9. Primeiros sintomas

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ABRIL DE 1833,

"NÃO ME SIGA."

Arruinada. Arruinada. Arruinada.

A palavra se repetia constantemente na mente de Sarah conforme ela andava de um lado para o outro. Não era o fato de que boatos seriam gerados ou que ela fosse ser obrigada a casar-se com Simon Campbell para evitar escândalos para sua família, mas sim o fato de que ela podia ser expulsa da ERM e seu sonho teria fim, ou – pior ainda – que ela seria obrigada a se casar e assinar o sobrenome de qualquer outra pessoa que não o seu caso ainda conseguisse manter o seu lugar na Escola Real de Medicina. Ela tinha lutado para ser a Dra. Hildegart em alguns anos e não a Dra. Qualquer-Outra-Coisa.

Arruinada.

- Sarah, acalme-se! – ele pediu, sentado pacientemente na cadeira atrás do balcão. – Ninguém vai nos descobrir aqui e você não será arruinada.

Ela tinha que admitir que poderia ser bem pior, ela podia estar trancada ali com qualquer um daqueles rapazes da universidade que não eram nem um pouco receptivos com uma dama que desafiara o sistema, e ser Simon quem estava ali. Mas Sarah não queria pensar nisso, não era melhor que fosse ele, era melhor que nenhum dos dois estivesse ali. Ela parou e se virou para Simon.

- Pode garantir isso? – ele ficou em silêncio e Sarah cruzou os braços. – Isso mesmo, você não pode garantir!

- Vou encontrar uma forma de sairmos daqui. – Simon falou. – Nem que tivermos que quebrar uma janela.

Ela voltou a andar de um lado para o outro. Simon se levantou e parou na frente dela, atrapalhando seus passos. Sarah olhou nos olhos dele. Ele segurou-a pelos ombros.

- Aclame-se. – pediu ele suavemente.

Sarah inspirou profundamente e expirou lentamente, abrindo e fechando as mãos para tentar se acalmar. Parecia estar funcionando, então ela continuou.

- Eu não posso perder aquela avaliação de amanhã e não posso ser arruinada. – Ela falou, encarando os olhos azuis dele no escuro.

- Você não vai. – Simon garantiu.

A confiança dele parecia estar tornando-a mais confiante também. Tudo ficaria bem e ela seguiria sua vida normalmente.

- Lembre-se que a minha tia gostou de você e pode ajuda-la, se precisar. – Ele falou, a sua voz mais baixa que antes. – Não vai haver um escândalo e nós vamos fazer aquela avaliação, mas se isso não der certo, não vou deixar que a expulsem.

Ela repetiu seu exercício de respiração e fechou os olhos por um momento. Sarah nunca tivera uma crise de pânico, mas, pelo que todos descreviam, ela podia estar tendo uma naquele exato momento, ela sentia o coração acelerado e as mãos transpiravam, sua mente pulava de pensamento em pensamento, mas ela não conseguia focar nenhum. Ela repetiu o exercício mais algumas vezes e expirou lentamente pela boca, sentindo que estava melhorando, então ela apenas focou no escuro por trás de suas pálpebras fechadas e na sensação do toque de Simon nos seus ombros.

Por que ela se sentia tão segura com ele? Por que o perfume dele sempre lhe parecia algo tão bom e a companhia dele tão fácil? Por que, apesar de não querer, Sarah pegava-se sempre observando-o discretamente e catalogando as manias que ele tinha e nem sabia, como aquela de morder o lábio enquanto assistia as aulas concentradamente ou a de ficar passando as mãos pelos cabelos quando estava lendo algo importante?

Sarah abriu os olhos lentamente e encontrou os olhos dele fixos nela, as mãos dele ainda nos seus ombros, e seu coração se precipitou.

- Melhor? – indagou ele, a voz baixa.

Os sintomas do amorOnde histórias criam vida. Descubra agora