Capítulo 33 - Eu e minha boca grande

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Depois da festa, eu e Jackson fomos para casa juntos. Eu estava tão feliz pelo Delucca e pela Meredith. Eles mereciam finalmente resolver aquele "chove e não molha" entre os dois. Meu namorado também pareceu se empolgar com o que aconteceu. Talvez até um pouco demais, devido ao que ele falou em seguida.

— A gente poderia pegar um avião e ir casar em Las Vegas, o que acha?

Eu estava tomando uma latinha de Coca-Cola e quase engasguei ao ouvir o que ele falou. Las Vegas era conhecida por ter uma capela 24 horas onde qualquer um podia casar. A Britney fez isso com um amigo dela, senão me engano.

— Eu achei que você não tinha bebido hoje — Respondi tossindo por causa do líquido que bebia. Jackson riu.

— Qual é? É tão ruim a ideia de casar comigo? — Ele fez um biquinho e eu automaticamente levei as mãos ao seu rosto.

— Claro que não, meu amor! Eu super quero casar com você — Fiz uma pausa ainda tentando recuperar a postura depois de engasgar com coca — Mas são quase 23 horas da noite, como que a gente chega em Las Vegas assim?

— Bom, a minha família tem um jatinho particular.

— Nossa, às vezes eu esqueço de como você é rico — Falei baixinho e ele sorriu de lado.

— Não seria má ideia.

— Ah, claro que não! Parece que casar escondido é algo que você gosta de fazer, né?

Era para ser uma piada, mas saiu mais ácido do que eu planejei. Jackson se ajeitou no banco do motorista e tentou sorrir, mas percebi que ele ficou meio sem graça.

— É verdade, é uma ideia estúpida.

— Amor, não foi isso que eu quis dizer, eu...

— Deixa pra lá, tá tudo bem.

Seguimos o resto do caminho em silêncio. Talvez eu não precisasse ter feito essa piada de mau gosto, mas o Jackson não pode ficar repetindo os padrões dele em tudo. Eu quero casar com ele, claro que quero, mas não em Las Vegas, não no meio da noite e não sem as pessoas que a gente ama.

[...]

Uma semana se passou desde a conversa constrangedora no carro e Jackson estava meio distante. Ainda nos víamos e íamos juntos todos os dias, mas sinto que ele ficou um pouco receoso comigo. Claro, né? Eu fui uma tremenda idiota jogando aquela "brincadeira" no colo do meu namorado que estava empolgado como um Golden Retriever. Agora tenho que consertar essa situação. Era de tardezinha quando eu estava na sala dos médicos conversando com Meredith sobre o ocorrido.

— Quando Jackson e April se casaram naquelas circunstâncias, foi algo que ninguém esperou, claro. E infelizmente depois acabou dando muito errado. Eles se machucaram bastante antes de tudo terminar, então acho que trazer isso à tona pode ter gerado lembranças que o fazem sofrer.

— Eu sei, eu sei, mas eu não tive intenção, sabe? Não é como se eu quisesse humilhar ele ou coisa assim.

— Mas ele deve ter entendido algo tipo: "é isso o que você faz, né, Jackson? Toma decisões no impulso e depois dá merda".

Eu ri do jeito que ela imitou a voz de Jackson e ela olhou para mim com uma cara brava. Cancelei o sorriso e suspirei fundo.

— Você precisa dar um jeito nisso. Tem que tirar ele dessas lembranças. Jackson é igualzinho a mim: no primeiro sinal de fragilidade ele se fecha.

— Você tem razão. Parece que ele tá medindo todas as palavras que fala comigo.

— Claro, né, Camille? Depois de uma dessas — Eu me afundei mais ainda no sofá e liberei um gemido de tristeza.

— O que eu faço?

— Conversa com ele. Faz um jantar, sei lá. Você ajudou o Deluca com aquela surpresa, então deve ser boa nisso.

— Bom, teoricamente eu só dei apoio moral...

— Você entendeu o que eu quis dizer.

Nós duas rimos por um momento antes de sermos bipadas na emergência.

[...]

— Mulher, 23 anos, ingeriu meio frasco de água sanitária e alguns remédios, está vomitando sangue e com muita dor no estômago — Owen informou o caso da paciente.

— Ei, você, qual o seu nome? — Eu gritei para uma interna novata que estava por perto.

— Jessica Rivera — Ela respondeu com os olhos arregalados.

— Preciso que mande preparar uma sala para lavagem estomacal agora — Continuei falando em tom mais alto enquanto examinava a paciente. A interna estava petrificada ali vendo a mulher se contorcer de dor — O que você tá esperando? Vai lá!

— Sim, doutora O'live! — Ela saiu correndo da sala e espero que tenha ido arrumar o que pedi.

— A barriga da paciente está dura e inchada, acho que só uma lavagem estomacal não vai funcionar — Meredith pontuou enquanto apalpava a barriga da jovem que gritava ainda mais na maca.

— Calma, eu preciso que você se acalme. Qual o seu nome? — Perguntei à ela enquanto processava a informação que Grey me passou.

Ela agarrou o meu braço com muita força e me olhou com os olhos aterrorizados.

— Era a única forma de escapar deles, por favor não me deixe voltar pra lá.

— Eles quem? Com quem você mora?

A mulher tentou responder, mas começou a vomitar sangue novamente.

— Precisamos entrar na cirurgia agora! — Meredith falou e eu assenti. Nós duas empurramos a maca para fora da sala de trauma junto com Owen. Do lado de fora estavam os acompanhantes da jovem, os dois com olhares indecifráveis no rosto. Não era nem de longe uma preocupação com a saúde dela. Eles nem sequer perguntaram para onde estávamos levando-a.

Senti um calafrio quando os vi, mas rapidamente voltei minha concentração para empurrar a maca até a sala de cirurgia. No meio do caminho encontramos com Rivera, antes que ela falasse algo sobre a lavagem eu a interrompi.

— Ela está com um volume no abdômen e vomitando muito sangue, vamos ter que abri-la. Você vem com a gente.

— Mas... Tem certeza, doutoras? Muito obrigada!

— Não me faça mudar de ideia, vamos!

E corremos os quatro enquanto empurrávamos a maca com aquela jovem gritando e se contorcendo de dor. 

A nova chefe do TraumaOnde histórias criam vida. Descubra agora