Egleisson I

4 1 0
                                    

Egleisson ajoelhou-se naquele chão de ouro da catedral de Santa Sofia, fechou os olhos e começou a rezar.

Rezou para que os famintos não tivessem mais fome, para que os necessitados não passassem mais necessidades, e para os que não têm casa encontrarem um lar. Rezou para que a violência acabasse, para que a guerra não recomeçasse, e para que a Santa Inquisição se fizesse sem desastres. Rezou em nome da mãe, do pai, do filho, e do espírito santo; como sempre rezara quando chegava ao templo. A catedral de Santa Sofia era um lugar forte, cheio de energias positivas, e Deus parecia atender a todas as rezas que Egleisson fazia. Já havia anos que os reinos estavam em estabilidade, a fome baixara, a miséria tornou-se extinta, a paz reinava, e tudo ocorria bem. Egleisson acreditava que isso tudo era fruto das rezas que fazia, e do bom comando de Papa Inocêncio; o homem realmente era um bom governante, além de devoto. Como um dos Mandamentos do Senhor, Egleisson só poderia admirar Inocêncio, como seu superior, e praticamente como um pai.

Egleisson Valentine era filho de Valérie Valentine, a rainha mãe, e lady da Antiga Noruega, mas não a considerava sua mãe de verdade. Na rebelião de Papa Inocêncio ele tomou Noruega e conquistou-a, matou o antigo rei, mas poupou a vida da sua lady, que estava grávida e já tinha outro filho: Egleisson. Em troca, Valérie teve de deixá-lo nas mãos do papa e da igreja como um refém. Na época Egleisson tinha oito anos, e temera muito por sua vida, sentira muita saudade de sua mãe. Entretanto, Inocêncio nunca o maltratou, nunca lhe fez mal. Sempre o criara como um filho, fora um pai muito melhor do que o que tinha, que só o maltratava enquanto sua mãe assistia.

Inocêncio o educou e ensinou-lhe a teologia, mostrou-lhe a verdade sobre o verdadeiro Deus, e a farsa dos antigos deuses nórdicos em que Egleisson acreditava. O deu vários livros que Egleisson estudou com carinho e dedicação, tanto que aos quinze anos já dominava a língua dos anjos; e contratou os melhores paladinos para ensinar-lhe a lutar com espada. Nunca deixara nada faltar para ele, desde coisas simples como comida, a coisas mais complexas como o amor. Além de tudo isso, lhe fizera Mandamento da Singularidade, lhe concedera o reino de Arkhángelos para governar; e Egleisson o fez com maestria. Seu castelo lá em Arkhángelos chama-se Casebre de Duas Faces, é um enorme palácio que tem metade de sua pintura branca, e a outra de dourado. A branca é onde os aprendizes e futuros padres oram, é onde a fé sobre o verdadeiro Deus é ensinada; e a dourada, é para os mesmos jovens aprenderem a usar espadas, a serem paladinos e participarem do exército do reino. Assim Egleisson fez, Arkhángelos é um reino único e peculiar, é onde a fé e a espada andam juntas.

Ao terminar de orar, Egleisson abriu os olhos e ficou de pé, contemplando a enorme catedral de Santa Sofia. O edifício era completamente feito de ouro e diamantes, desde suas paredes vistas do lado de fora, ao seu interior. Um pouco a sua frente estava um enorme altar em uma pequena elevação, nele havia três tronos de diamantes brancos, onde se sentavam os três Arcebispos quando a reunião era de muita importância; e acima desses três tronos existia um ainda maior, um feito de ouro, onde Papa Inocêncio sentava-se e podia observar tudo. Detrás dos tronos repousavam três grandes estátuas de ouro, à esquerda, a estátua da mãe, Maria; à direita, a estátua do pai, e ao centro a estátua do filho, Jesus. Na parede de ouro, na parte acima das estátuas, havia o enorme quadro do divino Espírito Santo, o grande pombo branco com suas asas abertas. Do lado direito, o majestoso símbolo da Casa Celeste, a casa de Inocêncio; o grande escorpião sobre fundo amarelo, escorpião agora coroado, visto que Inocêncio é o imperador de todos os reinos. A catedral era cheia de enfeites e quadros, havia uma estante de ouro com livros contando os feitos do papa e de seus mandamentos, desde a conquista de todos os reinos ao sucesso da Santa Inquisição. Fios dourados desciam do teto com estrelas de diamantes e pedras preciosas de todos os tipos, trazendo uma iluminação refletida do sol para a catedral. Além disso, várias velas eram dispostas em mesas de ouro, e no chão, velas que ficavam acesas tanto de dia, quanto à noite.

A Santa Inquisição | As Crônicas de LÚCIFEROnde histórias criam vida. Descubra agora