Capítulo 23

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Capítulo 23

A minha cabeça estava a mil devido aos acontecimentos. Não bastava o inferno que havia sido o início de tudo, agora eu tinha que me preocupar com a desmiolada da minha irmã.
— Agora você vai voltar com eles? — perguntou meu pai, quando todos já estavam me esperando do lado de fora da casa. Enzo me levou de volta ao escritório, para podermos conversar melhor, mesmo que não tivéssemos tanto tempo assim.
Havia uma expectativa em sua voz, que eu desconhecia. Não poderia ser diferente, afinal, apesar dele ser o meu pai, na minha vida era um estranho. Um estranho que eu tinha ouvido horrores dele, e que ali, na minha frente, estava um homem diferente do que foi desenhado para mim. Não que eu acredite em regeneração total, mas acredito que as pessoas podem conseguir se tornar seres humanos melhores.
— Eu fiz uma promessa ao senhor e irei cumprir. Quero que todos saibam que Ana Delmondes Mazzini, tem honra. Só assim para começar a ganhar algum respeito dos outros — estava na hora de começar uma imersão naquele mundo de uma só vez. A antiga Ana tinha que sumir, para uma nova começar a construir um caminho diferente do que estava habituada.
— Preciso que fique segura... — disse Enzo, nitidamente preocupado.
— Acho que é impossível. Desde do início de tudo, o perigo era na verdade alguém próximo dos Castello. Não posso deixar que Salvatore leve a melhor, mesmo que eu não saiba o que fazer...
— Você me lembra muito a sua mãe, Ana — ele abriu uma das gavetas da escrivaninha e tirou de lá uma caixa pequena de madeira, toda trabalhada em entalhados de folhas de ouro — um pai normal daria uma casa, um carro ou até mesmo coisas convencionais, porém, eu não sou um pai normal. A frase “se arrependimento matasse” caí como uma luva no que eu sinto agora — ela colocou a caixa sobre a mesa e abriu, tirando de lá uma arma banhada em ouro com o meu nome gravado no cabo.
— Eu não sei nem o que fazer com uma arma — brinquei com ele, o fazendo sorrir. O sorriso que ele me deu foi genuíno — da última vez, acertei o Salvatore...
— Então você já começou fazendo o certo — disse pondo a arma de volta na caixa, fechando e entregando para mim.
— Obrigada pelo presente antecipado — peguei a caixa de suas mãos e a segurei com cuidado.
— Melhor do que ganhar um carro... — ele brincou. Será que seria assim, quando eu fosse morar com ele? Relação pai e filha não era bem a minha praia, mas eu estava disposta a tentar. E pelo jeito ele também estava, e isso seria bom ter um pai.
— Vou esperar o próximo aniversário. Vai que eu dê sorte — ironizei tentando esconder o clima embaraçoso — tenho que ir.
— Alguns dos meus homens irão com você, para dar apoio ao Castello nas buscas pela sua irmã — informou ele, se sentando na sua cadeira, enquanto eu permanecia de pé.
— Eu agradeço. Ainda preciso compreender o que aconteceu com ela e esse envolvimento com o Salvatore — realmente eu estava intrigada com tudo aquilo.
— Pense, Ana — Enzo começou a falar com o tom de voz mais compenetrado — se tudo não passou de um plano do Salvatore desde do início? Franz não tinha como saber que ele era o prometido a você, já que quem sabia disso, morreu ou estava sendo ameaçado. Certos assuntos, como esse, a família fica sabendo alguns dias antes de fazerem uma reunião com o conselho, para decidir o casamento...
Cada palavra que Enzo soltava, ia se encaixando na minha mente, mas faltava a razão dele fazer tudo aquilo.
— Entenda, sem Vincenzo e o pai no caminho dele, ele teria domínio de tudo dos Castello. Ele não pensou que você iria a realmente se apaixonar pelo filho do Franz — as engrenagens já estavam pegando fogo na minha cabeça — na cabeça dele, ele deixaria você se divertir, e quanto distraía o rapaz...
— Ele ia se aproveitar da minha situação, para acabar com a própria família... — eu fiquei enjoada com a perversidade de Salvatore — e depois seria eu, quando ele já estivesse casado comigo, assumindo tudo que é dos Mazzini...
— Pense bem... O que você mais ama neste mundo é a sua família. Como se enfraquece alguém assim? — meu pai era bom mesmo.
— Eliminando as pessoas — Salvatore ia me pagar por tudo.
— Quem tinha uma ligação no conselho para saber dos acontecimentos, era o próprio Salvatore. Franz me falou que Vincenzo sofreu uma emboscada...
— Não tenho dúvidas sobre quem armou tudo isso. Salvatore arquitetou do início ao fim — enfatizei — mas ainda não entendo o que se passou na cabeça da minha irmã, mesmo depois de tudo e saber do ocorrido...
— Ana, Salvatore é um conquistador. Sua irmã deve ser o tipo de mulher que fica deslumbrada com qualquer um que lhe ofereça afeto. Desculpe se isso a deixa chateada, porém, eu aprecio a verdade.
— Me custa acreditar em tudo, mesmo que faça sentido.
— Às vezes, nem dentro da nossa casa, encontramos honestidade. E isso faz com que o sentimento de inveja e rancor, destrua qualquer coisa boa. O inimigo pode ser aquele amigo, com um sorriso no rosto e abraço apertado.
— Eu preciso ir mesmo — assenti para ele, sinalizando que tinha entendido as palavras dele. Se eu tivesse tido mais tempo, passaria horas conversando com ele, no entanto, eu tinha uma irmã que precisava de uma boa surra.
— Tome cuidado.
— Não se preocupe. Vou ficar bem depois de bater na cara da Lolla.

