Acabei de atender ao último paciente de hoje. Tive um dia cheio com consultas marcadas, mas nenhum caso de emergência. Menos mal. Eu vivia minha vida nesse hospital agora. Estava dormindo na sala dos atendentes, fazendo todas as refeições no refeitório e tomando banho no banheiro dos médicos. Como a família de Camille morava em Connecticut e ainda estávamos com as barreiras sanitárias, apesar de termos afrouxado um pouco mais o isolamento social, eu, Meredith e Teddy estávamos nos revezando em turnos para monitorá-la.
Fazia uma semana que ela estava em coma, totalmente desacordada. Sempre que eu chegava na porta do quarto, antes de abri-la, fechava bem os olhos esperando que a encontrasse sentada e sorridente, esperando por mim com aqueles olhinhos felizes. Mas eu sempre dava de cara com uma Camille sem vida, deitada na cama na mesma posição de sempre, branca como a espuma do leite. Desta vez, caminhei como sempre até seu quarto, mas não pude fazer o ritual da esperança já que a porta estava aberta e lá dentro tinha algumas pessoas que cantavam.
Meu coração acelerou e eu pensei que ela poderia ter acordado, ao mesmo tempo em que descartei essa possibilidade na medida que me aproximava do quarto. April estava lá. Ao lado dela estava Matthew e mais duas pessoas que não sabia o nome, mas sabia que eram da igreja que ela frequentava lá perto do prédio. Eu queria colocar todos eles para correr, mas sabia que Camille gostaria daquilo. Pensei por um momento onde April tinha deixado Hariet para que pudesse estar ali.
Eles cantavam um hino que falava sobre a maravilhosa graça de Deus. Eu franzia o cenho sempre que ouvia o refrão. Amazing grace, how sweet the sound, that saved a wretch like me… Bom, me parece que a graça dele não tá salvando a Camille, né? Me incomodei com tudo aquilo e saí do quarto. Ouvi passos atrás de mim e pensei que seria a Kepner, mas surpreendentemente era o Matthew.
Eu me encostei na parede de frente para o quarto e ele fez o mesmo, se encostando ao meu lado. Ele ficou em silêncio e achei isso estranho. Até que finalmente falou:
— Tem sido difícil, não é? — Fiquei surpreso com a sua pergunta. Confesso que não estou muito interessado em ser amigo de Matthew, visto que ele se casou com a minha ex-esposa, mas tendo em vista que eu a roubei do altar, acho que estávamos quites nesse sentido. Assenti com a cabeça. — Se Deus quiser, Ele vai curá-la. Não peço que entenda ou aceite isso, sei como dói. — Ele fez uma pausa. — Quando Kate faleceu eu sentia uma dor me dilacerando e demorei para entender a vontade de Deus, mas Ele foi paciente comigo. Deus caminhou comigo no meio do vale da sombra da morte.
— Davi que falou disso aí, né? — Dei de ombros sem querer aprofundar a conversa, mas sem querer ser rude. Lembro que Camille leu esse salmo quando ainda morava no meu apartamento. Algo sobre confiar em Deus mesmo nas piores circunstâncias.
— Isso. É o salmo 23. Ainda que eu andasse pelo vale da sombra da morte, não temeria mal algum, porque tu estás comigo; a tua vara e o teu cajado me consolam.
Eu queria murmurar um “que seja”, mas aquilo que Matthew disse mexeu comigo de alguma forma. Eu não saberia explicar como, mas sentia um sensação de descanso no meu coração. Aquilo me deixou confuso, então me apressei em mudar de assunto.
— Esses que estão aí são da igreja da Camille? — Falei apontando com o queixo para o homem e a mulher que agora oravam de mãos dadas com April.
— Sim, venha, eu vou apresentá-los.
Matthew disse isso no instante em que os três soltaram as mãos e nós entramos no quarto. O homem me parecia ter uns sessenta e poucos anos e a mulher parecia ser só um pouco mais nova que ele. Ambos já tinham alguns cabelos brancos na cabeça. Matthew nos apresentou:
— Pastor Phill, este é o Jackson, namorado da Camille. — Namorado? Aquela palavra me pareceu engraçada. Realmente, eu me sentia como namorado da Camille, mas eu não tinha feito o pedido oficial. Inclusive, tinha planejado, mas não tive tempo de executar. De qualquer forma, eu gostei de ser chamado de namorado da Camille.
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A nova chefe do Trauma
FanfictionDevido aos conturbados acontecimentos dos últimos meses, Owen Hunt precisou ser afastado do cargo de chefe do Trauma. Em seu lugar, chega a doutora Camille O'live, uma jovem médica cristã que mexe com a vida do cirurgião plástico Jackson Avery. Dura...