Úrsula II

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Úrsula acabava de arrumar sua mochila quando sua criada Pietra entrou em seu quarto trazendo uma tiara de diamantes verdes e rosados. Calculou que não demorariam muito no território dos Madson, ao sul de Coração do Jardim, portanto, limitara-se ao número de três vestidos, o que deixou espaço para alguns livros para matar o tédio na viajem.

– Está belíssima nesse vestido, minha lady – começou Pietra. – Como sempre fora, independente da vestimenta.

– Agrada-me que tenha gostado. – respondeu-lhe Úrsula com um sorriso meigo. Escolheu esse vestido longo justamente para mostrar boa impressão ao povo da cidade, pois antes de partirem iriam passar na feira de Gardenrose. – Esta tiara que trouxe consigo é para mim?

Pietra caminhou lentamente até ficar de frente para Úrsula e estendeu a tiara acima de sua cabeça. A moça formalmente curvou-se, enquanto sua criada pôs a tiara sobre seus cabelos castanhos. – Combinou perfeitamente com o vestido, minha lady. – Pietra a disse sorrindo.

Úrsula levantou-se e caminhou até ficar de frente ao espelho, observando o seu reflexo. – Sim – sorriu. – Combinou perfeitamente. Quem enviou-o para mim?

– Lorde Carl, disse-me que é um presente. – Pietra respondeu. – Disse-me também, que ordenou que o melhor joalheiro da capital a fizesse tão bela quanto a minha lady, mas que percebeu que nada comparar-se-ia à sua beleza.

Úrsula corou e sorriu elegantemente. – É muito meigo, e deveras ousado. A cada dia encanta-me mais.

Pietra concordou e juntou ambas as mãos de Úrsula às dela. – Posso pedir-lhe um favor, minha lady?

– Qualquer coisa para você, minha amiga. – respondeu-a.

– Soube que antes de seguir para o território dos Madson, passará pela feira de Gardenrose. – Pietra a encarou nos olhos com seu olhar de pedinte e apaixonada.

– De certo que passarei, hei de comprar os ingredientes necessários para o remédio da lady, e só conheço um homem que tem o que preciso. – Úrsula continuou. – Pelos sintomas que ela relatou na carta, julgo que a doença que apossou-a é a febre cinza, doença raríssima que só pode ser tratada com um remédio raríssimo também. Não posso demorar muito nessa viagem ou será o fim da lady Madson.

Pietra ouviu calmamente e logo após baixou os olhos, como que sem esperança. – Entendo-lhe. – disse. – Deve apressar-se, então não há tempo para meus caprichos...

– Não me venha com essa, minha amiga. – Úrsula sorriu. – Diga-me de que precisa.

A criada levantou seus olhos para os dela e novamente estava esperançosa. – Soube que Sor Lindem conduzirá sua carruagem durante todo o percurso e que não o verei até que retornem. Só queria que entregasse isto a ele. – Pietra retirou um pequeno pergaminho do bolso de seu uniforme, e ainda dobrado o entregou a Úrsula. – Não a leia, por favor.

Úrsula sorriu docemente. – Óbvio que não o farei, deve ser algo muito particular, estou certa?

A criada corou e pareceu envergonhar-se. – S-sim, é algo muito íntimo. Por favor... – pediu. – Promete-me que não a lerá e que não há de mostrar a ninguém que não seja Sor Lidem, por favor, promete-me!

Úrsula não compreendeu o desespero de Pietra, sempre foram melhores amigas e sempre contavam tudo uma para a outra, porque esse segredo havia de ser tão particular? Deve haver algo, pensou.

– Prometo-lhe, juro pelos antigos deuses e pelo novo. – disse. E não leria mesmo, fosse o que fosse sua amiga pediu privacidade, e apesar de curiosa Úrsula não falharia com sua amiga, não trairia sua confiança. Se esquecermos de nossa essência, nossas vidas perderão o propósito.

A Santa Inquisição | As Crônicas de LÚCIFEROnde histórias criam vida. Descubra agora