Fiquei ligando os pontos da conversa que tive com o meu pai e tudo fazia sentido. Óbvio que Franz não desconfiou por confiar muito no sobrinho: o que quase matou o Vince e o próprio irmão, e que agora estava de gracinha com a minha irmã. Eu não era ingênua ao ponto de achar que a Lolla não seria uma pessoa invejosa, mesmo que fosse difícil de aceitar. A minha mãe iria ficar arrasada com tudo. Estávamos na rodovia, que levava de volta ao galpão, com mais dois carros na frente do nosso e mais três atrás. Franz, Trix, Vince e eu, estamos no mesmo carro , quando de repente, o primeiro carro da frente explodiu, o segundo carro freou de vez, fazendo com que Vince desviasse mais rápido que a velocidade da li, para não bater na traseira dele. Infelizmente, o que vinha atrás do nosso carro não teve o mesmo reflexo e bateu com tudo. A desgraça já estava feita, deixando um congestionamento para trás, mais os outros dois carros parados, pois todos que passavam, paravam para tentar ajudar de alguma forma.
— A gente precisa voltar! — eu gritava assustada.
— Não podemos, Ana — Franz disse sem esboçar emoção.
— Eles já estão mortos — Trix falou irritada.
— Meu Deus! Precisamos voltar! E se tiver alguém vivo... — a esteira já tinha começado a tomar conta da minha mente.
— Ana, mesmo que tenha sobreviventes, eles mesmo não deixariam a polícia chegar perto. Eu preciso que você se acalme... — Vince olhou rápido para mim, e voltou a sua atenção para a estrada. O que me garantia que o nosso também não explodisse alí mesmo, e pedacinhos dos nossos corpos voassem pelo ar?
— Não podemos mais ir para o galpão — Trix nos lembrou. Nós já nem víamos mais os carros pelo retrovisor. Vince dirigia como piloto de fuga e a medida que nos distanciávamos, mas a adrenalina percorria o meu corpo junto com o medo e outras coisas mais.
—  Vamos para... — quando Vince ia terminar de falar, o pneu traseiro estourou e o carro saiu desgovernado na estrada, capotando três vezes antes de parar. Tudo doía e eu estava desnorteada, sem saber onde era o norte ou sul. A nossa sorte era que estamos c o cinto de segurança, caso contrário, eu não estaria lembrando daquele detalhe tão importante. Um zumbindo junto com uma dor sem tamanho se formou na minha cabeça e só deu tempo de chamar por Vince, que me recordo estar desacordado.
E eu pouco tempo, eu também estava.

Mafioso Irresistível ( Em andamento)Onde histórias criam vida. Descubra agora