A Santa Inquisição | As Crônicas de LÚCIFER

Conrad IV

Já fazia quase um dia que Iseu estava desmaiado, mas Conrad pôde acalmar-se um pouco em notar que sua febre estava baixando.

Tinha feito três fogueiras ao longo daquela vasta caverna antes escura, e agora o ambiente estava completamente iluminado. As chamas davam conta de toda a área, e tudo estava visível; desde a pedra que tampava a entrada e o chão de rocha, até as paredes cinza escuro que reluziam brilhantes com sua luz. Também fez uma pequena fogueira próxima ao lago da caverna, visto que regularmente precisava ir até lá para molhar um pano deixando-o umedecido para pôr na cabeça de Iseu.

O garoto estava realmente mal quando Conrad o encontrou caindo naquela mata; ignorando os três corpos carbonizados no chão trouxera Iseu gentilmente até a caverna e tratou-o com toda dedicação possível. O pequeno dragão verde tentara morder Conrad várias vezes em que ele tentava tocar no corpo de Iseu, portanto, o jovem teve de dar vários pedaços de carne para distraí-lo e desde então ele se comportara educadamente; mas sempre observando-o de vez em quando como se estivesse preocupado. Parecia estar mais aflito que Conrad, que sendo um assassino, sempre estudara as artes de assassinato e caça, mas nunca dedicara-se a nada medicinal, ignorara completamente os estudos da arte de cura, e agora pouco sabia fazer para melhorar o estado de Iseu.

O máximo que conseguiu improvisar quando vira que Iseu estava com febre foi armar uma pequena cama de palha e deitá-lo lá, em seguida retirou sua camisa e passou um pano umedecido pelo seu corpo para baixar sua temperatura. Tentou lhe dar água, mas o garoto inconsciente quase se engasgara, então limitou-se a pôr o pano em sua testa e ficar ali ao seu lado, observando-o.

Quando a noite chegara e passara Conrad se preocupou vendo que o garoto não demonstrava nenhum sinal de que iria acordar, pensou em ir até a cidade e contratar um curandeiro, mas para esse caso peculiar era óbvio que seria idiotice. Já estava triste e ficando maluco, mas Iseu murmurara algo baixinho e isso fez a esperança nascer novamente. "John", fora a única coisa que disse e desde então continuava em seu sono profundo. Agora Conrad estava ali do seu lado, analisando-o cuidadosamente. Notou que a febre reduzira e ficou feliz por isso, levantou-se e foi molhar o pano novamente no lago que mais parecia uma piscina. Os dois cavalos que estavam amarrados próximos à entrada da caverna os deram olhares curiosos, mas Conrad os ignorou e voltou com o trapo umedecido em seguida colocando novamente na testa de Iseu.

De súbito quis saber como estava Corália, como sua irmã continuaria sem ele em casa...? Será que Catherine e Connor já o estavam procurando? Será que já emitiram alertas sobre Conrad e Iseu como procurados? O jovem desejava ansiosamente que o menino acordasse logo para que saíssem daquele lugar e procurassem um local mais seguro para se esconder. Em seguida pensou em seu cavalo, no momento em que o pegara para montar e fugir da casa dos Silver já havia três bolsas amarradas a ele, uma com comida e mantimentos, outra com roupas e outra cheia de moedas de ouro. Quem teria organizado tudo aquilo em seu cavalo? Alguém que pressentia que Conrad iria fugir, com certeza. Mas quem...? Um gemido leve fez Conrad voltar à realidade e ele viu Iseu mover-se um pouco.

– O garoto deve acordar... – murmurou Conrad. – Deve acordar imediatamente... – Mas o rosto de Iseu continuou impassível, sem demonstrar nenhuma reação.

Conrad retirou o pano molhado da testa de Iseu e tocou-a, percebendo que agora estava mais fria; sua mão pálida alisou os cabelos cor de palha do garoto que também estavam molhados e em seguida desceu até sua bochecha. Também está fria, pensou e desceu até seu pescoço. Seu coração animou-se ao perceber que a febre tinha passado por completo. Olhou para seu rosto mais atentamente desejando que seus olhos se abrissem logo... Mas nada.

– Garoto... – murmurou. – Iseu... Tem de acordar. – abaixou-se e afastou um pouco dos cabelos de Iseu para conseguir falar em seu ouvido. – Preciso que acorde. – nenhuma reação.