O que eu fiz?

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Valentina Pov

Juliana não gostou de nenhuma das mudanças. Na verdade, elas a perturbaram e lhe causaram outro surto.

Reposicionar a mobília da sala para dar espaço ao equipamento de ginástica causou-lhe um olhar furioso e um sorriso de escárnio na boca.

O armário foi abaixado para que ela pudesse alcançá-lo e fazer café, o que foi recebido com silêncio. A reorganização de seu escritório e o aumento da altura de sua mesa para que pudesse caber sua cadeira de rodas sob a borda rendeu-lhe murmúrios e um olhar furioso.

Recusando-me a deixá-la ver minha crescente frustração, abri a nova porta do elevador com um gesto animado.

—Tchan-Tchan!

—Você está brincando né? _rosnou ela.

—Juls! _sussurrei, indicando Dulce, que estava olhando para ela com olhos arregalados.

—Você espera que eu use isso? _ela continuou falando, ignorando o fato de que havia jogado a bomba na frente de nossa filha e estava agindo como uma idiota.

Eu fiquei calma.

—Se você quiser subir, você vai.

—É nisso que você estava perdendo tempo? Sem nem se importar com o custo. _ela rosnou.
–Aposto que vão me levar para um passeio neste pequeno elevador.

Eu fiquei boquiaberta com ela. Ela estava preocupada com dinheiro? Em tudo isso, essa devia ser a última coisa com que ela precisava se preocupar. Ela tinha problemas maiores para se concentrar. Dulce interrompeu minha resposta.

—Eu quero ir de elevador!

—Não. _Juliana rosnou.

—Por que? _ela perguntou.
—Vou com você mami.

Inclinei-me para Dulce.

—Tenho que mostrar a mami como funciona. Levaremos você pela escada, certo? Vou até te dar um prêmio. Você pode descer mais tarde. _eu pisquei para ela.
—E então podemos comer os cookies que fizemos para a mami.

Ela bateu palmas, dirigindo-se para as escadas.

—Hurrah!

Eu empurrei Juliana para dentro do elevador, não dando a ela a chance de recusar. Pressionei o botão com raiva.

—É fácil de usar.

—O bom é que é fácil de usar. _ela rosnou.
—Meu cérebro e meu corpo não funcionam mais bem.

Antes que eu pudesse responder, as portas se abriram. Dulce estava esperando do lado de fora com um rosto brilhante.

—Eu venci vocês!

Forcei um sorriso, empurrando Juls na minha frente. Dulce caminhou até ela, mas ela não a pegou em seu colo. Em vez disso, ela deu um tapinha na cabeça dela e se afastou de nós.

—Vamos ver que outras surpresas tem aqui. _ela murmurou.

Eu a segui pelo corredor até o nosso quarto, meu coração pesado. Fácil não era a palavra que eu usaria agora.

Juliana era difícil demais e eu não tinha certeza se saberia como lidar com ela.

***

Lavei o cabelo e sentei-me sob a água quente, deixando a agua cair no meu corpo cansado e dolorido. O chuveiro sem barreiras e o assento que eu instalei tiveram uma recepção fria de Juliana, mas eu os amei. Alguns dias, eu fugia e deixava a água cair sobre mim, lavando a dor e a frustração dos dias com a nova versão da minha esposa. Pelo menos ela usou o chuveiro sem reclamar, ao contrário do elevador que aluguei para ajudá-la a sentar e levantar da cama para a cadeira de rodas. Ela o ignorou, xingando e murmurando sobre sua capacidade em declínio, mas ela sabia que precisava dele. Ela ficava zangada toda vez que eu tentava ajudá-la, então dei a ela o espaço de que precisava e a deixava fazer isso sozinha.

O ACORDO 2/JULIANTINAOnde histórias criam vida. Descubra agora