Meus olhos se mantinham fixos no teto. Minha respiração era lenta, eu ainda não conseguia respirar normalmente sem a ajuda do oxigênio hospitalar e provavelmente iria para casa com um tubo de oxigênio portátil. Mas, de qualquer forma, eu estava extremamente grata por ter conseguido acordar. Estava radiante pelas novidades que Jackson me contou e por tudo o que aconteceu a todos enquanto eu estava no coma. Deus me mostrou que eu não preciso lidar com tudo sozinha e que, mesmo enquanto eu estava fora do jogo, coisas boas aconteceram sem a minha ajuda.
Essa era uma grande lição para a senhorita supergirl aqui. Eu sempre achava que precisava me esforçar ao máximo em tudo e que qualquer coisa que eu deixasse de fazer instalaria o caos ao meu redor. Não poderia ser mais boba. Nesses três meses que estive fora de campo percebi o quanto estava sendo egocêntrica e controladora, mesmo que internamente. Foi bom para que eu entendesse de uma vez por todas que Deus tem os seus propósitos apesar de mim.
Nesse momento Amélia e Meredith entraram no quarto e me tiraram de meus pensamentos.
— Como pensamos, o resultado da tomografia não indicou nenhum problema mais sério, Camille. — Meredith falou.
— É normal que você sinta dificuldades com o equilíbrio quando começar a andar e a se movimentar novamente, mas iremos te receitar algumas sessões de fisioterapia e pilates para que você recupere qualquer coordenação motora que tenha sido prejudicada. — Amélia completou e então abaixou a grade do lado direito da cama.
— Link vai chegar em alguns minutos. Daqui a pouco eu passo aqui novamente. — Meredith disse e eu assenti. Ela logo se retirou.
— Vamos dar uma volta? — Eu perguntei para Amélia que ajeitava um tubo de oxigênio portátil em um suporte com rodinhas.
— Nós vamos. Pedi ao Link que estivesse presente, pois a gente vai te mover pela primeira vez depois de três meses. Não quero que nada dê errado.
Eu a olhei e seus olhos estavam cheios de preocupação comigo. Aquele carinho, que excedia o cuidado médico, fez com que meus olhos se enchessem d’água. Amélia era a última pessoa que eu imaginava ver por aqui quando acordasse. Segurei em um de seus braços enquanto ela passava pelo lado da minha cama e falei:
— Muito obrigada por tudo isso. — Ela sorriu ao me ouvir falar e colocou sua mão por cima da minha.
— Não por isso. Eu preciso me desculpar por ter sido tão rude com você quando nos conhecemos e…
— Deixe isso para lá. Eu entendo completamente que você estava ferida com a história do Owen, nem precisa se desculpar por isso, sério.
— Obrigada! — Seu rosto parecia mais tranquilo do que nunca, ela tinha um brilho e transmitia uma aura de paz.
Link entrou no quarto animado para a minha primeira volta.
— Quem está pronta para voltar a andar?
— Falando assim parece que eu estava paraplégica. — Falei rindo e Amélia me ajudou a sentar na cama.
— Minha querida, você estava praticamente tetraplégica deitada nessa cama por três meses. — Ele devolveu e ficou ao meu lado esquerdo, com Amy à minha direita, ambos me apoiando para que eu ficasse em pé.
Eu senti o peso sob minhas pernas e o primeiro impulso foi retroceder, com os joelhos dobrando, demonstrando claros sinais de fraqueza. Os dois se entreolharam e esqueceram que eu também era médica, achando que eu não estava entendendo o que acontecia.
— Estão atrofiadas por conta do desuso. — Diagnostiquei com a voz tranquila. Era comum que pacientes que retornaram do coma não conseguissem desenvolver bem as atividades motoras.
— Vamos tentar mais uma vez. — Link falou e então me ergueram mais uma vez. Novamente despenquei ao sentir o peso de meu corpo sob minhas pernas e fechei os olhos, deixando com que o desânimo me atingisse.
— Tudo bem. Vamos esperar mais um pouco. A partir de amanhã começaremos as sessões de fisioterapia, certo, Link?
— Sim, vamos reverter esse quadro, Camille, não se preocupe.
— O importante é que você não apresenta lesões significativas no cérebro, então sabemos que esse não é um dano permanente. Tente descansar.
Eu assenti e eles me colocaram novamente na cama. Nesse momento eu tive medo. E se eu não conseguisse mais sustentar o peso do meu corpo? Espantei esse pensamento me concentrando nas palavras de Amy. Não era um dano permanente, iríamos reverter o quadro.
Nesse momento Jackson entrou no quarto acompanhado de meus pais. Eles viajaram após serem informados que eu acordei. Tentei sorrir e parecer despreocupada, mas rapidamente o olhar de Jackson capturou meus receios, olhando em seguida para Amélia e Link.
— Acho que não chegamos em boa hora. Vocês estavam fazendo algum procedimento? Podemos voltar mais tarde. — Ele se apressou em dizer e meus pais assentiram.
— A doutor Link e a doutora Shepherd estavam tentando dar uma volta comigo, mas ainda não consigo me manter em pé. Provavelmente é uma atrofia momentânea por desuso mesmo. Vai ficar tudo bem. — Eu soei um pouco seca, mas tentei tranquilizar meus pais no fim da frase.
Terminaram de me ajeitar na cama e então os dois se retiraram, me deixando sozinha com Jackson e meus pais.
— Ah, querida, nós estamos tão felizes por ter acordado. Louvado seja Deus! — Minha mãe disse sentando-se na beira da cama e me abraçando.
— Sim. Nós oramos sem cessar pela sua recuperação. — Foi a vez de meu pai falar e ele já estava com os olhos marejados.
Eu tentei ser o mais simpática possível e mantive minhas preocupações distantes enquanto conversava com eles. Jackson estava sempre por perto me lançando olhares tranquilizadores. Por dentro, entretanto, eu me agonizava com medo de que aquilo tudo ainda fosse demorar para passar.
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A nova chefe do Trauma
FanficDevido aos conturbados acontecimentos dos últimos meses, Owen Hunt precisou ser afastado do cargo de chefe do Trauma. Em seu lugar, chega a doutora Camille O'live, uma jovem médica cristã que mexe com a vida do cirurgião plástico Jackson Avery. Dura...