas, até porque não tinha como, eu escondia e mesmo que elas quisessem pra elas, não serviriam.

Uma amiga minha me ajudava, mas assim que a mesma saiu do orfanato por ter sido adotada, só recebi uma carta com o número dela. Prometi a ela que assim que eu arrumar algum lugar pra ficar depois de sair do orfanato, entraria em contato.

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