Risonett II

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A resposta de lady Valérie Valentine calou todos na multidão como se eles fossem um só.

Risonett sorriu e chorou de alegria. As pessoas observavam a cena perplexas. Lady Valérie realmente iria ungir uma mulher como cavaleira? Iria ir mesmo contra outro dos dogmas da igreja? O padre estava indo a loucura, lorde Kalmar ainda tratava de seu filho que continuava estirado no chão. O comandante da guarda real observava Risonett com aprovação no olhar.

Valérie Valentine ordenou que Risonett subisse até a parte elevada, para junto dela. A mulher obedeceu alegremente. Quando ficaram uma de frente para a outra, a lady alisou seu cabelo loiro e pediu para que Risonett se ajoelhasse. Quando a vencedora o fez, Valérie pegou sua espada, e com ela, tocou levemente sua cabeça.

– Em nome do pai, ordeno que seja justa. – a lady agora tocou seu ombro esquerdo com a espada. – Em nome da mãe, ordeno que seja piedosa. – encostou no ombro direito. – Em nome de Thor, ordeno que seja corajosa. – tocou seu peito. Como Risonett pensara, ela seria ungida pelos antigos deuses, não pelo novo. Lady Valérie manter-se-ia fiel. – Em nome de Locke, ordeno que seja sábia. – ela bateu a espada no chão. O coração de Risonett batia depressa pela excitação, finalmente o seu sonho estava sendo realizado, encontrava-se sendo ungida cavaleira! – Ajoelhou-se como uma menina, mas agora, há de se levantar como uma mulher. – lady Valérie continuou. – Ergue-vos! Sor Risonett, a Ousada, Cavaleira de todos os reinos!

– SOR RISONETT, A OUSADA! CAVALEIRA DE TODOS OS REINOS! – a multidão repetiu e bateu palmas fervorosamente. Risonett ergueu-se, e limpou as lágrimas que molhavam sorrateiramente o seu rosto. Este era o momento mais feliz de sua vida, estava sendo aplaudida pelo o que ela era, estava orgulhando a si mesma, e a seu pai onde ele estivesse. Risonett era agora oficialmente ungida, a primeira mulher feita cavaleira. E de quebra, ainda tornara-se uma dos sete guardas reais de lady Valérie!

Em meio aos aplausos e gritos de fascinação, Sor Risonett, a Ousada, abraçou com força lady Valérie, que retribuiu o abraço calorosamente.

Para a infelicidade de Risonett Fullice, seu momento de êxtase e glória acabaria no mesmo tempo em que começara.

A multidão que aplaudia, cessou as aclamações e começou a vaiar. Muitas das pessoas da arquibancada gritaram, Risonett virou-se para entender o porquê. Quando percebeu o que acontecia, teria desejado mais que tudo em sua vida que todas aquelas vaias fossem para ela; mas não era o caso.

Cerca de cem homens, pelo que Risonett conseguiu contar, adentravam amontoados o grande coliseu; todos com roupas simples e baratas, mas cada um carregava uma espada de ouro em formato de cruz. Risonett já ouvira falar de um exército com essas características, e confirmou suas suspeitas ao reparar no símbolo que estendia-se nos panos altos que os porta-bandeiras carregavam: O homem orando de joelhos, em estampa dourada; o símbolo da Casa de La Cruz. Este era o exército da fé, comandado pelo Mandamento do Altruísmo, Sor Orpheu de La Cruz. O homem cego vinha logo atrás dos demais soldados fiéis.

– Mas... O que estão fazendo aqui?! – lady Valérie não acreditava no que via.

– Mamãe... Tenho medo. – o pequeno lorde Nate Valentine avisou-lhe. – O padre disse que aquele homem veio puni-la por seus crimes.

O medo assolou o coração de Risonett, e se fez presente na expressão de Valérie. A igreja já havia feito vários avisos à Antiga Noruega, falando sobre impostos e sobre o culto aos antigos deuses, disseram que era punível com a morte, mas nunca fizeram nada. Risonett achava que a lady de Antiga Noruega estava intocável, presumia que nem mesmo um dos Mandamentos do Senhor pudesse lhe fazer mal.

A Santa Inquisição | As Crônicas de LÚCIFEROnde histórias criam vida. Descubra agora