lunch

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Tenho poucas lembranças ruins da minha infância.

Nossa antiga casa amarela no Michigan, fruto da herança dos meus avós, era grande demais para duas pessoas.

Nós não vivíamos uma vida realmente confortável e precisávamos de uma renda extra, o que levou minha mãe a dividir a casa em quatro pequenos apartamentos.

Um deles era alugado por um jovem casal de russos que tentava ganhar a vida nos Estados Unidos, Anna e Alexei.

Anna era uma mulher loira com sotaque forte. Minha mãe a achava muito parecida com a Keira Knightley, mas na época eu não via semelhança alguma entre as duas.

Anna passava os dias cuidando da casa, esperando Alexei voltar do trabalho. Às vezes, quando minha mãe não podia cuidar de mim nos finais de semana, brincávamos de esconde-esconde ou íamos juntas ao super mercado.

Anna dizia que gostava de mim porque eu a fazia ficar mais perto de seu sonho de ter filhos; Sonho que nunca seria realizado, porque ela dizia não ser egoísta a esse ponto.

Nunca entendi o que aquilo significava.

A vida de Anna e Alexei sempre foi muito discreta. Ele parecia um cara bacana. Sempre me dava balas de caramelo e trazia jornal para minha mãe todas as manhãs.

Como já disse, não tínhamos muito dinheiro. As paredes usadas para dividir os cômodos eram feitas de material barato, o que deixou os apartamentos com uma péssima acústica.

Todas as noites ouvíamos barulhos de choro e baques surdos no chão, mas minha mãe justificava tudo: "Alexei e Anna estão só jogando twister, talvez amanhã você possa jogar também."

Eu tinha oito anos, então apenas me conformava e voltava a me concentrar em fazer minhas bonecas Barbie terem um penteado legal.

Alguns dias depois do meu aniversário de dez anos, Alexei foi demitido da fábrica onde trabalhava e os dois voltaram para a Rússia. Nunca mais os vi.

Assim que entendi o que realmente acontecia, fiquei com raiva do silêncio de minha mãe. Brigamos muito, até que eu finalmente soube o por quê de ela não falar nada.

Não havia realmente muito o que fazer para ajudar uma vítima de violência doméstica naquela época. Os Estados Unidos não são um exemplo de gentileza com estrangeiros, - principalmente russos - mulheres e pessoas negras.

Posso confirmar esse último.

Prometi a mim mesma que jamais seria como Anna.

Acordei pensando no passado.

Fazia algum tempo desde que a mancha de sangue assustadora não dava as caras em meus sonhos - desde que me adaptei a Forks -, mas aconteceu dessa vez.

Tomei um banho rápido e vesti uma roupa simples: botas, saia e camiseta. Eu não estava com muito ânimo para manter o estilo casual chic habitual.

Saboreei uma xícara de café preto enquanto esperava Bella e Charlie acordarem.

Charlie achou melhor dar um jeito de comprar um carro para mim antes do compromisso com os Cullen para que eu não dependesse tanto de caronas, então acabamos em uma pequena concessionária de seminovos em Seattle.

- Vocês tem algum modelo em mente? - perguntou Calton, o vendedor engomadinho que não parava de secar Bella.

- Nenhum modelo em específico, mas tenho preferência por um conversível ou um sedan. - falei.

- Tenho um Volvo que acho que vai gostar - ele pareceu animado. A comissão deve ser grande. - Volto já!

Passei meu peso de um pé para o outro, sentindo o olhar de Charlie me analisar.

EVERMORE 𑁋 EDWARD CULLEN.Onde histórias criam vida. Descubra agora