1. Baile de máscaras

877 87 21
                                    

MARÇO DE 1833,

SARAH DEBUTA NA ALTA SOCIEDADE DE GRUFFIN.

Armaduras prateadas estavam fora de moda há pelo menos alguns século, assim como príncipes encantados eram superestimados pelas donzelas sonhadoras que causavam os próprios apuros. Sentar-se e esperar que seus sonhos se realizassem não era do feitio de Sarah Hildegart. Se Nate era fogo, Sarah era um incêndio completo. Seus cabelos acobreados que pareciam em chamas demonstravam isso, assim como seus olhos castanhos e astutos demonstravam que ela não estava para brincadeira quando dizia que seria médica um dia.

Com cinco cartas de recomendação dos seus tutores, uma comprovação de renda altíssima graças ao título recente de seu irmão, uma redação correspondendo aos critérios exigidos e excepcionalmente bem redigida, além de um histórico de notas impecável, não haviam motivos para Sarah ter seu primeiro pedido de matricula recusado. Nenhum motivo, é claro, além do fato de Sarah não ter algo considerado essencial para ser respeitado e privilegiado na sociedade em que vivia, um pequeno detalhe na sua anatomia que – falando como uma futura médica que conhece o corpo humano e não tem receio de falar sobre ele – chamam de pênis e que classifica o ser humano como sendo do sexo masculino.

Mas se pensavam que Sarah desistiria fácil assim, estavam muito enganados.

Ela fez outra solicitação, deu a eles o que queriam ver e provou que o preconceito era o que movia a sociedade. Sarah fora aceita com sua segunda solicitação e deu início à segunda fase do seu plano para ser uma grande médica: convencer sua mãe de que iria para o continente estudar e que não se casaria logo na sua primeira temporada.

Contrariando tudo que Sarah imaginara, Margot aceitou isso e impôs duas condições, Sarah teria seu début na sociedade antes de partir e permitiria que a mãe lhe arranjasse um esposo. Ela não se importava com nenhuma das duas coisas, iria à um baile de máscaras que dava início à temporada social de 1833 em Gruffin, embarcaria para o continente em duas semanas e, ao voltar para casa, ela daria um jeito de se livrar do casamento que a mãe arranjasse para ela depois que ela se formasse. Pela primeira vez, Sarah sentia que seu sonho estava prestes a realizar-se.

- Sarah Jane, lembre-se de tudo que eu te disse. – Margot alertou à filha, as duas na carruagem e em direção à Casa Campbell para o baile. – Precisa causar uma boa impressão hoje se não vai estar ativamente na alta sociedade.

Ela estava tão feliz que apenas sorriu e concordou com a mãe enquanto a carruagem começava a parar no fluxo de carruagens em frente à casa do duque de Gruffin. Sarah não via motivos para discutir ou brigar, ela iria para o continente em duas semanas e estudaria Medicina, nada mudaria isso.

O cocheiro ajudou Margot a descer primeiro da carruagem, então ajudou Sarah. O vestido dela era todo em um degradê de ocre e encrustado com pedras, combinando com a máscara que ela prendia ao rosto com a ajuda da mãe. Sarah ergueu o olhar para a fachada da Casa Campbell e preparou-se para entrar enquanto Nate colocava-se ao lado dela e Margot do outro, como mandavam os costumes para uma dama ser apresentada à alta sociedade.

Sarah enfrentou a caminhada para dentro do salão como apenas mais um passo para realizar o seu sonho. Vários olhares de cavalheiros e de outras damas recaíram sobre ela e Sarah sentiu-se vacilar um pouco, agarrando-se ao braço de Nate como apoio pois, ao vê-lo, os outros cavalheiros recuavam o olhar, certamente com medo da expressão fechada do conde.

- Lembre-se de manter o sorriso. – Margot alertou à filha. – Sorria e seja educada, Sarah. Não negue uma dança sequer.

Ela revirou os olhos, incapaz de se conter.

Os sintomas do amorOnde histórias criam vida. Descubra agora