Capítulo 36 - Samantha Watson

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Foi muito difícil resistir à Jackson na noite passada. Tive que colocá-lo para fora na maior correria por que senão ia dar merda. Respirei fundo lembrando do beijo e fui obrigada a tampar a boca para não deixar um suspiro escapar. Estava de volta ao hospital para conferir o caso da paciente que tentou suicídio. Ela finalmente tinha acordado. 

— Você pode nos dizer o seu nome? — Perguntei com a caneta e o papel na mão. 

— Ele está aqui, não está? Vocês não podem deixá-lo chegar até mim. Por favor, eu imploro. 

— Ele está, mas não o deixaremos subir. — Garanti. — Porém eu preciso saber o seu nome e o motivo pelo qual está com tanto medo. 

Ela suspirou e fechou os olhos com força, agarrando as mãos nas grades da cama. Eu observava a cena com um aperto no coração. Seja o que for que aquela garota tivesse passando, aquilo era muito para ela. 

— Meu nome é Samantha. Samantha Watson. O homem que está aí embaixo é meu avô e me mantém em cárcere privado desde o final do ano passado. Ele não me deixa sair e me mantém trancada em um quarto no porão. Isso tudo começou depois que ele soube que eu planejava fazer faculdade fora. Ele não me bate ou me violenta, mas não me permite viver. 

Aquilo tudo era muito brutal e nós precisávamos fazer alguma coisa, porém a polícia estava demorando. 

— Nós estamos esperando os policiais chegarem. Precisamos também falar da sua situação de saúde, Samantha. Você ingeriu uma quantidade significativa e muito tóxica, precisará fazer um tratamento no estômago. 

Ela assentiu, parecendo não se importar com sua situação médica. Neste momento batidas na porta nos interromperam. 

— Com licença. Doutora O'live? — Um homem alto de uniforme policial se dirigiu a mim. Eu confirmei, estendendo a mão para cumprimentá-lo. — Será que podemos ter um momento a sós com a... 

— Samantha. — Respondi rapidamente. 

— Ótimo. Podemos?

— Claro, estarei aqui fora. 

[...] 

A prisão daquele homem foi a coisa mais bizarra que vi durante a semana. Ele se debatia e gritava que era inocente, sem querer cooperar com a polícia. Fez todo um escarcéu para não ser levado, mas não adiantou. Foi preso e provavelmente não sairia impune deste crime. 

— Dia difícil? — Jackson chegou de repente, observando a cena que o senhor fazia. 

Suspirei. 

— Um horror, viu? Que cena lamentável. Os parentes deveriam ser como uma espécie de porto seguro e não... isso. 

Ele me acariciou o ombro e beijou a minha bochecha. 

— Que tal esquecer isso com um jantarzinho hoje à noite? Topa?

— Desde que não seja na minha casa ou na sua...

— Ops, te devo desculpas pela noite anterior. 

Eu o puxei de lado e falei mais baixo. 

— Você entende que é importante para mim não termos intimidade agora?

— Entendo sim, meu amor. Me desculpe por ultrapassar os limites. 

Eu sorri. Ele era insuportavelmente lindo. Golpe baixo. 

— Mas, me fale sobre esse jantar... 

— Ah, eu pensei em ser lá onde foi o nosso primeiro encontro. Na pizzaria. 

— Calma lá, ali não foi encontro nenhum. 

— Ah, claro que foi, larga dessa. 

Ele gargalhou e me puxou para um abraço, beijando o topo da minha cabeça. Nos soltamos quando vimos a doutora Bailey caminhando em nosso encontro. 

— Os pombinhos podem parar com esse lenga-lenga e se moverem para ajudar a emergência? 

Ela revirou os olhos e entregou duas pranchetas com casos para cada um de nós. 

— E lá vamos nós!

Nos despedimos e continuamos a trabalhar. 

 

A nova chefe do TraumaOnde histórias criam vida. Descubra agora