Acordo de irlandeses

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Ferguson correu até o quarto que dividia com a esposa - diferentemente do ar puro e singelo do antigo aposento ocupado por Caitríona, o quarto do duque era em tons dourados, com quadros da escola rococó pelas paredes, reproduzindo as várias faces de Cumbria Manor, além do carpete florido, em tons de vinho.

Centralizado no quarto, estava a cama king-size, com uma cortina em tons de rosa fortíssimo, as cortinas amarradas e, no meio da cama, Kat se encontrava dentro das cobertas, já com roupa de dormir, os cabelos soltos descendo pela almofada, ligeiramente pálida.

Ao seu lado, Peter tocava no edredom, conversando com alguma coisa... "Ou alguém. Meu filho está conversando com o irmão", pensou Ferguson, antes de se recompor e falar tanto com o médico quanto as criadas no entorno.

- Sr. Caspian, como está minha esposa?

O médico, um senhor de meia idade, postura encurvada e óculos pendurados no nariz, ainda era bastante arguto e de respostas rápidas.

- Grávida, milorde, de três meses.

- Três meses? – Ferguson olhou para Kat, que abaixou o rosto, envergonhada.

- Peço desculpas, Ferguson... Perdão por não ter notado...

O duque conseguiu ouvir a voz quebrada da jovem, querendo chorar, e a única coisa que ele não queria era vê-la se culpando por não ter notado seu estado. Como exigir aquela percepção de Kat, que até pouco tempo antes vivia em um convento?

- Não fizeste nada de errado, minha doce Kat... – aproximou-se da esposa, segurando sua mão, enquanto observava Peter deitado onde ele inferiu ser a barriga de Kat. Voltou a atenção para o menino e perguntou:

- O que estás fazendo, Pedrito?

- Tentando ouvir a vozinha dele.

- Ainda é pequeno, vai demorar um pouco para falar.

- Mas falarei com ele mesmo assim. – o menino respondeu com o temperamento que se esperava do próprio Ferguson, e logo depois voltou a conversar com a barriga, dizendo: - Eu vou protegê-lo como irmão mais velho, e só andará em Maldoso se eu estiver olhando.

- O menino há de ter o mesmo gênio que o vosso, milorde... – retrucou Sr. Caspian, ao que Ferguson respondeu:

- Como deve ser. Quais serão os próximos passos? Minha esposa deverá ficar em repouso?

- Ferguson... – tentou responder Caitríona. – Não posso ficar o dia inteiro na cama-

- Estás grávida e és frágil. Não quero que te machuques.

- E eu sou o médico, lorde Cumberland. A duquesa desmaiou, por isso que estou aqui. Ela é frágil, sua constituição física é quebradiça, obviamente precisa de repouso e alimentação reforçada.

Martha, Otis e os outros funcionários acompanhavam as falas do médico, atentos.

- Sopas, por agora, depois ela poderá comer sólidos. Caminhar pelo jardim, apenas quando estiver melhor, e não deve segurar coisas pesadas, nem caminhar por aí com mestre Peter.

- Não, doutor! - O menino se envolveu. – Mamãe ficará no quarto, como o senhor mandou! Vou proteger meu irmãozinho!

- Se for uma irmãzinha, Pedrito? – Kat passou a mão nos cabelos da criança, a cada dia mais vivo, esperto e com respostas rápidas.

- Protegerei ainda mais, porque as moças precisam ser protegidas dos rufiões.

Todos na sala arregalaram os olhos em choque com as palavras ditas sem filtro algum por Peter.

A TentaçãoOnde histórias criam vida. Descubra agora