QUINCE

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20 de setembro, sábado.

Três coisas que não podem ser
escondidas por muito tempo:
o sol, a lua e a verdade.

Sina Deinert

Minha mãe morreu no começo do outono.
Estou sentada na minha cama desde ontem, no mesmo lugar, não consigo me mexer. Chorei silenciosamente durante a noite toda, diferente do garotinho, que chorou alto durante boa parte da madrugada. Ele parecia estar na minha porta, mas ao mesmo tempo, parecia estar bem longe de mim. Minha garganta está doendo. A janela do meu quarto está aberta, meu cabelo e minhas roupas estão molhadas e eu vou fica doente, com certeza.

Mas minha mãe está morta, então...

Penso nela o tempo todo desde que vi o garotinho chorando, ele não precisou dizer alguma coisa para que eu soubesse o que aconteceu. Vi que ele estava falando com seu pai, então juntei as peças. Minha mãe morreu. Comecei a juntar nossos últimos momentos juntas desde então, consegui sorrir ao lembrar de alguns, mas sempre volta a doer quando penso que nunca mais vou viver isso.

Existem três coisas que não ficam escondidas por muito tempo: a lua, o sol e a verdade.

Mamãe disse, tirando os olhos do céu e olhando para mim. Nós duas estávamos deitadas no jardim de casa na quarta-feira. Meu pai saira para comprar pizza, mas eu me adiantei e guardei almoço para nós duas, pois eu sabia que ele não voltaria tão cedo. Minha mãe também sabia disso, pois aceitou quando ofereci janta para ela sem fazer perguntas. Nós aproveitamos nossa privacidade e fomos para o jardim olhar o céu, mamãe amava o céu.

Quer me contar alguma verdade?

Ela perguntou sorrindo, e eu olhei para cima. A minha verdade é feia, não quero contar. E além do mais, ela já sabia de tudo o que eu fazia. As festas, os meninos, as mentiras. Não era isso que ela queria de mim, então procurei outra verdade para contar.

Acho que não quero mais ir para Chicago estudar astronomia- revelei, mas como mamãe não falou nada, continuei— Talvez eu faça um ano sabático depois da escola...

Parece bom.

É.- pensei um pouco, talvez eu não tenha muita coisa pra fazer em um ano sabático— O que você acha que eu deveria fazer? Preciso de sugestões.

Parar de brigar com o seu garotinho seria uma boa ideia, não é?

Abri minha boca, indignada.

Ele não é meu garotinho, eca!- mamãe e eu rimos— Não, já não quero mais sugestões suas, chega‐ a mulher gargalhou e eu tampei a boca dela, brincando— Talvez eu peça um cavalo.

De Natal?- afirmei— Eu gosto disso.

Ela disse e segurou minhas mãos.

Você mudou de assunto, filha. Volte para as suas verdades.

Droga, quase consegui.

Ok, verdades, vamos lá. Minhas notas na escola estão bem ruins, na verdade. Eu não conseguiria entrar em uma faculdade agora se fosse preciso. E provavelmente eu não vou conseguir me dar bem tão cedo, não consigo me concentrar. Não paro de pensar em você.

Olhei de novo para mamãe, só então vi a dor estampada em seus olhos.

Quer uma verdade, mãe?- minha garganta estava muito apertada, minha voz lutando para sair— Acho que não vou conseguir continuar, porque eu não consigo imaginar um dia... um dia sem você. Não quero imaginar uma vida sem você, mãe. Eu não quero.

Until the last danceOnde histórias criam vida. Descubra agora