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Como toda vida, a minha começa com uma mãe. E a minha era das melhores. O tipo de pessoa que não tem medo de nada e de ninguém. Ninguém mesmo.

Ela citava Dylan Thomas sempre que podia, e eu só não entendia muito bem se era porque ela o admirava como poeta ou se o admirava como ser humano, já que sempre achei que Dylan Thomas não era nenhum exemplo a ser seguido.

Como toda vida, a dela chegou ao fim, e no dia em que ela morreu, eu quem a encontrei.

O ônibus escolar me deixou no início da rua e me despedi dos meus melhores amigos, dois gêmeos idênticos que moravam algumas casas depois de mim.

Will e Kyle me parabenizaram por ter tirado a melhor nota da turma na redação e eu agradeci, correndo para mostrar o papel para minha mãe.

Parei de correr quando a vi.

Seu corpo pálido estava largado de um jeito estranho no chão e o revólver permanecia na sua mão direita, oposto a grande mancha de sangue que saia da sua cabeça e encharcava o carpete bege.

Tudo se tornou um borrão.

Liguei para o 911 e a atendente ficou na linha comigo por vinte minutos até que as viaturas chegaram e levaram minha mãe embora. O policial baixinho e rechonchudo me deu um cartão de uma empresa especializada em limpar casas depois de crimes violentos, mas não me mexi, e a mancha continuou lá.

Olhei para ela. Parecia com um personagem de desenho animado. Me perguntei se minha mãe também acharia isso engraçado.

A vizinha, Senhora Bilson, uma velhinha miúda e de cabelos brancos se ofereceu para tomar conta de mim até o governo contatar meu pai.

A casa dela cheirava a menta e o pelo dos seus gatos fazia meu nariz coçar.

Eu gostava.

Na sexta, Will me trouxe um ensopado.

Os ensopados continuaram chegando. Frango, carne, peixe. No sábado, os ensopados haviam lotado as duas geladeiras da Senhora Bilson.

No domingo, uma assistente social me mandou arrumar as malas. Na segunda, Kyle disse que sentiria minha falta.

— Sinto muito.

O abracei.

— Eu também.

Minha mãe era destemida, apaixonada, sábia, bonita e mais um milhão de coisas, mas era egoísta. Porque é isso que o suicídio é: a coisa mais egoísta que alguém pode fazer.

Mas eu ainda a amava como nunca amara alguém.

Um dia estávamos colocando as compras no porta malas do carro e eu a contava sobre o último livro que tinha lido. Eu devia ter uns doze anos e resolvi perguntar o que ela achava que era o amor. Ela riu, eu me ofendi.

Na época, eu realmente achava que Johnny Depp seria meu primeiro namorado real.

— Você quer uma resposta séria? — Sua expressão mudou. — Está vendo essa tatuagem? Aqui diz "zwischen immer und nie", "entre sempre e nunca".

— Não entendi.

— Mas vai entender um dia, então terá a resposta da sua pergunta. — Ela passou a mão pelo meu cabelo. — Quando perceber que aprendeu a amar com altruísmo, quero que faça uma tatuagem. Do tamanho que quiser, não importa. Apenas faça.

Prometi a mim mesma que faria.

Li em uma revista que existem cinco estágios do luto: Negação, raiva, barganha, depressão e aceitação.

Eu passei por todos eles em cinco dias. Cinco malditos dias. Quando me acomodei no pequeno quarto de hóspedes da Senhora Bilson, pensei que podia ser só um engano.

EVERMORE 𑁋 EDWARD CULLEN.Onde histórias criam vida. Descubra agora