Capítulo 2 - Isso não é sobre você!

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— Quando ia me contar que já estava aqui? — Ouvi a voz e sorri por finalmente escutá-la.

— Ai, tem sido um pesadelo desde que eu cheguei, Teddy, eu nem sei se eu deveria ter aceitado isso aqui.

— Era o que o Owen queria.

Ela veio em minha direção e me abraçou. Era bom vê-la. Eu não a via desde que voltei da missão e os dois continuaram no Iraque servindo. É uma longa história, mas, para resumir: eu fiz uma viagem missionária para um povoado isolado do Iraque quando estava no último ano do internato e lá conheci a Altman e o Hunt, durante um ataque que eles ficaram feridos e eu precisei substituí-los às pressas, pois era a única médica disponível naquele lugar.

Isso me fez a substituta oficial do Owen.

— Depois que voltou da viagem, o que fez da vida? — Teddy perguntou interessada, me puxando para sentar na sala dos atendentes.

— Eu fiquei bem impactada com as coisas que eu vi lá e então precisei colocar a cabeça no lugar. Desisti das provas do quinto ano e meio que tirei um semestre sabático para me recuperar.

— O certo não é um ano sabático?

— É, mas nós podemos nos ajustar de acordo com a necessidade. — Nós rimos. — Depois disso me mudei para Nova Iorque e trabalhei por um tempo no hospital do Brooklyn, até ser transferida para a nova filial da rede no Brasil.

— Brasil? Que loucura! Você dançou carnaval? — Olhei pra ela com um olhar sério. — Me desculpe, continue.

— Não me adaptei aos trabalhos no hospital. Era um lugar enorme em São Paulo, mas parecia sem vida e isso não é um trocadilho com o índice de mortalidade da cidade.

— Mas se isso foi em 2015, o que você fez depois disso?

— Ah, depois disso eu me dediquei à pesquisa. Fiquei ainda no Brasil até reunir um grupo de médicos para estudar doenças tropicais. Com o incentivo que recebemos nós pudemos montar um laboratório e um centro médico para atender as pessoas afetadas.

— Então não tem mais trabalhado com trauma desde então?

— Não e é por isso que eu tive tanto receio em aceitar o pedido do Owen. Eu acho que estou enferrujada e olha, logo no meu primeiro dia eu perdi um paciente do trauma.

Nesse momento Link entra pela porta mastigando uma maçã e se joga no sofá, suspirando fundo. De onde ele sai toda vez?

— Eu já falei que você não tinha como saber, Camille... — Camille? Agora somos íntimos é? — Teddy, como vai o Henry?

— Ah, muito bem, o tratamento tem melhorado. Obrigada por perguntar, Link.

O biper da Altman começou a tocar como um louco. Era da emergência. Que estranho, por que não me biparam também? Coloquei a mão no bolso procurando meu aparelhinho, mas percebi que não estava com o meu. Droga!

— Estão me chamando na emergência, parece que uma mulher sofreu uma parada cardíaca após ser jogada por amigos em uma piscina, também com sinais de afogamento.

— Eu vou com você.

Levantamos e corremos juntas para verificar o caso.

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Quando entramos na sala a Doutora Bailey estava com o carrinho de ressuscitação e a paciente fibrilando.

— Um, dois, três... Afasta! — Os batimentos soaram fraquinhos. — Temos pulsação.

— Como está a situação dos pulmões? — Perguntei.

— Doutora Camille, onde estava? Nós bipamos você e nenhum sinal. — Bailey perguntou com respeito, mas ainda com um tom intimidador.

— Eu não sei onde meu biper foi parar... Eu...

— Ela estava comigo, eu que a atrapalhei. Mas agora chegamos. Quero que agendem uma sala de operação agora. — Teddy disse enquanto examinava os sinais vitais da paciente.

— Doutora, ela estava numa reunião de amigos do colégio que começaram a caçoar dela por que não queria entrar na piscina e um deles a jogou. Eles disseram que não teve tempo para afogamento, mas que ela ficou inconsciente segundos depois que a jogaram. Acredito que engoliu muita água, mas ainda assim não justifica... — Uma interna loira de cabelos meio compridos começou a falar, mas foi interrompida pela paciente nos deixando novamente.

A Doutora Bailey estava pronta para usar o desfibrilador quando eu intervi.

— Espera! Ela está tendo um choque anafilático! Prepara 30mg de adrenalina agora! — Gritei e logo me passaram a injeção, eu apliquei direto no coração e os sinais estabilizaram.

Assim que entrei tinha observado as manchas vermelhas por todo o corpo da paciente e como seus olhos estavam inchados. Ela tinha entrado em contato com uma substância que tem alergia e isso em grande escala.

— Quero um hemograma que teste intoxicação por cloro de piscina e também um raio-X do pulmão. Ainda precisaremos de uma sala de operação, mas só pra um procedimento simples de lavagem. Ela vai ficar bem.

Saí da sala me tremendo. A visão tava turva e eu nunca estive tão fraca das pernas. Corri para um banheiro próximo e vomitei na pia. Teddy entrou logo em seguida.

— A chefe do Trauma não vomita escondida em banheiros.

— Ah, ela vomita na frente de todo mundo na sala do Trauma? — Perguntei mais alto do que gostaria. Ela se assustou.

— Camille...

— Isso foi uma loucura! Claramente você quem deveria ser a chefe do Trauma, eu... Eu não sei no que o Owen estava pensando. Eu não sou qualificada para isso. Quase travei naquela sala.

— Mas foi pela sua percepção que conseguimos evitar uma cirurgia desnecessária.

— Teddy, eu não posso, vou falar com o Doutor Webber. O Owen vai me entender.

— Não! — Ela gritou e agora eu que me assustei. — Você não vai desistir. E o Owen não vai entender! Ele está passando pelo momento mais difícil da vida dele e todos nós estamos sofrendo e sentindo a falta dele sim, mas ele precisa fazer isso. E você também.. Você é excelente, Camille! Nós já a vimos fazer uma cirurgia de peito aberto no meio do nada usando uma gilette de bisturi. Sem equipamento nenhum, com tudo improvisado. Você consegue! Precisa colocar esse medo de lado. Isso não é sobre você!

Eu estava chocada com esse despejar de palavras da Teddy. Parece que ela tava bem, mas pelo jeito acredito que tudo isso também a abalou. Caminhei para perto dela e a abracei forte. Ela retribuiu. Eu estava com medo, mas ela estava certa. Isso não é sobre mim. 

A nova chefe do TraumaOnde histórias criam vida. Descubra agora