Hoje as bruxas sentavam-se do lado de fora da torre de pedra. Algumas na calçada na torre, outras em um pano que dispuseram no chão arenoso; outras estavam de pé, encostadas à parede rochosa, mas todas observavam as pequenas bruxinhas que estavam tendo seu primeiro dia de aula de voo com as vassouras.
Francine era uma dessas que estavam de pé.
Observava sorrindo as bruxinhas voando, algumas com dificuldade e outras nem tão ruim assim. A professora de voo de vez em quando gritava ordens, conselhos e qualquer coisa que as ajudassem a dominar o voo. Todas as bruxas estavam reunidas lá fora porque muitas eram mães das bruxinhas, e estavam ansiosas e orgulhosas em vê-las voarem.
A bruxa superior, que era a líder do lugar, ordenara a todas que não trouxessem seus livros de feitiço hoje. Sempre que as duzentas bruxas se reuniam ocasionava em briga ou desordem, várias famílias não se gostavam; mas hoje era um dia especial, as bruxinhas estavam tendo seu primeiro voo e a bruxa superior não queria intriga nenhuma, nem qualquer coisa que atrapalhasse esse momento. Então ordenou que ninguém trouxesse seus livros, e assim fizeram.
Francine não sentia-se desprotegida, estavam seguras durante todos esses anos no deserto da Ilha de Creta, não era hoje que descobririam sobre elas e armariam uma emboscada. Não havia nenhum mal em ficarem um dia só sem seus livros. O vermelho, de Francine, estava bem guardado em um dos andares superiores da torre de pedra, e a bruxa ruiva não sentia falta dele.
Eram duzentas bruxas, no total, que habitavam a Ilha de Creta. Cento e Cinquenta eram adultas, que observavam o voo; e cinquenta eram as crianças que tentavam voar, pequenas menininhas que aspiravam ser muito poderosas futuramente. Francine acreditava que elas poderiam.
Lídia, a amiga e aluna preferida de Francine, estava ao seu lado, também de pé. Observava com os olhos cheios de lágrimas a sua irmã mais nova voar, era a menor de todas as garotinhas, mas também, a melhor. Lindsay era magrinha e baixa, tinha grandes olhos negros e seu cabelo era de um castanho bem claro. Por mais que fosse pequena, lá no ar parecia uma giganta. Voava com maestria, tão bem quanto Francine. Lindsay rodopiava e girava de modo ágil e veloz, e de vez em quando olhava para sua irmã esperando aprovação. Francine pôde observar trocarem sorrisinhos de orgulho e alegria regularmente.
O vento quente do deserto balançava os ruivos cabelos de Francine para trás e para frente, e a feiticeira sorria ao ver aquelas mocinhas voarem. Notava a inocência e o divertimento delas, e desejava voltar a ser criança, para poder brincar também. Todas as mães sorriam alegres e algumas choravam. Várias aplaudiam. Mesmo a bruxa superior que sempre era carrancuda e rígida, estava quase chorando agora, de vez em quando assentia com a cabeça e batia palmas.
Mas Francine foi capaz de ver a alegria e os sorrisos de todas ali desfazerem-se num instante.
A jovem ruiva arregalou os olhos e sentiu falta de ar, uma dor no peito e uma angustia a preencheram por completo com os gritos ensurdecedores de dor e agonia das outras bruxas. Um portal escarlate abriu-se bem a frente delas, e de lá, vários cavaleiros com armaduras e cotas de malhas vieram galopando com seus garanhões e cortando várias mulheres e atirando flechas em muitas das crianças que voavam. Os cavaleiros tinham a cruz vermelha sobre as cotas de malhas e armaduras, e alguns carregavam o símbolo do escorpião coroado sobre fundo amarelo em estandartes, o emblema da casa do papa.
O som das lâminas cortando a carne das bruxas revelava-se ensurdecedor e agonizante, assim como o barulho do sangue escorrendo e pintando de vermelho todo aquele chão de areia. Francine viu um cruzado penetrar uma espada no peito da bruxa superior, e notou outro cortando a garganta da professora de voo com uma foice. As feiticeiras nada puderam fazer. Sem seus livros os feitiços não poderiam ser conjurados.
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A Santa Inquisição | As Crônicas de LÚCIFER
Fantasia(Uma Fantasia Medieval que irá cativar os fãs de Game of Thrones e Eragon!). Para destronar o tirano de Papa Inocêncio da posse do império, sete motivos diferentes reúnem sete jovens corajosos e cheios de ambições. As feiticeiras almejam vingança...