chapter 11.

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Quando senti meus lábios contra os do loiro, a única reação possível para aquele momento foi arregalar os olhos e tensionar todo o resto de meu corpo, ele tinha me pegado totalmente de surpresa.

Seus olhos ainda estavam abertos, capturando os meus com força, talvez esperando uma reação negativa vindo de mim. Mas notando que não, eles de repente pareciam sonolentos, descendo aos poucos até que se fechassem completamente. Senti quando sua mão deixou meus cabelos, descendo para meu pescoço e passando por meu maxilar, onde ele colocou seu dedão em meu queixo e o empurrou levemente para baixo, deixando minha boca aberta para suas vontades.

Me permiti fechar os olhos quando a língua alheia se arrastou timidamente para dentro da minha boca, me fazendo esquecer tudo ao redor em questão de segundos. Mikey parecia perdido de início ─ assim como eu ─, mas não paramos com a ação, continuando a enrolar ambas línguas até finalmente conseguir seguir o ritmo um do outro. Ele sorriu entre o beijo.

Separei o ósculo quando meus pulmões clamaram por ar, sentindo meu coração bater com tanta força que por um momento achei que ele fosse soltar pela minha garganta.

[nome]... - sussurrou, trazendo sua boca de volta para a minha.

O que a gente tava fazendo?

─ Espera, me solta! - saí de seus braços rolando para o lado, ainda ofegante. ─ Que porra...? Você não tava chorando agora mesmo? O que deu em você?!

─ [nome], eu... - ele se sentou no tapete, parendo tão chocado e perdido quanto eu.

─ Não quero que diga mais nada! Quer saber? Vou embora. - levantei ainda tentando recuperar os sentidos, caminhando para a porta. Ele riu.

─ Mas essa é a sua casa! - agora seu rosto transmitia humor. Abri a boca várias vezes para responder ao alcance, mas nada bem elaborado saía.

Argh, odeio esse cretino!

─ Eu sei, foi só modo de se expressar! - dei alguns passos para trás quando ele se levantou e começou a se aproximar, batendo as costas contra a parede gélida. ─ Não chega mais perto!

─ Tudo bem, não vou encostar em você! - suspirou, parando uns três passos longe de mim. ─ Hoje o dia foi horrível... e eu vim te procurar para conversar, mas acabei te beijando. - ele disse, olhando para o lado enquanto passava a língua para olhar os lábios vermelhos e ressecados.

─ Peça desculpas e vamos fingir que nada aconteceu, eu vou te ouvir normalmente e-

─ Uh? - ergueu uma sobrancelha, me cortando. ─ Por que eu pediria desculpas? Não estou arrependido de nada. - posso jurar que nesse momento eu o encarava perplexa.

─ Você parece zonza, quer que eu te segure pra' não cair? - e novamente seus braços se enrolaram em volta da minha cintura, me trazendo para mais perto dele com um sorriso convencido nos lábios. Ele tava mais abusado que o normal!

─ Você disse que não ia me encostar e eu não tô zonza, então me larga!

Tentei me debater, mas fazer aquilo foi como um nada, já que segundos depois nem sei como fui parar encima do balcão, empurrando as coisas que estavam ali para o chão. Roupas amassadas, minha boca entre os dentes de Mikey, suas mãos apertando minha cintura ─ como se dependesse daquilo ─, e cabelos desgrenhados; era assim que estávamos, totalmente desesperados pelo toque um do outro.

─ Eita glória a Deus, nossa senhora. - a voz exclamou surpresa e eu quase cai pelo susto, porém Mikey me segurou antes.

─ Hiroki! - gritei, recuperando o ar perdido. O ruivo cruzou os braços, apoiando o corpo na parede enquanto um sorriso travesso estava em seus lábios. A merda vem.

─ Desculpa estragar o amasso de vocês, e que amasso hein... Deus abençoe.

─ Calado! O que você ta fazendo aqui? - fiz menção de descer do balcão, e Mikey não demorou em me ajudar. Minha vontade era de sumir nesse momento.

─ Não queria atrapalhar vocês dois, mas você saiu do restaurante tão rápido que fiquei preocupado, então comi sem nem mastigar direito e vim correndo. - explicou fazendo gestos. ─ Só que você ta bem, bem até de mais. Nem me ouviu entrando. Então já vou, me liga mais tarde.

