Paciência

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Valentina.

Minha raiva não diminuiu. Cresceu.

Por seis dias, ela ferveu e se contorceu em minhas entranhas. Seis dias enquanto eu esperava ao lado da cama da minha esposa que ela acordasse. Esperando que ela abrisse seus olhos cor de café e olhasse para mim, que me desse um sorriso ou até mesmo que me olhasse com sua carranca.

Um gemido, Juls. Por favor, qualquer coisa.

A equipe médica me disse para ser paciente, para ser positiva. Ambas as emoções foram lentamente drenadas de mim.

Por seis dias, ela ficou presa em um mundo além de mim, onde eu não poderia alcançá-la. Seu peito descia e subia com sua respiração. A máscara de oxigênio foi substituída pelo cateter, seu tubo de respiração desapareceu. Seu cabelo raspado na lateral começou a crescer, escondendo o corte. Seus hematomas estavam mudando, passando de preto e azul para amarelo e roxo. Sua expressão era pacífica, seu corpo imóvel e insensível.

Quando ficávamos sozinhas, eu chorava, implorando e implorando para que ela acordasse. Quando outras pessoas estavam por perto, eu ficava calma, bloqueando minhas emoções, fazendo uma cara de forte, corajosa e positiva, dizendo que ela acordaria em breve. Que logo estaria com nós.

Mesmo assim, ela ainda continuava dormindo.

Por dentro, eu estava desesperada e isso estava me consumindo.

—Mamãe, eu quero a mami! _Dulce exigiu com sua voz alta e queixosa enquanto eu tentava vesti-la.

—Mami está dormindo. _respondi automaticamente.
—Fique parada, Dul. Mamãe não pode colocar suas calças se você continuar se contorcendo.

—ACORDE ELA! _ela gritou, sacudindo as pernas.
—Eu quero ela.

Eu a levantei.

—NÃO POSSO! _gritei de volta.
—MAMÃE NÃO PODE! PARE DE ME PEDIR PARA FAZER COISAS QUE NÃO POSSO FAZER!

Seus olhos se arregalaram e as lágrimas os inundaram.

Instantaneamente, apavorada, eu a puxei em meus braços.

—Mamãe sente muito, Dulce. Eu não queria gritar.

Ela soluçou, suas lágrimas quase constantes, ao que parecia, enquanto eu estava perto. Ela estava melhor quando estava com Lucia ou a Sra. Thomas. Maddox a fazia rir, Leon a fazia sorrir. Era como se ela percebesse meu desânimo e minha raiva e fizesse isso quando eu ia vê-la.

Lucia entrou no quarto sorrindo tristemente em compreensão.

—Eu posso vesti-la, querida.

—Eu farei isso. _eu rebati.
—Sou perfeitamente capaz de vestir minha própria filha.

A expressão de Lucia vacilou, mas seu tom permaneceu calmo.

—Claro. _ela saiu do quarto antes que eu pudesse me desculpar.

Levei Dulce para a cadeira de balanço e acariciei seu cabelo.

—Eu sinto muito Dulce.

Ela soluçou.

A culpa me corroeu. Tentei ser forte, mas parecia que estava falhando completamente. Todos eles estavam me incomodando. Eu estava ressentida com a interferência constante deles, me dizendo quando ir, quando comer, como me sentir. Uma parte de mim sabia que todos estavam tentando ajudar, porém minha paciência estava chegando ao limite.

Eu não queria sair do hospital para dormir, eu não estava com fome e odiava ser forçada a comer. Eu não me importava que houvesse pessoas dispostas a desistir de seus próprios sonhos e vida para se sentar ao lado da Juliana, ela não estava sozinha. Eu queria estar lá quando ela acordasse, eu precisava estar lá.

O ACORDO 2/JULIANTINAOnde histórias criam vida. Descubra agora