VEINTICUATRO

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13 de outubro, domingo.

Aconteça o que acontecer amanhã,
ou para o resto da minha vida,
agora estou feliz porque te amo.

Sina Deinert

Tirei o final de semana para ficar sozinha. Na verdade, não foi exatamente uma escolha minha. O garotinho não apareceu ontem, depois que foi embora nem me mandou mais mensagens. Não sei se é por causa do beijo ou se ainda está triste, mas deixei ele quieto mesmo assim. Ontem fui na garagem e tentei encontrar um fechadura nova, mas eu não conseguiria trocar, então desisti. Essa agonia de ficar em casa sem saber se meu pai vai aparecer está me matando, isso é chato.

— Ah, meu Deus!- ouço Any gritar, olho para trás e vejo ela correr até mim— Sammy! Eu senti muito sua falta!

Corrigindo: correr até o meu cachorro. Ela abraça meu amigo canino e brinca com ele um pouco, até que elas se aquietam e minha amiga senta ao meu lado. Conto que vim tomar um ar e ela me diz que veio gravar um vídeo cantando. Ela é ótima nisso, mas nunca canta em público. Não sei por que, se eu tivesse a voz dela nunca ia parar de cantar. Ainda bem que Deus não dá asas a cobra, eu seria um nojo. Any não, ela é humilde e gentil.

— Quer tomar café comigo?- ofereço. Não quero comer, mas talvez Any aceite por pena de mim e então posso obrigar ela a comer.

— Eu já comi- cerro os olhos para ela— Não, de verdade, já comi. Meus primos estão lá em casa e nós fizemos um café da manhã caprichado. A propósito, quer ir lá? Nós somos bem animados, vai te fazer bem.

— Não, obrigada.

— Você tem ficado muito sozinha...

Ah não, lá vamos nós.

— Olha, eu sei que você lida com a dor de um jeito particular, nós estamos respeitando isso e eu não quero te deixar brava. Mas você precisa de alguém, Si. Heyoon, eu, tanto faz. Eu odeio estar em algum lugar e pensar que você está sozinha, isso não é bom pra você.

Queria dizer que eu não estou sozinha o tempo todo, muito pelo contrário, se tem uma coisa que o garotinho não me permite fazer é ficar sozinha. Seria estranho e ela faria perguntas, e então eu não teria nenhuma resposta, aí ela ia ficar brava e chamar a Heyoon. O fim da história seria com elas duas bravas comigo e eu me sentindo culpada. Espero que Any termine de mostrar o quanto se importa comigo para poder tranquilizá-la. Falo a verdade.

Bom, pedaços dela.

— Eu vou ficar bem. Estou... É muito difícil não ficar brava, mas eu estou melhorando. Já não tenho mais vontade de gritar com Deus nem fico me perguntando por que isso aconteceu com ela, ou comigo. Com a gente- respiro fundo, Any segura minha mão— Não estou sozinha. Wendy e Marco sempre estão perto, os professores na escola e vocês... Estou bem, Any. Bom, não me sinto ótima, mas estou dançando ainda.

— Dançando?- minha amiga sorri— Sua vida é uma dança agora? Isso parece legal.

— É uma perspectiva diferente- sorrio ao lembrar da minha conversa com o garotinho— Tenho experimentado várias para não desistir de ficar aqui, essa fez mais sentido.

— Gostei disso.

— É o que tem me salvado.

— Agora eu gosto mais.

Eu também. Gosto disso e o dono da perspectiva. O garotinho tem me ajudado muito, mas depois do beijo de sexta, as coisas com certeza mudaram entre nós. Ainda não sei como vamos ser daqui pra frente, se ele vai embora ou vai ficar, se eu vou conseguir ficar...

Until the last danceOnde histórias criam vida. Descubra agora