Eu desenrosquei o enrosco deste capítulo no feriado, aproveitando que hoje é São João.
A propósito, alguém interessada numa aulinha extra de Ferguson?
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Ferguson não sabia o que esperar da resposta de Kat à informação de que ele fora o responsável pela prisão dos Astor. Ele duvidava de que sua esposa tivesse interesse em conviver com o resto da família, mas Kat não tinha dado nenhuma determinação a respeito de prisões, detenções, ou qualquer coisa parecida com aquilo.
Por isso, preferiu aguardar um momento específico até explicar o que ocorrera com os Astor; mas "a boca grande daquela rainha desocupada" atrapalharam seus planos.
- Por que você não quis me dizer a respeito da detenção de meu tio e Johanna?
- Eu não queria preocupá-la, e também temia por sua reação. Sei que é de sua personalidade perdoar as pessoas, mas eu não sou assim, Caitríona. Eles lhe fizeram muito mal, e atentaram contra sua honra e moral não apenas uma vez. Eles precisavam pagar os seus atos. Eu os denunciei anonimamente e entrei em contato com seus credores, prometendo apoiá-los. Fiz e não me arrependo.
Kat caminhou pelo escritório, com as mãos cruzadas pelos dedos, olhando mais para o chão do que o marido. Depois, concentrou-se encara e percebeu o ar preocupado por trás de seus olhos verdes: era visível que ele ansiava por uma resposta de Kat, e a jovem notou a preocupação de Ferguson em não tê-la magoado ou ofendido por sua decisão.
- Não posso criticá-lo por sua decisão, fizeste a coisa certa... Minha família está infelizmente colhendo o que plantou. Não posso... Não posso passar a mão na cabeça como se fosse apenas a falta de uma criança imatura. As instâncias de lei e de ordem já estão presentes para fazer valer a punição necessária.
A voz embargada da esposa, tentando a todo instante não sucumbir à vontade de chorar - por mais que Astor e os outros tivessem feito mal, ainda tinha por eles sentimentos que ela albergara quando pisou na Inglaterra – chamou a atenção de Ferguson. Kat esperava pelo afeto do tio, pensando ser um padrinho, da mesma forma como ele se disse tão próximo de seu pai. Ela jamais imaginou, contudo, que os dois não eram apenas amigos, e sim irmãos. E um deles apunhalou a filha do outro da pior maneira.
O duque abraçou a jovem como uma forma de consolo, mas ele queria mais: ansiava pelo calor do seu corpo, pela doçura de sua voz e a maneira como Kat o acalmava. Era a maneira silenciosa que ele encontrou para agradecer à jovem por não tê-lo criticado ou questionado por sua decisão unilateral.
- Não chore, Kat... Vamos descansar um pouco e nos arrumar. Hoje teremos um evento para ir.
A jovem sabia exatamente do que se tratava. Se fosse em qualquer outra situação, recusaria veementemente estar presente no mesmo lugar que Mitchell Flynn. Mas aquele era um mundo de aparências, e ela era a duquesa de Cumberland, de relação íntima com Sua Majestade A Rainha, e as máscaras sempre seriam usadas.
Aprendeu rapidamente o quanto aquele mundo era, em essência, uma grande fachada, e sentiu-se aliviada em saber que sempre ficaria em Cumbria Manor ou Lowlands Castle, onde tais máscaras não eram usadas.
Assim, lá estava ela e seu marido entre os convidados do noivado de Mitchell e a herdeira da Jamaica.
Ferguson conhecia aquela residência: visitara o barão em outra oportunidade, quando ele revelou a extensão da perfídia de Charlotte no passado. Mas agora, encontrava-se em uma outra posição, a de convidado respeitado por todos, o duque temido.
Caminhava de braço dado com a esposa, altivo, uma das mãos no bolso do casaco preto, para depois desabotoar a roupa, ficando ligeiramente mais informal, mas não o suficiente. A ideia era demonstrar força - mesmo com o vestuário formal, de festa, era visível que a calça preta, o colete cinzento e a camisa branca com a gravata azul-marinho não comportavam a imponência de sua força física, o poder mostrado em sua postura, não o comprimiam, apenas o expunham e o colocavam como alguém distinto dos outros nobres convidados - até mesmo do noivo.

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A Tentação
RomansaIrmã Catalina vive no México, no claustro. Entre a rotina dos cuidados com outras freiras e a alimentação dos mais necessitados, o futuro da religiosa parece definido: servir a Deus e ajudar os pobres. Um dia, a jovem recebe uma carta de seu padrin...