6. A livraria

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ABRIL DE 1833,

O DESTINO CONSPIRA POR SIMON MAIS UMA VEZ.

Cavalos, carruagens ou qualquer outro item caro eram o que os cavalheiros se orgulhavam de dizer que possuíam, alguns até mesmo tinham coleções de itens caros, e as damas mostravam sua riqueza com guarda-roupas abarrotados e perfumes caros.

Simon orgulhava-se em dizer que possuía uma extensa coleção de livros que crescia desde que ele fora adotado por Joe e Alice Campbell, principalmente sua coleção de Medicina com volumes que eram considerados raros. Aqueles guias e estudos que ele tinha em casa eram seu orgulho e, por mera curiosidade exploratória e a desculpa de que precisava de um novo volume para as suas aulas, Simon tinha ido à Livraria Trevallon naquela tarde, a maior e mais famosa livraria de todo o reino e que ficava a poucos metros do castelo, em um ponto muito movimentado da cidade. Ele pretendia passar a tarde estudando lá, já que estava preocupado com aquela prova que o professor disse que decidiria o destino de cada um na Escola Real de Medicina, então tinha levado o seu material de estudo e o deixado em uma mesa no espaço de estudos antes de se dirigir para a área de compras onde as enormes prateleiras dividiam o ambiente. A dona da livraria, uma senhora muito simpática e sorridente, tinha indicado a ele a seção de Medicina e Simon tinha seguido diretamente para lá, olhando título por título em uma forma de diversão que ele cultivava desde muito cedo.

E então, foi naquele momento que Simon teve certeza que, independentemente de como as pessoas chamassem aquilo – destino, coincidência ou Deus –, estava favorecendo-o. No segundo corredor da seção de Medicina da Livraria Trevallon, a Srta. Hildegart estava folheando um volume enquanto conversava em sussurros com um rapaz alto e de cabelos castanhos que parecia terrivelmente entediado.

Simon nunca se considerara uma pessoa intrometida ou que gostava de fofocas, mas foi instintivo que ele se aproximasse para ouvir sobre o que falavam, fingindo estar distraído lendo um livro.

- Você sabe que, se fosse para todos saberem, não se chamaria trabalho secreto. – O rapaz falou em um sussurro.

- Você sabe que, se eu já sei, não é secreto. – Rebateu a Srta. Hildegart.

Simon estava de costas para ela, então não podia ver suas expressões.

- Eu não vou contar, Sarah. – falou o rapaz. – Meu emprego corre risco se as pessoas souberem o que eu faço, seria irresponsável sair contando meus trabalhos para os outros.

Ele era um traficante ou um criminoso? Simon pensou com ironia, virando uma página do livro que fingia ler.

- Olhe só! – ela falou em um sussurro irônico. – O grande Samuel Hildegart, irresponsável de carteirinha, se tornou alguém que tem um emprego importante e ainda fala sobre responsabilidade.

Simon ouviu um suspiro do rapaz.

- Não sou mais o mesmo de quando morava em casa e você sabe bem. – respondeu ele.

Outra página foi virada por Simon e ele ouviu um livro ser fechado, provavelmente o da Srta. Hildegart, que deu alguns passos com seus sapatos de salto pelo piso de madeira, fazendo barulho.

- Eu sou sua irmãzinha, Sam! – ela exclamou mais baixo ainda e Simon quase não ouviu o que ela disse em seguida.

Houve outro suspiro do rapaz, este parecendo ser de derrota.

- Tudo bem! – Ele sussurrou. – Vou dizer apenas que é algo para a Coroa, diretamente ligado à família real.

- Sobre o rei? – a Srta. Hildegart indagou mais alto. – Vai investigar os boatos sobre a morte dele?

Os sintomas do amorOnde histórias criam vida. Descubra agora