Serpentes no cesto

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Este capítulo demorou um pouco porque ficou meio intrincado no miolo. 

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Antes do chá com a rainha, o duque e duquesa de Cumberland foram convidados para um baile que seria uma recepção ao jovem casal, por ser a primeira vez que estavam em Londres.

- Infelizmente, eu creio que a família de teu padrinho estará no evento, mas não te preocupes, Caitríona. Ninguém se aproximará de ti.- comentou Ferguson, enquanto arrumava o lenço de seda azul-marinho dentro da camisa.

- Eu não acredito que eles falarão algo... Percebi que a aristocracia preza... Bastante as aparências... - respondeu a jovem, a voz baixa apenas ao saber da presença dos Astor no baile.

- Sim... Usual para toda família na bancarrota, especialmente nobres decaídos. - caminhou pelo quarto onde sua esposa se encontrava instalada, e procurou na penteadeira algumas joias.

Em viagens, Ferguson solicitou a Kat que sempre levasse em uma caixa fechada a cadeado algumas peças da coleção tanto dos Cumberland quanto as joias de Claire Ferguson, a falecida lady, por considerar que ela poderia participar de algum baile ou evento íntimo - como um chá no palácio da rainha. Para a jovem, era difícil selecionar entre tantos modelos elegantes e requintados algum que combinasse com ela, alguém dotada de pouca ou nenhuma vaidade.

Assim, foi o próprio Ferguson quem selecionou as joias para a duquesa: um conjunto que pertencia à sua mãe - um colar de esmeraldas com duas voltas, que fazia jogo com o brinco e anel solitário, de mesma pedra.

Naquela noite, Ferguson não tocou na esposa de maneira maliciosa: prendeu o colar de maneira singela e a ajudou com o par de brincos inocentemente.

O vestido com camada de seda era em tom de cobre, com detalhes de flores na cor vinho. A manga, com babados de renda negra, descia até pouco antes do cotovelo, e o discreto decote parecia ser feito sob medida para a jovem duquesa, sempre modesta. Os cabelos, dispostos em um coque simples, a conferiam elegância ao estilo, destacando as joias dos Ferguson.

Não seria a mulher mais exuberante do baile, porém Caitríona Sheehan Ferguson intrigava mais. A duquesa de Cumberland, que podia surgir no salão com todo o apuro e fausto de sua posição, apresentava-se singela e doce - e aquilo a tornava ainda mais curiosa e o centro das atenções.

- Pronto. Estás uma verdadeira duquesa.

Kat sorriu. Sentia-se agradada em um lado íntimo do ser, quando ouvia elogios de seu marido.

- Apenas espero que as pessoas não sejam tão maliciosas quanto naquele baile que fomos em Cumbria.

- Aristocracia é maliciosa independentemente do lugar, Caitríona. Não ficaremos muito tempo. Apenas circular, ver, sermos vistos. Além disso, amanhã teremos o chá com a rainha, a nossa única preocupação, mais importante do que meros bailes. - deixou o braço já pronto para que ela o aceitasse, e a jovem assentiu, visivelmente mais confortável ao lado de seu marido.

Para Kat, especialmente após os momentos íntimos que vivera ao lado de Ferguson, conviver com ele era uma surpresa a cada instante. Seu marido era preocupado com a sua reputação e o seu bem-estar; queria vê-la feliz, e agradada sem se preocupar com coisa alguma. A jovem precisava se acostumar ao fato de que Ferguson só queria o bem dela; e cada um momento um pouco mais intenso era uma aproximação natural entre marido e mulher.

Ao mesmo tempo, ela gostava daquela aproximação. Sentia-se diferente... Protegida. Não da maneira que era protegida quando criança, na sua infância idílica em Bermuda. Ferguson, na verdade, cuidava dela de uma forma diferente: a protegia em seu abraço, que a envolvia em todo o corpo, e ela sentia naquele abraço de um homem tão maior, tão mais imponente que ela, que nenhum mal a atacaria.

A TentaçãoOnde histórias criam vida. Descubra agora