Capítulo 34 - Você não pode ser minha nova April

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Essa situação com a paciente nova estava tirando o meu sono. Ela ainda não acordou da cirurgia, mas, por prevenção, não deixamos ninguém subir para vê-la. Eu estava de vigia perto da cama dela quando fui abordada por um senhor. 

— A senhora pode me dizer o motivo de eu não poder ver minha sobrinha? — Ele segurou no meu braço com mais força do que o necessário. 

— Como o senhor chegou até aqui? Poderia, por favor, me soltar? — Olhei para a sua mão em meu braço e ele assentiu, soltando-me. 

— Me desculpe, eu estou nervoso. Não me deixam vê-la. Ela está bem?

Analisei aquele homem de cima abaixo. Ele não me parecia cruel, mas odiei o jeito como ele me abordou. Eu precisaria ouvir a versão da paciente antes de liberá-lo para visitá-la. A polícia também estava à caminho. 

— Infelizmente o senhor não poderá vê-la nesse momento. Ela está se recuperando da cirurgia e não seria bom. 

— Mas não seria bom por qual motivo? 

— São ordens médicas, o senhor poderia, por favor, voltar para a recepção? Avisaremos assim que puder visitá-la. 

Ele torceu o nariz e a minha antipatia por ele cresceu. A contragosto ele se retirou e eu reforcei a segurança na frente do quarto da paciente. Eu precisava saber o que ela quis dizer com "era o único jeito de sair de lá". 

[...]

— Jackson, o que você vai fazer hoje à noite? — Perguntei alcançando meu namorado enquanto ele andava para a cirurgia. 

— Não tenho planos, amor. O que você tem em mente?

— Um jantarzinho lá em casa, o que acha?

— Estava pensando em ficar um pouco sozinho. — Ele ponderou. — Mas parece ser uma boa pedida. 

Percebi que ele se esforçou para aceitar e aquilo acabou comigo. Será que eu tinha estragado o nosso namoro? Queria virar para ele e dizer que não precisava mais ir, porém eu queria que ele fosse. Eu queria ter a chance de consertar isso tudo e dizer para ele que ele é mais do que seus padrões de relacionamento. Precisava desfazer aquela confusão que comecei. 

Então apenas assenti e o vi desaparecer no corredor, ignorando o nó na garganta que se formava. 

[...]

Vim para casa um pouco mais cedo para preparar tudo. Marquei com Jackson às 19h então ele deveria estar chegando. Mero engano. Deu 19h30, 20h, 20h30... e nada dele. Liguei para o seu celular umas três vezes e estava desligado. Deixei recado perguntando onde ele estava e, para minha surpresa, ele não me respondeu. 

A comida já estava fria quando, às 21h45, eu ouvi a campainha tocando. 

— Hey! 

A fala de Jackson estava enrolada e ele fedia à álcool. Eu não podia acreditar! 

— O que aconteceu, Jackson?

— Eu estou aqui agora, não importa o que aconteceu. — Ele falou com a voz embargada, parecia que ia chorar a qualquer momento. Ou vomitar. 

— É claro que importa. Estou há mais de duas horas te esperando. Você sequer me deu uma justificativa pelo atraso e chega aqui nesse estado. O que está acontecendo? 

— Eu estou fazendo merda como sempre, entendeu!? Como você deixou claro que eu sempre faço. 

— Eu não... 

— Eu matei um paciente. Ele morreu bem na minha mesa de cirurgia e eu não pude fazer nada para impedir. Ele morreu e a culpa é minha. 

— Jackson... Não é sua culpa. Essas coisas acontecem. Eu sei que é difícil, mas... 

— Não vem com essas palavras vazias para cima de mim. 

— Por que você está tão agressivo assim, Jackson? O que eu fiz??

— Você não fez nada... — Ele baixou a guarda e começou a chorar. — Eu que desmoronei com o seu comentário e não sei mais como me reerguer. Me sinto um pedaço de bosta. 

— Me desculpe, eu não deveria ter falado nada. 

— Mas você tá certa. Eu repito padrões e não queria estar fazendo isso com você. Você não pode se tornar minha nova April e é por isso que acho que devemos... Nós devemos terminar. 


A nova chefe do TraumaOnde histórias criam vida. Descubra agora