Capítulo 3 - O roomate temporário

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Finalmente o dia tinha acabado. Na verdade, até que foi bom. Serviu para que eu pudesse dar uma acordada e me situar de onde eu estou e do que que devo fazer agora. A Teddy foi essencial para tudo se acertar.

Bom, agora eu tenho um novo desafio: achar um lugar para ficar. Mas é claro que eu ainda teria que enfrentar a Amélia antes de ir embora. Com certeza. Ela estava acompanhada da filha da Ellis Grey, a Meredith, que sorria pra mim, o que foi bem estranho.

— Hey, Doutora O'live! — Meredith falou.

— Por favor, me chame de Camille.

— Camille, a Amy tem algo para te falar. — Olhei pra Amélia e ela estava de braços cruzados, revirando os olhos. — Vamos lá, Amy!

— Me desculpe por ter sido grossa com você. Eu ainda estou digerindo toda essa história com o Owen, tá bom? Não está sendo fácil pra mim.

— Eu sei, me desculpe se invadi o seu espaço também.

Ela me olhou intrigada de novo. Acho que toda vez que eu for educada com ela, ela vai desconfiar que estou tramando algo. Ficou um silêncio constrangedor até que a Doutora Shepperd se despediu e foi embora.

— Obrigada por entender. Ainda não fomos apresentadas, meu nome é Meredith Grey.

— Eu sei, a filha da...

— É, a filha da Ellis Grey.

Ela riu e logo em seguida saiu na mesma direção que a Amélia. Eu voltei para a minha busca até que o Doutor Avery entrou na sala. Eu estava deitada no sofá e vou presumir que ele não me viu, pois já chegou tirando a blusa.

— Ehh, com licença? — Pigarreei para ser notada e ele se assustou.

— Nossa, eu não te vi aí, me desculpe.

— Tudo bem, eu posso sair pra você se trocar.

— Não, pode ficar, não precisa.

Ele vestiu a camisa de volta e se sentou no outro sofá, mas antes passou no frigobar e pegou um iogurte de morango para tomar.

— Ouvi dizer que você era do grupo de médicos missionários que viajou para o Iraque.

— É, foi assim que conheci o Hunt.

Falei incomodada. Não queria lembrar do Iraque, nem das coisas que aconteceram lá. E eu também não queria lembrar do Owen por enquanto. Não até ter certeza que não o estou decepcionando.

— A minha ex-mulher também serviu por lá um tempo. — Revirei os olhos mentalmente. Quer dizer que depois de tudo que aconteceu hoje eu vou ser ombro amigo de homem com coração partido? — E agora ela viajou com esse grupo de médicos missionários que você fez parte. Ela e o novo marido dela.

— Pera, o quê? Quem são eles?

— April Kepner e Matthew Taylor.

— Espera, o Matthew casou? Que bacana! Eu torcia muito para ele se recuperar depois da morte da mulher dele.

Eu estava feliz pelo Matt. Ele tinha sido meu mentor quando estávamos nos preparando na conferência federal de missões. E depois sempre acompanhou os ex-participantes do programa. Avery, por outro lado, não estava muito feliz com a minha empolgação. Então recolhi o sorriso e abaixei a cabeça. Ele suspirou.

— Então você também é como eles.

Eu não entendi a colocação dele e acho que deu pra perceber pela minha cara. Ele então apontou para o pequeno pingente de cruz no meu colar.

— Ahhhh, sim, sou cristã.

Houve alguns minutos de silêncio constrangedor no ambiente. Jackson checou o celular algumas vezes e eu continuei a procurar bons hoteis para passar a noite. Eu precisava me certificar de que conseguisse uma logística boa tanto para vir para o hospital, como para ir aos cultos de alguma congregação.

Link apareceu pronto para ir embora. Estava trocado e com uma mochila nas costas. E não é que ele era ainda mais bonito sem farda?

— E aí, O'live, conseguiu achar o hotel? — Perguntou se encostando na abertura da porta. Suspirei.

— Ainda não. Tá complicado conciliar as opções. Se eu escolho o Seattle Host fico longe da igreja, se escolho o Downtown Seattle fico longe do hospital. Queria um meio termo.

— Eu queria poder ajudar, mas a minha casa mais parece uma república de caras, você não se sentiria bem. — Ele jura que me conhece, né? Sorri agradecida e ele se despediu.

— Aí — Jackson me chamou — Você pode ficar lá em casa enquanto acha um lugar. Não pode ficar morando em um hotel. Ao invés disso, procura um apartamento fixo.

— Na sua casa? Ah, não, eu não quero incomodar.

— A gente mal vai se ver. Estamos sempre trabalhando e outra coisa, é temporário. — Falou olhando para o celular. — Ah, e lá é o meio termo que você precisa agora. Tem uma dessas igrejas bem perto de casa.

— É muita bondade sua, mas eu dispenso.

— Tá bom! Você quem sabe!

xxxxx

Eu devia ter ouvido o Owen quando ele me disse que em Seattle chovia muito e do nada. Agora estou aqui toda encharcada, com as malas molhadas e nenhum táxi aparece pra me levar para o hotel. Mas é claro! Eu fiquei até uma hora dessas perdendo tempo em pesquisa idiota! Dez da manhã eu preciso estar aqui de novo e eu preciso muito dormir. Me ajuda, Deus.

Um carro preto parou na minha frente e a última coisa que me faltava era ser sequestrada pela máfia hoje.

— Vamos, entra logo. — Jackson falou abaixando o vidro. Eu ia recusar, mas já tava na merda mesmo...

— Acho que preciso de ajuda com as malas. — Tentei falar mais alto que a chuva mais não funcionou.

— O quê?

— As malas! — Gritei.

— Ah sim...

Ele saiu do carro e pegou as malas para guardar no banco de trás. Enquanto isso fui entrando. Encharquei todo o carro dele. Jackson entrou em seguida, igualmente encharcado. Fiz menção de falar.

— Vamos só ouvir a música e ir embora. — Ele instruiu.

— Ótima ideia!

Falei constrangida e me encolhi no banco. Na rádio estava tocando Can't Stop the Feeling do Justin Timberlake. A única coisa animada nesse veículo. 

A nova chefe do TraumaOnde histórias criam vida. Descubra agora