Presságio

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P.O.V MOB

02:57 da Manhã

"Mãos saem da lama fria e tentam me arrastar para dentro dela, minha respiração acelerada denuncia meu medo, grito a procura de alguém, dele. Meus olhos procuram ansiosos por alguma saída, galhos repletos de espinhos acertam meu rosto. É quando tropeço em um tronco velho escorregadio pelo lodo que o impregna, que sinto uma dor insuportável em minhas costas, não consigo me mover. O fogo se aproxima lentamente, o calor infernal tocando meu rosto. E tudo some."

Abro os olhos assustado, ainda sustento a respiração entrecortada do sonho, o que me faz respirar aliviado é a visão do garoto ao meu lado, seu corpo sobe e desce lentamente, alguns pelos crescem em seu peito, meus indicadores brincam com eles. Coringa é perfeito.

Seus braços me seguram forte, como se fosse fugir a qualquer momento, queria morar ali. Ainda está com a parte de baixo de sua fantasia, as pernas enroscadas as minhas, me remexo e ele resmunga, seus lábios vermelhos se aproximam dos meus, um arrepio sobe por minha espinha. Paro por alguns segundos, analisando cada partezinha de seu rosto, ok. ELE É MUITO LINDO, MESMO! E talvez nunca canse de apreciar essa obra de arte.

Saio com cuidado de seus braços e caminho devagar até a pequena sacada, onde alguns vasos com flores falsificadas a enfeitam, me apoio observando a paisagem lá embaixo, as árvores da propriedade ao lado, alguns participantes da festa ainda na quadra gritando e se divertindo, um deles é Nobru, parece bem alterado, o que me faz rir baixinho. A lua reina majestosa noite à dentro, está cheia e ilumina meu rosto.

Não sei quanto tempo fico ali, só volto a realidade quando braços quentes se envolvem em minha cintura, me puxando para mais perto. Seu nariz passa lentamente no lóbulo de minha orelha e meu corpo todo se arrepia, o que faz uma risada doce e rouca soar baixinha no pé de meu ouvido. Victor apoia o queixo em meu ombro e seus dedos entrelaçam aos meus, ao longe um relâmpago repentino preenche o céu, o pintando de púrpura.

- Aconteceu alguma coisa? – Pergunta baixinho, agora seus dedos brincam em minha barriga, despejando cargas elétricas por onde passa – Te ouvi gritar algumas vezes. Estou preocupado.

- Só uns sonhos idiotas que ando tendo, nada demais – Me viro e apoio minha cabeça em seu peito, ouço seus batimentos acelerados, ainda é estranho pensar que Coringa se sente da mesma forma quando está perto.

- Baby! – Seu polegar levanta meu rosto que fica a centímetros do céu, o som alto de trovão me faz grudar ainda mais a seu corpo, da forma que sinto cada pedacinho, o calor de seu corpo contra o meu é uma das melhores sensações que já experimentei. Em meu top dez, experiências com Victor ocupam mais da metade – Sabe que estou aqui pro que der e vier, não sabe?

Assinto com a cabeça em silêncio e inspiro seu cheiro inebriante, doce, sensual. Despejo um beijo casto em seu pescoço e sinto seu corpo estremecer. Meus dedos vão até seu cabelo macio, caminhando pelos fios finos e escuros.

- Victor, obrigado por ter me defendido na cozinha. Por um momento pensei que Otávio... – Nem consigo terminar a frase.

- Marcos, não vou deixar que aquele babaca encoste um dedo em você. Prometo, do fundo do meu coração – Fico na ponta dos pés e o beijo, sentido seus lábios macios como seda, sua língua se encontra com meus lábios e dou passagem pra se encontrar com a minha – Tu... – seus olhos brilham intensamente – É meu bem mais precioso, e vou proteger com unhas e dentes.

Fico sem palavras, só aprofundo ainda mais o beijo, sentindo suas mãos percorrem meu corpo. Apreciação.

- Ainda não acredito que agora posso ficar assim com você, agarradinho... sem que ninguém me encha a droga do saco! – Coringa para pra respirar, os braços ao redor de meu pescoço. Beija meu pescoço e minhas bochechas diversas vezes, solta um suspiro apaixonado – Será que um dia iremos nos cansar disso.

Um raio cai mais perto e dessa vez voltamos pra cama, a pergunta paira no ar gélido da madrugada. Deito minha cabeça em seu peito enquanto Victor me faz um cafuné.

- Não! – Respondemos em uníssono, nem se fosse planejado sairia tão sincronizado – Nunca me cansarei de sentir assim. Livre, feliz – Emendo.

- Liberdade.

Adormeço novamente nos braços de Coringa, confortavelmente. Regresso novamente aquele pesadelo, mas dessa vez Coringa está ali e me salva dos estalidos bruxuleantes das chamas laranjas fluorescentes, tão quentes quanto o sol do Rio. E logo eu que dizia que nunca quis ser salvo. "Sou autossuficiente", eram essas minhas palavras. É a bela expressão que minha mãe sempre faz a questão de ressuscitar em todas nossas conversas em que sempre nego algo estúpido, ela ri, afinal, mães nos conhecem mais do que nós mesmos: "a gente paga língua".

Amor Sem Fronteiras - MOBICTOR - FinalizadaOnde histórias criam vida. Descubra agora