Leonel III

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Naquela tarde quente e ensolarada o coração de Leonel batia depressa. Enquanto martelava o metal quente, seu corpo mais suava, e o jovem desconfiava que mesmo que o sol estivesse cruel hoje, seu suor não era consequência dele, mas sim, do nervosismo que preenchia sua mente.

Repassar o plano milhares e milhares de vezes na noite anterior fez Leonel decorá-lo do início ao fim. Cada etapa, cada detalhe, Léo analisara tudo minuciosamente, e em teoria ele parecia perfeito e simples. Entretanto, agora que estava chegando o momento de iniciá-lo, o jovem estava ficando nervoso, e se alguma coisa desse errado? E se alguém ouviu sua conversa no dia anterior e contou aos seus superiores? Se fosse o caso, já estaríamos mortos... Concluiu. Mas e se dessem falta dos dois guardas que os gêmeos iriam matar? Não, será muito rápido. Leonel respirou fundo para tentar se acalmar, mas isso não resolveu.

Observou seus companheiros escravos que trabalhavam a sua volta, e no fundo de seu coração temeu, temeu que houvesse um espião, alguém que estragaria tudo... Todas essas paranoias deixavam o jovem mais receoso ainda. Enquanto os homens trabalhavam, dois guardas vestidos de cota de malha, elmos de metal, e muito bem armados observavam os seus serviços, foram colocados dois a cada cem metros. Ao observá-los dos pés a cabeça Leonel temeu que Evan e Erick não dessem conta... Afinal, só tinham duas faquinhas, que eles mesmos fizeram, como iriam assassinar dois guardas treinados com espadas? "Elemento surpresa", Evan dissera na noite anterior, "Essa será a nossa vantagem." Leonel desejou mais que tudo que isso realmente fosse uma vantagem.

Após dar uma batida no metal quente, Leonel descansou um pouco os braços na mesa e limpou o suor frio de sua testa. Ouviu passos em suas costas e temeu que fosse Gordo Barry vindo repreendê-lo, mas ao se virar, viu Evan e Erick, os gêmeos ruivos, andando em direção aos dois guardas.

As batidas do seu coração aceleraram ainda mais, é agora, pensou. Finalmente fora chegada a hora do grande plano de fuga, orquestrado pelos gêmeos e por Pablo. Se eles errassem, se falassem algo errado, um mínimo erro que fosse, colocariam tudo a perder, e todos eles estariam condenados a anos de tortura, ou pior. Os guardas estavam um pouco distantes, mas Leonel fez de tudo para ouvir sua conversa com os gêmeos.

–... Sim, Rodrigo, precisamos mijar! – insistia Evan, o ruivo alegre.

– E só o fazem se forem os dois irmãos juntos?! – respondeu o outro guarda levantando a viseira do elmo.

– Sim, nascemos juntos, andamos juntos, comemos juntos, fazemos tudo juntos! – riu Evan.

– Aposto que também devem foder juntos, seus imprestáveis... – desdenhou Rodrigo, o segundo guarda. – Não estão a fim de chupar o meu pau juntos? – riu muito alto.

De longe Leonel percebeu Evan alterar-se, e prestes a responder, mas Erick, que não tinha dito nada até agora, o interrompeu e falou por ele:

– Faremos, se o senhor quiser. – alguns escravos ao lado de Leonel riram. – Só deixe que a gente urine primeiro...

Os guardas se entreolharam, como se pudessem comunicar-se apenas com os olhos, e o que chamava-se Rodrigo puxou a mão de Erick para apalpar o seu pênis por cima da cota de malha.

– Duvido que o faça. – riu.

– Grande membro tem aí... – sorriu maliciosamente Erick, e Evan o encarou de olhos arregalados. – Vamos para um lugar mais reservado? Eu sou seu, e meu irmão é de seu amigo, juro que faremos o que quiserem...

– Isso aí... – Evan tentou forçar um sorriso.

Os guardas bem vestidos ordenaram que os gêmeos fossem na frente, e os seguiram; agora já estavam distantes, e Leonel não podia saber sobre o quê conversavam.

A Santa Inquisição | As Crônicas de LÚCIFEROnde histórias criam vida. Descubra agora