CUATRO

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28 de agosto, quinta-feira

Frankly, my dear, I don't give a damn.

Sina Deinert

Mamãe colou o papel da suspensão na minha porta quando o garotinho foi embora da nossa casa. Passamos a tarde inteira no sofá, meu pai e minha mãe revezavam entre brigar com a gente e nos deixar em um silêncio ensurdecedor por longos minutos. Não deixaram que eu ficasse com Sammy! Ele ficou o dia inteiro preso na parte de trás da casa. Acordei de manhã mas não senti vontade de sair da cama, a briga no refeitório e as broncas ainda estão ecoando na minha cabeça. Não gosto de me sentir assim.

— Três dias de suspensão, filho- Sammy quase cai da cama enquanto tenta alcançar seu brinquedinho que eu estou segurando, não consigo evitar sorrir— Fica comigo, amigão. Já que eu provavelmente não vou socializar com as pessoas tão cedo.

— Sina‐ a voz do meu pai me faz sentar na cama, ele não demora para abrir a porta e entrar no quarto— desça, seu castigo está te esperando na sala.

Ele me encara por alguns segundos, tento continuar o encarando mesmo enquanto Sammy mordia minha mão. Papai parece estar tentando me dizer alguma coisa, mas nós não somos íntimos o suficiente para descobrir o que é sem que ele precise falar.

Eu faço isso com a mamãe e até com o... garotinho, mas não com o meu pai. Depois que ele olha para o chão e sai do quarto, tomo um banho rápido e visto um macaquinho branco e deixo meu cabelo solto, adoro como ele é fácil de cuidar estando curto.

— Vamos lá, amigão?- Sammy late— Eu também acho, mas não posso fazer nada.

Desço as escadas com o cachorrinho ao meu lado, mal chego na sala e consigo ouvir a risada da minha mãe se misturar com a risada de tia Wendy. Termino de descer e vejo elas sentadas na mesma poltrona, abraçadas como se estivessem tentando virar um só ser. Ah, também vejo o garotinho olhando as fotos que estão pregadas na parede, mas olhar para mamãe e sua melhor amiga é muito melhor, então volto a fazê-lo até que elas notem a minha presença.

— Bom dia!- dizem juntas e mamãe sorri abertamente. Tiro uma foto mental da cena.

— Bom dia! Por que meu pai disse que meu castigo está aqui?

— Porque hoje- tia Wendy beija a cabeça da minha mãe e se levanta— você e Noah vão trabalhar no vinhedo!

Com a mesma empolgação que anuncia isso, ela coloca um chapéu de palha bem bonito na minha cabeça e joga um boné preto para o seu filho. Mamãe e tia Wendy começam a rir, provavelmente das caras que o garotinho e eu estamos fazendo. Ele se posiciona ao meu lado, não sem antes empurrar meu joelho por trás e me fazer perder o equilíbrio. Dou um tapa em seu braço e ele coloca o dedo no meu ouvido.

Irritante ao extremo...

— Pelo amor de Deus, parem com isso!- Wendy fala olhando para cima— Vocês dois vão me escutar durante o caminho, é inadmissível que dois quase adultos  levem suspensão por brigar no refeitório da escola.

— Eu já falei que não foi culpa minha‐ diz o garotinho e eu rio.

— Ah não, e a culpa de você ser um completo imbecil é minha?- cruzo os braços e o encaro.

Ele só não responde porque minha mãe começa a tossir, assustando a todos nós. Sammy estava brincando com ela e derrubou seu aparelho respiratório, mas mamãe não arrumou. O garotinho corre até mamãe e a ajuda a recolocar os fios no nariz dela, enquanto isso eu estou estática, não consigo nem respirar. Mesmo quando ela volta a respirar normalmente, ainda estou travada no lugar.

Until the last danceOnde histórias criam vida. Descubra agora