Capítulo 20 - Eu tenho um problemão com você!

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**Recadinho da autora**

Como vocês são uns amores, eu vou deixar mais um capítulo para vocês. Fiz com muito amor então espero que gostem. Tá tudo muito emocional por aqui, acho que vão gostar.

**Fim do recadinho da autora**

Jackson Avery PoV

Subi as escadas correndo assim que ouvi o burburinho de que Alex precisou entubar a Camille às pressas. Cheguei na ala onde ela estava e vi a movimentação em seu quarto. Consegui distinguir Karev, Grey e Jo Wilson ali. Me aproximei rápido e alguns enfermeiros e internos se afastaram. Entrei no quarto. Meu coração gelou quando eu a vi ali deitada, com um tubo respiratório saindo de sua garganta e a pele branca como neve. Engoli em seco, sentindo uma pontada de dor que embargou minha voz. 

— Então é verdade… — Falei baixo, como que para mim mesmo. Depois tossi para afastar as lágrimas. — O que houve, Karev?

— A saturação dela desceu no limite, Avery, não tinha outra alternativa. 

— Quando ela vai acordar?

— Acredito que assim que passar o efeito da anestesia. Grey estará aqui acompanhando-a, não se preocupe. 

Suspirei. Não podia fazer mais nada e aquela sensação de impotência me deixava irado. Eu queria socar a parede ou gritar ao céus o porquê aquilo estava acontecendo com ela. Ela que já tinha cuidado da Meredith, do DeLuca, do Webber… Da Edwards. Será que ela não tinha crédito nenhum com o seu deus que a fizesse ser poupada disso? 

Saí da sala rápido e fui em direção a cobertura do hospital. Precisava respirar e por pra fora essa agonia que estava sentindo. Karev me acompanhou, mas eu o impedi de seguir caminho comigo.

— Eu preciso ficar um pouco sozinho, Alex.

— Irmão, ela vai ficar bem. Eu sei que é uma barra, mas olha o Richard, ele conseguiu!

— É, mas a Stephanie não. — Nesse momento ficamos em silêncio. — Estamos empatados. Não queria que fosse Camille quem desempatasse isso.

— Nós vamos vencer essa batalha, Avery. Isso vai passar. 

Ele me olhou com firmeza e apertou minha mão, me puxando para um abraço logo em seguida. Senti vontade de chorar ali mesmo, mas vi quanta gente estava me olhando em volta e tentei segurar. 

— Ela vai acordar logo, né? — Perguntei me soltando do abraço. Alex assentiu e eu continuei andando após me despedir dele. 

Quando cheguei ao telhado do hospital pude ter uma vista ampla da cidade. Estava de noite e as estrelas brilhavam ao redor da lua nova. Fechei os olhos e respirei o ar gelado enchendo os meus pulmões. Me dei conta de que Camille agora tinha dificuldades até para realizar esse simples ato de respirar fundo. Céus! Andei um pouco de lá para cá antes de soltar um grito que pretendia aliviar a dor. Não deu certo. 

Eu estava bravo. Eu estava realmente bravo com Deus. Será que eu não posso ter nada bom por um mísero tempo sequer? Não é possível que depois de ter passado por tanto sofrimento nos últimos dois anos eu não tenha direito a um pouco de felicidade! É cansativo viver levando porrada da vida. Primeiro eu perdi o meu filho e aquilo foi como se uma faca rasgasse o meu coração. 

— Você sabe a dor de perder um filho? — Esbravejei para os quatro cantos, mas ao meu redor só havia silêncio. 

Perder o Samuel foi o começo de toda a miséria que se seguiu. April me deixou, casou com outro, minha mãe teve câncer.. Será que não é dor suficiente ou eu ainda preciso sofrer mais? Estou pagando pelos meus pecados? E qual pecado tem a Camille? Tudo o que ela fez a vida inteira foi ajudar os outros e agora está lá, sem ao menos conseguir respirar sozinha. 

