Risonett III

2 0 0
                                    

Era o quinto dia de cavalgada de Risonett Fullice, e, mesmo assim, ela não estava disposta a voltar atrás. O cansaço não era nada comparado a sua determinação, não descansaria até que Egleisson Valentine estivesse a salvo.

Já fazia tempo que cruzara e passara pelas terras de lorde Kalmar, e agora estava no cemitério de Valhalla. Escolha de nome interessante, Valhalla era como se chamava o céu na crença nórdica, era o paraíso para onde iam os heróis, as pessoas que fizeram história. Risonett estava em frente ao túmulo de seu pai, aproveitou para deixar flores e acender velas para ele, em honra a sua memória.

Quanto tempo fazia que não visitava seu túmulo? A última vez que lembrava-se fora quando completara dezoito anos, e seu irmão a levou para prestar respeito e luto junto dele.

A neve caía e cobria todo o terreno do cemitério, assim como as lápides frias. O ar estava tornando-se denso, e de vez em quando, Risonett enfrentava algum nevoeiro.

Com uma última reza ao estilo nórdico, Sor Risonett, a Ousada, despediu-se de seu pai. Com determinação nos olhos, montou seu cavalo e dirigiu-se para a saída de Valhalla. Não havia tempo a perder, cada segundo que passava era um segundo que Egleisson podia precisar de Risonett; ela queria encontrá-lo o mais rápido possível para cumprir sua promessa de protegê-lo.

Nessa época do ano, o inverno do norte estava pior; e Risonett achou que era a única maluca o suficiente para escolher visitar entes queridos em Valhalla, ao invés de optar por uma casa e uma lareira quente. Admirou-se, entretanto, quando a dois túmulos de distância da cova de seu pai, encontrou uma pessoa virada para outra lápide. Risonett não pôde ver seu rosto, a figura estava montada em um cavalo laranja, e usava uma capa azul que protegia bem o seu corpo do frio, mesmo seus cabelos Risonett não conseguia ver, o capuz os escondia. Estreitou a visão e conseguiu ler os dizeres da lápide que a pessoa prestava respeito: "Aqui jaz todos os que um dia pertenceram a Casa Lion. Os leões não morreram, estão apenas adormecidos". Risonett já ouvira falar dessa casa, e lembrava-se bem dos boatos e das canções; a casa das pessoas mais ambiciosas, mais avarentas... Contava-se que o lorde queria tudo para si, tanto que assassinou toda a família que reinava em Lenéia e reclamou o trono, ficando assim com a posse de dois reinos. Para o azar deles, o último sobrevivente vingara-se e dizimara toda a Casa Lion, da maneira da qual eles fizeram antes com a família dele.

– Com licença, está tudo bem? – Risonett perguntou quando viu a pessoa encapuzada derramar lágrimas no chão de neve.

O ser virou-se com o cavalo e encarou a cavaleira, Risonett pôde perceber que o vulto encapuzado tratava-se de uma mulher. – Está... – disse ela enxugando as lágrimas. – Sabe como é. Anos podem se passar, mas a dor da perca de um ente querido é eterna. – deixou seu capuz cair, e Risonett vislumbrou longos e arrumados fios de cabelos laranja, a mesma cor dos cabelos dos falecidos da Casa Lion.

– Um momento, você disse "entes queridos"? – Risonett queria ter certeza de que ouvira direito. – Estas lápides são de todos da antiga Casa Lion, todos dessa família estão mortos. Achei que todo mundo soubesse da história, não? Quando Sor Heldeberth dizimou toda a casa por vingança ao que fizeram com a sua...?

– Sim, todos conhecem a história. – a moça respirou fundo, e o ar de sua respiração mostrou-se visível devido ao frio. – Lembra-se que todos achavam que a Casa Evangelista tinha acabado, então descobriram que Heldeberth havia escapado? Esse garoto queria pagar na mesma moeda, e ao cumprir sua vingança deixou uma garota escapar, apenas uma. – o vento frio balançou seus cabelos alaranjados.

– Você não está dizendo que... – Risonett franziu as sobrancelhas, boquiaberta. Realmente as descrições batiam, a moça tinha os cabelos laranja dos Lion, e estava visitando os seus túmulos. Não faria isso sem justificativa. – Quem é você? – ambas se encararam ainda montadas em seus cavalos.

A Santa Inquisição | As Crônicas de LÚCIFEROnde histórias criam vida. Descubra agora