Luca, Alberto e Giulia

Parte 5

Alberto e Suzi se aproximam de Luca, Giulia, Massimo e os pais de Luca. Suzi é bem recebida, Massimo gosta dela, Giulia elogia o cabelo dela, e ela diz que Giulia é muito linda. Luca fica sem jeito, cumprimenta Suzi apenas com um "oi" e um sorriso torto.

Com todos presentes eles começam o banquete, e a comida preparada por Massimo é tão boa que eles passam um bom tempo falando sobre. Luca não interage muito, Giulia conversa bastante. Eles começam a falar das novidades e o que andaram fazendo nos últimos tempos. Em certo momento, Luca pergunta para Suzi como que ela conheceu Alberto, e ela começa a contar, fala sobre quando os olhos deles se encontraram e o tempo pareceu parar, como ficaram amigos e de amigos a namorados, mas não conta sobre como ficaram noivos, Alberto tenta mudar o assunto antes dela falar, e ela sente que ele fica incomodado com o assunto, e o percebe olhando para Luca.

Após o jantar, vem a sobremesa. Eles seguem falando sobre como a comida está incrível, e sobre como a vida está para cada um. Após isso, Massimo liga o som e serve vinho, ele e os pais de Luca seguem sentados na mesa conversando. Alberto e Suzi se levantam e vão se sentar em um banquinho que tem no jardim.

Quando estão sozinhos, Suzi pergunta para Alberto se todos ali são híbridos, tirando Massimo. Alberto conta que todos são, tirando Massimo e Giulia, então Suzi fala:

- É surreal, como isso é possível? Quer dizer, é magico. - Ela olha para Alberto e diz com um sorriso - Você é mágico.

Luca, que havia ido para a cozinha, vê através da janela Alberto e Suzi parecendo apaixonados no jardim. Ele sente como se alguém puxasse para fora parte do seu coração. Giulia entra na cozinha, ele percebe e fala:

- Eu não aguento mais Giu... eu não devia ter voltado pra cá - Diz ele com os olhos cheios de lagrimas, e sai pela porta dos fundos.

Giulia fica triste por Luca, ela tenta falar algo que o conforte antes dele sair, mas não encontra nada. Alberto entra na cozinha.

- Vim pegar um pouco mais de sobremesa pra Suzi. - Diz ele, indo para a geladeira.

Giulia olha para ele com uma cara de "qual o seu problema?"

- O que foi? - Pergunta ele. - Cadê o Luca?

Giulia não responde inicialmente, continua fazendo uma cara de negação, mas respira fundo e diz que ele saiu pela porta dos fundos.

- Porquê ele...? - Alberto iria perguntar por que Luca saiu, mas então ele pensa melhor, e resolve deixar para lá. Ele diz - Passa meses sem aparecer, e quando volta fica assim... - Então ele sai da cozinha com a sobremesa na mão para levar a Suzi.

Quando Alberto chega, Suzi nota seu mal humor.

- Porquê você está assim? - Pergunta ela.

- Nada, é só... o Luca... a Giulia tava lá na cozinha. Deixa pra lá. - Responde ele, um pouco impaciente.

Suzi resolve não insistir no assunto, mas fica pensativa.

Luca fica à beira do mar, sentado em uma pedra, vendo aquela linda paisagem das ondas na luz da lua. Seus olhos cansados de segurar as lagrimas. Giulia chega para conversar com ele.

- Eu sinto muito. - Diz ela de cabeça baixa, se sentando ao seu lado.

- Não é so ele sabe. Eu sinto que a minha vida tá sem proposito. Eu queria tanto estudar, eu abandonei tudo e fui pra escola, e eu consegui, e agora eu não sei mais o que fazer. Eu sinto que, eu tinha tudo, joguei tudo pro alto e vi tudo queimar, por conta de outra coisa que nem sei se faz mais sentido. Quer dizer, eu sou um hibrido Giulia! O que eu vou fazer agora? Faculdade? Ter um emprego? Viver entre os homens? Eu nem sou humano! E todos esses anos me escondendo... é tão doloroso me esconder, ter medo de, de a qualquer momento alguém perceber, que minha pele brilha azul e verde. Se o mundo souber de mim e do meu povo... eu nem sei, mas eu penso no pior. - Diz ele em um doloroso e profundo desabafo.

- Isso é tão difícil, e errado. Essa injustiça. Você tem escamas no mar, mas quando sai você tem uma pele como a minha, esse mundo é tão seu quanto meu. - Diz Giulia, se sentindo frustrada.

- E agora eu tenho que voltar aqui e ver tudo que eu perdi... tudo que eu perdi pra ter um mundo que me mataria se pudesse. O que foi que eu fiz? - Diz ele, com os olhos cheios de lagrimas, olhando para Giulia. Os dois se abraçam.

Pela paisagem, Luca consegue ver a pequena ilha com o farol ainda abandonado, que ele costumava ir com Alberto quando crianças.

- Eu preciso nadar. - Diz ele.

- Tudo bem. - Responde Giulia.

Luca vai em direção ao mar e mergulha, voltando a sua forma marinha. Ele nada através das ondas sombrias daquele mar noturno. Sem direção, mas quando percebe, está cada vez mais perto do farol abandonado, então ele vai para lá.

Chegando na pequena ilha, Luca se seca, voltando em partes para sua forma humana. O farol ainda está da forma que ele se lembra, de quando era criança. É um local abandonado, mas lindo. Ele vai em direção a torre do farol, e começa a subir nela. Sentindo o frio da maresia, sendo iluminado apenas pela luz da lua. Chegando no topo da torre, ele olha a cidade a distância, brilhando, com suas luzes noturnas. Ele consegue ver a casa de Massimo de longe, ainda em festa. Entrando mais na torre ele encontra a sala do farol do mesmo jeito que era quando ia lá quando criança, apenas um pouco mais desgastada. Entulhos e entulhos de coisas velhas e quebradas soltas pelo chão. Na parede, um pouco apagado pelo tempo, ele vê as marcas em giz que Alberto havia feito quando ficou lá sozinho, contando os dias, antes dos dois se conhecerem. O pôster de uma vespa no chão, ainda lá.

Luca sobe para a parte de cima, que não tem teto. Lá ele vê todo aquele mar em volta, e a cidade distante. Sem querer ele pisa em uma pequena pedrinha, e quando olha para ela no chão ele vê algo que provavelmente foi feito por Alberto anos atrás. Luca lê escrito no chão: "Silenzio, Bruno!", quando ele lê aquilo, ele fala também, e aquelas palavras o fazem lembrar de todo o tempo que passou com Alberto, e de todos os momentos que, juntos, tiveram coragem de seguir em frente sem desistir.

Luca olha novamente para a cidade, para a casa de Massimo, e diz:

- Eu não posso desistir. Silenzio, Bruno!