24. A revolução

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JULHO DE 1833,

SIMON E ELOÁ DESCOBREM QUEM PODE ESTAR POR TRÁS DO SEQUESTRO.

O silêncio tinha caído de maneira pesada sobre o porão após algumas horas. Simon permanecia sentado ao lado da tia e aproveitava enquanto ainda tinha orelhas e dedos.

O ambiente úmido e escuro era iluminado apenas por três pequenos pedaços de velas que estavam espalhados pelo local, apenas as roupas que tinham em seus corpos lhes forneciam calor e a princesa estava colada à Simon para dividirem o calor corporal conforme a madrugada adentrava-se. A fome estava matando Simon, já que ele não tinha nem almoçado depois da sua discussão com Sarah.

O peito dele apertava-se ao sequer pensar nela. Sarah estaria sentindo a sua falta em casa ou estaria feliz de ele não ter voltado? Ela se importaria se ele nunca voltasse? E, se ele voltasse, o que Sarah faria?

A porta se abriu com um estrondo e um rangido, parecia estar emperrada no arco de pedra, e o homem grandalhão que os sequestrara colocou seu corpo para dentro, olhando na direção dos dois com um olhar severo por trás daquele lenço negro no rosto.

- É bom ver que ainda estão vivos. – Disse ele, caminhando até a mesa e olhando os documentos dispostos sobre ela, a abdicação de Eloá ou a implantação do parlamentarismo em Fernsby. – Mas não estarão vivos em breve se esses papéis não conterem um rabisco até o meio-dia. Já está quase amanhecendo.

Eloá se empertigou ao lado de Simon.

- Também não estaremos vivos se não nos alimentar ou nos der água, então ninguém assinará seus papéis. – Disse ela. – E também não conseguirei assinar se tremer de frio até a morte.

O grandalhão soltou um grunhido irritado e deu as costas aos dois.

- Vou mandar algum bastardo trazer comida e um cobertor. – Disse ele, chegando à porta. – Mas espero que decidam logo o que farão, ou então as coisas vão começar a ficar mais agitadas aqui.

A porta bateu quando ele saiu e Simon se virou para a tia.

- Por que não assina logo um desses papéis? – Indagou. – Se abdicar, o tio Anthony assume, e se implantar o parlamentarismo, continua sendo a maior autoridade.

Eloá deu um olhar irritado para ele.

- Não vou abdicar. – Disse ela. – E, quanto ao parlamentarismo, somente um monarca pode fazer isso, e eu sou só uma regente.

Simon suspirou.

- Tia Eloá, eu amo muito as minhas orelhas e meus dedos, não quero perder nenhum deles. – Disse Simon. – Resolva logo isso para sairmos daqui.

Eloá riu.

- Acha mesmo que vão nos soltar depois que eu assinar a renúncia? Não, Simon, eles não vão nos soltar. – Ela falou, usando o tom de quem fala com uma criança. – E, se eu fizer isso, estarei dando o que eles querem, estarei mostrando que as mulheres não têm forças.

Eloá se levantou e começou a andar no perímetro que as correntes permitiam.

- Quem poderia ganhar com a minha abdicação ou com a implantação de um Parlamento em Fernsby? – Ela indagou.

- O tio Anthony. – Sugeriu Simon. – Ele seria indicado à regente. Ou a vovó Kate.

Eloá parou, olhou para Simon, os olhos dela se arregalaram.

- Não. – Declarou ela. – Se o regente morre, um novo é nomeado, mas, se ele abdica, a Câmara dos Lordes nomeia um regente. Isso quer dizer que alguém dentro da Câmara está por trás dessa revolução idiota.

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