A Santa Inquisição | As Crônicas de LÚCIFER

Conrad II

O jovem assassino de cabelos brancos estava sentado junto a uma pequena mesa no bar, pensando.

Já acostumara-se com o olhar que todos faziam quando o viam, e portanto, ignorava esses que os homens e mulheres no bar lhes davam. Conrad bebia seu vinho de uva impacientemente, e seus dedos alisavam a superfície da taça de vidro de modo tedioso. Já era a sétima taça de vinho que bebia, e mesmo assim o efeito do álcool nunca se fazia em seu sistema imunológico super-resistente a venenos e derivados.

Conrad já estava cansado de esperar sua irmã, fazia quanto tempo que ela o deixara ali? Sozinho em uma mesa, afastado dos demais... Eles não se atreviam a aproximar-se, estavam com medo; E Conrad não fazia questão que o fizessem de fato, odiava ouvir conversas de bêbados idiotas que sempre reclamavam das mesmas coisas: Dinheiro, amores não correspondidos e todo tipo de besteira.

"Vou falar com os moradores para ver se descubro algo e já volto, não saia daí", dissera Catherine. O rapaz achava que esse "já volto" estava demorando muito, era tardezinha quando ela saiu, e agora já anoitecera. Quando Catherine ausentou-se para encontrar o papa, Conrad passou dois dias brincando com Corália, e observando seu rigoroso treinamento com seu pai e sua mãe, mais dois dias depois e Catherine voltou a Wine Island com a notícia de que a missão secreta que o papa queria dela seria executada ali mesmo, no reino deles. Foi a primeira vez que Cat convidara Conrad para acompanhá-la em uma missão tão importante, não que a Mandamento da Fidelidade precisasse de sua ajuda para completá-la de fato, mas porque queria companhia.

Era a primeira vez que Conrad visitava esse bar, ele não esperava que na zona rural de Wine Island houvesse um, achava que bares e bordéis só existiam pelo início e pelo centro do reino, mas esse barzinho da zona rural não era nada mal. Madre Carmel era vassala de Connor Silver, seu pai; e era a responsável por toda plantação e colheita de uva e pela sua transformação em vinho, era uma senhora muito bem paga pelos Silver e que trabalhava muito bem também. Todo o vinho produzido era vendido aos outros reinos e distribuídos pelo Wine Island, mas o vinho que Conrad tomava agora não era obra da líder rural Madre Carmel, este tinha um gosto diferente, mais amargo. Era vinho feito por essas pessoas pobres, mas Conrad achou mais saboroso que o usual, esse bar estava mesmo de parabéns!

Agora Conrad já estava na nona taça de vinho, e sabia que iria querer mais, por algum motivo sentia que sua irmã ainda demoraria muito para retornar... O que ela estaria fazendo? Será que a irmã já completou a missão sem mim? Não. A irmã foi clara, disse-me que quando descobrisse do portador do ovo de dragão voltaria e me chamaria. Conrad continuava impaciente, e ao mesmo tempo ansioso. A missão que o papa dera a sua irmã era algo muito especial e peculiar, o Mestre dos Segredos de Papa Inocêncio o contou que ouviu rumores de que o portador de um ovo de dragão residia na zona rural de Wine Island, e a missão de Catherine Silver era matá-lo, pegar o ovo e o entregar nas mãos do Papa. Conrad ficou muito maravilhado quando Cat o convidou, o Mestre dos Segredos estava certo, ou teria se equivocado? Não via-se um dragão há mais de uma década. Será que havia mesmo um ovo por aqui... Nessa comunidade humilde e simples? Os velhos diziam que os dragões apareciam depois da aurora boreal, mas pelo que Conrad se lembrava, tal aurora ocorrera há onze anos, na época da Santa Inquisição; o ovo passara onze anos sem chocar?! Bem, Conrad não sabia se era verdade, nem sabia se acreditava realmente que dragões existiam... Era cético sobre isso, e acreditava que os dragões só existiam nas lendas e nas histórias. Mas quando o Mestre dos Segredos descobria algo, todos os mandamentos acreditavam... Catherine disse que ele nunca se equivocava.

Conrad ainda não entendia porque Papa Inocêncio queria esse ovo. Se ele realmente existia e não chocara há onze anos por que chocaria agora? E de que utilidade serviria se não chocasse? Por que Inocêncio não o deixava na mão desse portador, que disseram que era apenas um camponês... Os pensamentos de Conrad foram interrompidos pelo o ranger da porta do bar se abrindo, e o jovem voltou à realidade.