VEINTINUEVE

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19 de outubro, sábado.

Você me habita no lugar mais
profundo e destruído.

Noah Urrea

— Bom dia- beijo delicadamente a bochecha da garotinha para acordá‐la— Ei, tá na hora de ir.

Ela coloca a mão na minha cara e me afasta, rio e jogo meu travesseiro nela. Depois que acorda de verdade, ela se arruma e nós descemos para tomar café com os meus pais. Ela está aqui desde quinta-feira, quando chegamos na casa dela e o carro de seu pai estava na calçada. Eu impedi que a garotinha entrasse e entrei sozinha para pegar as roupas dela e o cachorro. Então nós fomos embora rápido e desde então estamos na casa dos meus pais. Eles não contestam, a garotinha disse que estava com saudade de dormir aqui e meus pais amaram. Eles amam ela e Sammy, e eu também.

— Todos prontos?- papai pergunta quando terminamos de comer.

— Vou colocar a coleira no Sammy- a garotinha diz se levantando, mas antes ela se abaixa ao pé do meu ouvido.

Penso que vai me contar um segredo, mas ela só morde a pele da minha bochecha. Grito e me afasto, o que faz a garotinha rir enquanto vai para o jardim. Estamos indo para São Francisco, mamãe quer comprar um vestido novo para o aniversário de Sabina e nós vamos também para aproveitar a viajem.

Quando a garotinha volta, nós vamos para o carro e sentamos juntos no banco de trás, com Sammy entre nós. Meus pais não demoram a entrar também, então nós começamos o longo trajeto. Primeiro nós todos conversamos, depois meus pais começam a falar sobre outras coisas e eu faço o mesmo.

— Animada?- pergunto olhando para a garotinha.

— Oh, sim. Só estou com muito sono, você ficou subindo em mim durante a noite.

— Até parece que você achou ruim- rio quando percebo que estamos sussurrando, isso é engraçado— Quer tirar um cochilo?

Garotinha afirma balançando a cabeça. Ela troca de lugar com seu cachorro, senta ao meu lado e se encolhe contra o meu peito. A acolho em meu braço e a beijo, e quando levanto minha cabeça de novo minha mãe está olhando para nós. Acho que a garotinha está de olhos fechados, porque mamãe olha diretamente para mim. Apenas sorrio e deito minha cabeça na cabeça loira ao meu lado. Não quero explicar, não tenho nada para dizer. Eu só sei sentir.

[...]

Enquanto meus pais pulam de loja em loja, a garotinha e eu decidimos ir andando até a Golden Gate. São Francisco é linda, parece ser ainda mais bonita agora que estou aqui a explorando segurando as mãos de alguém que eu gosto. Nunca me senti assim antes. Nunca olhei para alguém e pensei em coisas tão bonitas como estou fazendo agora. A garotinha está encantada, olha para ela e para os carros e para tudo ao nosso redor. Admiro seu olhar curioso e alegre, ela realmente parece uma garotinha agora.

— Isso é barulhento!- ela diz arrumando a touca rosa em sua cabeça.

As roupas coloridas estão voltando, e por mais que esteja frio, os tecidos pesados e sufocantes estão indo embora. Agora ela passa mais tempo com as amigas, e quando seu pai aparece ela não se esconde. Ela está tentando mudar por nós, e eu não posso explicar o quanto admiro isso.

— Por que está tão frio aqui? É o vento?

— Também- envolvo seus ombros com o meu braço livre, minha mão direita está segurando a coleira de Sammy— A altitude ajuda.

— Caramba, isso é perfeito.

Nós paramos de andar, olho para a loira enquanto ela admira a paisagem. São duas coisas lindas, mas confesso que prefiro essa que eu posso tocar. Só percebo que estou sorrindo como um idiota quando a garotinha olha para mim e ri. Seu nariz vermelho se contorce e eu a beijo, beijo seus lábios e seus olhos e seu nariz e seu rosto inteiro. Depois nos abraçamos novamente e voltamos a andar, porque por mais que isso seja lindo, eu estou morrendo de medo desses carros.

Until the last danceOnde histórias criam vida. Descubra agora