O veneno da serpente

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O homem seguiu o conselho dos colegas que conheceu na estalagem, e decidiu ir até Cumbria Manor a fim de pedir uma ocupação. Sabia que seria questionado por servos do duque, funcionários da administração, ou mesmo o próprio Cumberland – de acordo com os homens, ele era uma figura um tanto desconfiada, e era importante que o loiro não reparasse ou "maldasse" o fato de Angus Bruce Ferguson ser escocês.

- Eu nem gosto de escoceses, mas se ele nos sustenta e nos coloca comida no prato, ando até com a bandeira daquele povo! – comentou um deles, com deboche visível no tom de voz.

O forasteiro não se importou. Seguiu a cavalo pela estrada, de acordo com a indicação de onde era o grande portal que dava acesso à maior propriedade da região. Contudo, desviou rapidamente o caminho por uma parte da floresta onde ele sabia que não o veriam se esconder. Ele precisava informar seus planos, e definir os próximos passos.

Algumas horas depois, esse mesmo homem seguiu até o portão que dava para a entrada de Cumbria Manor. Percebeu um colono fazendo a limpeza de ervas daninhas no entorno do muro e pediu algumas informações:

- Oi, bom dia!

- Bom dia, moço... – o homem o cumprimentou com um menear de cabeça e prosseguiu seu trabalho. – O senhor está procurando alguém?

- Um trabalho. Preciso de dinheiro para me sustentar e juntar uns pennies para me mudar lá pro outro lado do oceano.

- Muita gente está fazendo isso, sabe? Eu continuo aqui com minha família porque a vida é tranquila, a ajuda e a proteção de Sua Graça o duque garantem nosso sustento.

- Crês que há algo pra mim, nem que seja pra limpar chão, ou bosta de cavalo?

Os dois riram.

- Sempre tem algo. Você pode interceder com a duquesa. É uma alma boa, gentil, uma santa de verdade. Ou então falar com o Sr. Dwight, o administrador, que encontra um lugarzinho pra você.

Sorriu. Poderia trabalhar ali, finalmente.


- Milorde aceitou algum novo funcionário recentemente?

Ferguson estranhou a pergunta vinda do administrador. Os dois conversavam sobre as finanças da propriedade e possíveis reformas futuras nos estábulos, e repentinamente Sr. Dwight surgiu com aquele questionamento.

- Não que eu saiba... Ocorreu algo?

- Um de nossos funcionários, que faz a manutenção dos muros, informou sobre um senhor interessado em trabalhar em Cumbria Manor. De acordo com Finnegan, seria temporariamente; esse homem, um forasteiro, queria juntar dinheiro para sair do país. Mantemos sempre as portas abertas para quem queira trabalhar, mas é raro termos gente que não é da região por aqui na nossa folha de pagamento.

- Sim, verdade. – o escocês cruzou os braços. – Além disso, com essa história dos salteadores, cujas identidades não sabemos, todo cuidado é pouco. Peça a Finnegan que apresente este possível funcionário, e todos os novatos podem vir aqui mesmo em seu escritório, a fim de conversarmos e saber se são pessoas de bem ou não.

Sr. Dwight concordou com as considerações do duque. Era uma decisão estratégica também; afinal de contas, salteadores estavam circulando pela região, e um pouco de cautela se apresentava como fundamental a fim de impedir que pessoas com más intenções entrassem na casa.

Ferguson também se preocupava com sua esposa. Kat vinha sendo bem cuidada, mas não queria que ela se assustasse, ou ficasse nervosa, em especial com os perigos no entorno vindos dos bandoleiros. A prioridade para Ferguson era o bem-estar da esposa e do filho que esperavam.

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