Capítulo 9 - Vantagens de ser vizinha de um Avery

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- Carrega em 200! - Falei olhando fixamente para a tela de sinais vitais - Afasta!

Descarreguei a última tentativa, mas o paciente não reagiu. O bipe contínuo denunciava que ele tinha ido embora de vez. Era um jovem de 18 anos que sofreu um acidente de trânsito enquanto dirigia alcoolizado. Nessa época de fim de ano recebíamos muitos casos assim aqui no Trauma. É lamentável como a cultura de beber e dirigir é aceita pelos jovens.

- Hora do óbito 23h50. - Decretei saindo da sala e retirando o bata amarela de proteção. Fui até o balcão da emergência onde ficavam os atendentes e respirei fundo, apoiando o prontuário de James sobre a superfície de mármore.

- Você fez o possível. - DeLucca apareceu logo em seguida, me consolando com um afago nas costas. Ele tinha se tornado um amigo próximo.

- Eu sei. Tem ficado mais fácil com o tempo, mas ele só tinha 18 anos, sabe? Uma vida toda pela frente. Deviam ter mais responsabilidade com si próprios.

Balancei a cabeça tentando me concentrar pra ir dar a notícia aos familiares. Caminhei junto com Andrew até a sala de espera onde estavam a senhora Figgins, a irmã mais velha de James e seu noivo. Quando me viram elas levantaram apressadas.

- Você conseguiu salvar ele? - Perguntou Judy, que foi acionada pela mãe e veio correndo do seu jantar romântico, onde tinha sido pedida em casamento.

- Infelizmente não. Eu sinto muito. - Imediatamente a matriarca da família foi amparada pelos dois, que choravam muito. A mulher porém parecia estar anestesiada.

- Espere um minuto, doutora O'live. - Ela caminhou para mais perto de mim e me abraçou. - Muito obrigada pelo esforço. Eu tentei convencer James a não sair de casa hoje, mas ele não me ouviu. Parecia que eu estava sentindo, sabe? Nós mães sempre sentimos. - A voz dela falhou um pouco e eu então apertei o abraço. - Vai ficar tudo bem. Deus continua sendo bom.

Confesso que não esperava essa reação de uma mãe que perdeu seu filho de 18 anos. Enquanto ela me abraçava, olhei para Judy que estava abraçada com o noivo. Ambos choravam muito. A senhora Figgins agora me soltou do abraço e colocou as mãos no meu rosto.

- Agora eu preciso ser forte pela minha filha, assim como você terá que ser forte por outra pessoa também. Mas não desista, vai valer a pena!

Ela deu um sorriso e virou-se, voltando-se para seus parentes e acalmando-o. Eu estava surpresa com aquela mulher! Primeiro por que ela era extremamente forte e depois, o que ela queria dizer com eu ter que ser forte por alguém? Fiquei meio assustada com isso. Então eu e DeLucca saímos de volta para o Trauma em silêncio.

[...]

Estava deitada na sala de descanso quando Jackson chegou arrumando sua mochila. Eu estava esperando ele para irmos embora. Ele sempre me dava uma carona quando estávamos na mesma escala.

- Tá pronta? - Perguntou olhando para mim.

- Sim, vamos... - Respondi um pouco aérea ainda. Estava processando as informações daquela noite.

- Aconteceu alguma coisa?

- Sim, mas eu não vou contar por que você vai me chamar de doida, certeza.

- Mas eu já te chamo de doida, lembra? Você ficava performando Total Eclipse of the Heart enquanto lavava roupa. Então...

- Para a sua informação, eu sou uma exímia cantora que apenas não foi descoberta pelos olheiros desse país.

Ele riu. Estávamos caminhando para fora do hospital enquanto conversávamos. Jackson tem sido uma pessoa muito boa para mim. Ele sempre me ajuda com algum pepino da minha casa e também está sempre disposto a me emprestar uma xícara de açúcar no meio da noite quando eu decido fazer um bolo improvisado.

A nova chefe do TraumaOnde histórias criam vida. Descubra agora