— Eu tenho um problema muito grande com você! Onde quer que você esteja, saiba que eu tenho um problemão com você! — Esbravejei gritando aos quatro cantos. 

Nessa hora eu me dei conta do que estava fazendo. Eu estava no telhado do hospital brigando com Deus. Brigando com um ser que eu nem sei se existe ou não, mas que foi o primeiro que eu pensei em falar. Eu achava que ele me devia alguma coisa e, bom, se ele existe mesmo ele me deve muita coisa. Mas eu não vou perder o meu tempo com isso. Preciso me recompor. Preciso descer e ir ficar com a Camille. Não vou perder tempo com historinha de criança. 

[...]

— Você disse que ela acordaria… — Falei para Alex quase sussurrando e sentindo as lágrimas escorrerem por meu rosto. 

— Jackson… — Meredith interviu. — Todos nós achávamos que ela iria acordar rápido. 

Eu, Meredith e Alex estávamos no quarto de Camille. Fazia três dias desde que Karev a entubou e até agora ela não demonstrou nenhum sinal de que está reagindo. Estava sendo alimentada por meio de uma sonda, assim como também fazia suas necessidades através de outra sonda. Os sinais vitais eram estáveis, mas ela permanecia desacordada. A essa altura já tínhamos um quadro de coma em mãos. 

Karev mantinha a cabeça baixa. Sabia que estava sendo injusto com ele e então falei:

— Me desculpe por isso, Alex. Eu estou nervoso, você não tem culpa. — Ele assentiu com a boca em linha reta e os ombros murchos, saindo do quarto em seguida. Meredith foi atrás dele. 

Olhei para Camille. A alegria e energia que eu sempre via nela sumiram. Eu só sabia que ela estava viva pois observava seus sinais vitais nos aparelhos. Sua pele estava mais branca do que o normal e os cabelos negros amarrados dentro de uma touca de algodão. Sentei ao seu lado na cama e segurei suas mãos. Tenho vindo aqui sempre que posso, mas cada vez fica mais difícil conter o choro quando estou perto dela. É difícil demais vê-la assim, sem nenhum sinal sequer de recuperação. 

Neste momento Richard entrou no quarto. Já estava de volta e, mesmo que em um ritmo mais lento, ajudava Meredith a tocar o hospital. Ao lado dele estava Owen Hunt, o que muito me admirou. Ele estava vestido com o uniforme azul escuro dos atendentes e eu me admirei mais ainda. Olhei para os dois confuso e ambos se aproximaram. 

— Doutor Hunt vai assumir o trauma provisoriamente com a supervisão da doutora Teddy Altman. — Richard explicou. 

— Jackson, como ela está? — Hunt perguntou sentando no outro lado da cama e segurando a mão de Camille. 

— Estável, mas inconsciente ainda. Não sabemos como isso evoluiu tão rápido e também ainda não conseguimos descobrir o motivo do coma. Os pulmões estão comprometidos, mas com a entubação e os ventiladores ela poderia está se recuperando de forma consciente. 

— É tudo um plano de Deus… — Eu não estava acreditando no que ouvia. Como assim um plano de Deus? E desde quando Owen virou alguém que acredita em Deus? Isso é algo que ensinam na reabilitação para o viciado ter mais chances de sair do fundo do poço?

Parecia que ele podia ler meus pensamentos quando deu um sorriso triste de lado. Ele tocou meu ombro e levantou dizendo:

— Vamos tomar um café qualquer dia desses. — Eu assenti, mas só conseguia pensar em suas últimas palavras. 

— Doutor Avery você tem um caso na sessão de queimados. — Jo Wilson apareceu na porta do quarto e só então percebi que não estava com meu page. 

— Já estou indo. 

Richard, Owen e Wilson foram embora e me deixaram sozinho com Camille. 

— Fica bem, tá bom? Mais tarde eu volto, meu amor. — Beijei o topo de sua cabeça e me afastei, descendo de elevador para a sessão de queimados.

A nova chefe do TraumaOnde histórias criam vida. Descubra agora