─ Hiroki seu- - a porta se fechou causando um barulho alto, fiquei constrangida com o que aconteceu e principalmente com Mikey ao meu lado. Vou é cometer um ato criminoso mais tarde!

─ Você ta bem? - o loiro perguntou me checando com seu olhar.

─ Ótima! - assegurei, ajeitando meu cabelo. ─ Pode me dizer agora por que estava tão mal? - tentei mudar de assunto e principalmente do clima tenso, me afastando um pouco dele, de repente ficar perto do loiro parecia perigoso.

─ Era por que eu ainda não sabia que você era caidinha por mim. - sorriu, se debruçando no balcão.

─ Ah, vai lavar uma cueca garoto, e sai desse seu sonho!


[ • • • ]

Ainda naquele dia, um pouco mais tarde:

Como em quase todos os dias que precisei respirar o ar puro, saí para caminhar sem um destino definido, no final sempre parando nessa calçada onde tinha um rio. O barulho da água descendo me acalmava, enquanto o vento parecia levar as coisas ruins. Definitivamente, esse era o meu lugar preferido no mundo.

Fiquei olhando o céu escurecer e dar lugar para as estrelas, pensando sobre mais cedo. Depois do ocorrido, Mikey comentou sobre um conflito interno com seus amigos e principalmente Draken, incluindo Takemichi no hospital e o quão insuficiente ele se sentia mal por não conseguir deixar as coisas bem. Todavia, o que me incomodava mesmo no fundo era que ele agiu como se nada tivesse acontecido após o beijo sem mais nem menos.

Suspirei, tentando tirar as teorias absurdas de minha cabeça.

─ Pelo seu rosto, talvez problemas de família? - me assustei com a voz ao meu lado, encarando a figura feminina me sorrindo para mim. ─ Oh, desculpe me meter assim. Me chamo Yuno, muito prazer.

─ Muito prazer... - respondi vagamente, estranhando a aproximação repentina.

─ Muitas vezes venho aqui pra ler, é um lugar bom. - ela chacoalhou o livro que estava em sua mão, sorrindo largamente. ─ Pra falar a verdade, achei interessante você ter um moletom do [sua banda/cantor(a) favorita]!

─ Ah! - dei um sorriso sem graça. ─ Você gosta deles também?

─ Claro que sim! Achei maneiro você ter um moletom deles, caraca. - realmente ela parecia gostar bastante, e isso se notava facilmete pelo tom animado de sua voz.

Yuno parecia ser alguém bastante extrovertida, o jeito que ela falava e gesticulava era todo energético, sem contar suas falas espontâneas e engraçadas. A garota era baixa, de pele levemente bronzeada, os olhos não eram tão puxados e seus cabelos eram castanhos que iam até o meio de suas costas. Parecia uma boneca.

Ficamos conversando por mais um tempo, Yuno me ofereceu algumas balas e continuamos a conversar sobre coisas banais como: livros, roupas, bandas, filmes e etc. Foi uma "amizade" bem inesperada.

─ Preciso ir. - avisei soprando o ar pela boca, olhando para a fumaça que tinha saido dela. A morena me encarou.

─ Certo, eu também já vou. - disse. ─ Caso queira conversar ou desabafar, pode vir me encontrar aqui, sempre fico sentada aqui por essas horas.

─ Não quero incomodar você... - nem contar meus problemas para alguém que acabei de conhecer; quis acrescentar. ─ De qualquer jeito, obrigada por falar comigo.

─ Que nada. - ela sorriu gentilmente. ─ Até mais, [nome]. - acenou.

─ Até. - retribui o gesto, dando um último sorriso para a garota e virando para ir embora. Quando me toquei.

Espera.

Não me lembro de ter dito meu nome alguma vez enquanto conversamos.

❝𝐈𝐅 𝐘𝐎𝐔'𝐑𝐄 𝐎𝐍 𝐓𝐇𝐄 𝐖𝐀𝐓𝐄𝐑.❞ ➛ manjiro sano.Onde histórias criam vida. Descubra agora