Capítulo 13 - Não conseguimos salvar um dos nossos

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**Recadinho da autora**

Oi, gente, mil perdões pela demora, mas estamos no meio de uma pandemia e tá difícil, não é mesmo? Espero que estejam se cuidando. Obrigada a todo mundo que comentou! De verdade. Vocês me incentivaram a voltar.

Um cheiro.

**Fim do recadinho da autora**

Um mês e meio havia se passado desde que identificamos os dois primeiros casos do Vírus aqui no Grey Sloan. Muita coisa aconteceu desde então e nós estamos extremamente esgotados a cada dia. Tem sido uma rotina desgastante para todos e consideravelmente mais preocupante para alguns. 

Meredith e Andrew testaram positivo e precisaram ficar quase vinte dias em isolamento em casa até serem liberados. Nesse período, os filhos de Grey ficaram com Amélia, que precisou se dedicar a isso integralmente, já que a creche do hospital foi fechada temporariamente. A clínica onde Owen estava internado precisou tomar a decisão de quais pacientes receberiam alta e quais deles permaneceriam internados. Hunt foi um dos que teve sua liberação autorizada. Decidiu ajudar Amélia a cuidar das crianças e depois de muito insistir, ela permitiu sua estadia na casa, mas deixou claro que isso não significaria uma volta na relação dos dois. 

Edwards também testou positivo e acabou tendo complicações em seu quadro de saúde, por causa de seu histórico com a doença falciforme. 

— A cada dia que passa ela fica mais fraca, Jackson. Estou perdendo uma das minhas melhores residentes e uma das poucas amigas que fiz nessa cidade. O que há de errado? Por que ela não melhora? — Lembro de questionar meu amigo em um dos momentos de maior fragilidade durante essa crise. 

Alguns dias depois Stephanie não conseguiu mais lutar e veio a falecer. A equipe inteira ficou desolada. Eu, principalmente. Em pouco mais de três semanas a vi definhar em cima de uma maca de hospital e me senti completamente impotente. Salvamos a vida de centenas de pessoas que passaram por ali, mas não conseguimos salvar a vida de um dos nossos. A minha sorte e ajuda para segurar as pontas foi que Deus providenciou a cura de Meredith e ela retornou às atividades no mesmo momento em que Edwards partiu. 

Ela assumiu algumas de minhas tarefas como líder da equipe que estava na linha de frente desse tormento e me obrigou a tirar um final de semana de descanso depois de tudo aquilo. Fiz isso logo depois do enterro de minha amiga e Jackson me ajudou a colocar a cabeça no lugar durante esse período. 

A pandemia tinha nos aproximado ainda mais. Lembro que dirigíamos até o prédio em silêncio, sem querer falar sobre o dia que se passou e sobre toda essa loucura no hospital. O silêncio não era estranho nessas horas, era reconfortante para nós dois. Era um ponto de paz no meio do caos. Em alguns dias ele aparecia na porta do meu apartamento com uma lasanha congelada para dividirmos e me fazia companhia nos dias onde a insônia batia forte. 

Toda a cidade estava em isolamento social por causa do Vírus e as igrejas também estavam fechadas. Fecharam um pouco depois de quando eu comecei a frequentar uma próxima do prédio. O pastor Phill era um homem muito atencioso e sua esposa Darlene era uma mulher extremamente amorosa. Os dois me ligavam frequentemente para saber como eu estava, principalmente depois da morte de Edwards. Porém eu sentia muita falta da comunhão com os irmãos. Sentia falta de ir até o templo e entoar louvores e às vezes sentia que minha fé se abalava com os últimos acontecimentos. 

Porém, durante aquele final de semana de descanso, consegui me conectar com Deus novamente. Chorei muito e contei para Ele todas as minhas dificuldades. Ele me deu a paz necessária para continuar. No domingo a tarde, quando estava terminando de fazer meu jantar, ouvi batidas na porta. Sabia que era Jackson já que estávamos impossibilitados de receber visitas. 

Abri a esquadria com um pequeno sorriso, mas ao ver seu rosto logo voltei a ficar séria. Ele estava preocupado. Fiz sinal para que entrasse e me afastei dando espaço para ele passar. 

— O que houve? — Me arrependi de ter perguntado logo quando ele respondeu. 

— É o Richard, Camille. — Meu coração errou as batidas. — Ele se sentiu muito mal hoje de manhã e precisou ser internado. 

— Em leito comum? — A negativa de Avery me deixou de pernas fracas. 

Hoje então faz quinze dias que o doutor Webber está internado na UTI sem apresentar melhoras em seu quadro de síndrome respiratória aguda, oriundo do Vírus. Ele não apresentou sintomas inicialmente, mas quando desabou já estava em um estágio avançado de infecção. Seu pulmão estava bem comprometido e nós já tínhamos precisado reanimá-lo duas vezes. 

Olho ao redor e vejo o caos em que nosso país está vivendo. Quer dizer, o caos em que o mundo está vivendo. Ao mesmo tempo em que me alegro a cada pessoa que receitamos alta. Naquele momento vivíamos um dia de cada vez, sem saber o que esperar no outro dia e isso era assustador, mas também nos ajudava a valorizar as pequenas conquistas. 

— Owen e Amélia ainda estão com você, Mer? — Perguntei enquanto almoçávamos na sala dos médicos. 

— Eles têm sido minha salvação. Não sei como daria conta de estar aqui a frente junto com você e ainda cuidar de três crianças em tempo integral. — Ela suspirou. — A Amy estava um pouco abatida no começo, por causa do fechamento temporário da neuro, mas acredito que agora ela tá tão envolvida que quando voltar vai ser difícil se acostumar. — Nós rimos. 

— E a relação deles dois? 

— Agora eles não se mordem mais. — Ela gargalhou. — Estão até se tratando de forma carinhosa, mas não sei se consigo visualizar a volta dos dois. Ambos se machucaram muito. 

— Bom, eu não sei, mas Deus pode fazer nova todas as coisas. — Falei olhando para ela de forma despretensiosa. Sabia que Meredith não era lá grande fã de Deus. 

Ela deu de ombros e voltou a comer. Jackson entrou na sala e com um suspiro se jogou no sofá. Nós tínhamos instalado um compartimento de desinfecção na entrada da sala dos médicos e sempre que entravámos precisávamos fazer a higienização. 

— Estou cansado desse Vírus. 

— Somos dois. — Meredith disse levantando o garfo e apontando para ele. 

— Três. — Eu complementei. 

Fizemos silêncio por um tempo e logo depois Jackson falou:

— Richard está estável. Não apresentou nenhuma melhora nem nenhuma piora. Tá na mesma. Minha mãe não para de chorar e sempre que liga lamenta os aeroportos estarem fechados. — Ele comentou, sabendo que nós estávamos ansiosas para ter notícias do doutor Webber naquele dia. 

— Deve ser muito difícil para ela se manter distante. — Comentei. — Especialmente para Katherine. 

— Pois é. E ainda mais ela está em Nova Iorque, o foco da pandemia aqui nos Estados Unidos. Eu fico preocupado demais. — Ele lamentou. — Mas ela está se cuidando. 

A equipe do hospital não podia mais sofrer desfalques naquela altura do campeonato e todos os que podiam ajudar, estavam sendo posicionados na linha de frente. Além dos primeiros médicos que adoeceram e de Edwards e Richard, alguns enfermeiros de nossa equipe também se infectaram, mas nada grave até o momento. 

Precisávamos nos manter juntos e sãos. 

A nova chefe do TraumaOnde histórias criam vida. Descubra agora