Capítulo 8

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Capítulo 8

Passei o resto da tarde pensando no que tinha acontecido. As lembranças do ocorrido começaram a surgir na minha mente como fogos de artifícios no quatro de junho. Eu sabia que não deveria me meter onde fui chamada, porém, era mais forte do que eu. Os Castellos tinham vários acordos e regras, segundo o que me falaram. Para um acordo ser quebrado, teria que acontecer algo parecido com o que houve comigo. São dias de negociação, reuniões com o conselho da máfia de cada família até que se chegue a um novo acordo. Franz, com certeza, não deixaria o seu único filho passar por algo assim. Até eu sabia disso... E por quê isso tinha acontecido?
— Senhorita Ana, a carne vai passar do ponto se deixar mais um pouco. — Atlas me chamou atenção e graças a ele, não queimei o bife que estava fazendo.
— Desculpa, Atlas... — ele me olhava preocupado, mas durante os dias que eu estava ali, ele nunca falou sobre o que se passava na mansão. Conversávamos sobre culinária e a variedade de temperos naturais que Vince fazia questão de ter nos alimentos. Nada de temperos artificiais, tudo o mais natural possível.
— Você não precisa me pedir desculpas... — o vi colocar o purê de batata ao lado da porção de arroz — esse é o prato favorito do senhor Vince. A mãe dele sempre fazia para ele, quando não estava se sentindo bem. Umas mães fazem chá, sopa ou canja... Mas ela fazia purê, arroz e bife.
Ele parou de falar logo depois de me dizer isso. Olhou bem o prato, para ver se tinha algo fora do lugar, mas estava tudo na mais perfeita harmonia. Pegou a frigideira e de forma delicada, colocou o bife ao lado do purê, jogando umas folhas de alecrim por cima.
— Ana, é apenas uma dica. Nunca mais você me verá ultrapassando essa barreira, enquanto estiver aqui, está bem? — assenti com expectativa.
— Sim. Eu entendo...
— Vince passou por muitas coisas na vida e ele é assim, um pouco sem rumo. Não estou falando que ele é bonzinho, mas eu nunca o vi interessado por uma mulher da mesma forma que ele parecer estar por você. Então, só dê tempo ao tempo.
Tempo era algo que eu não tinha naquele momento. E Vince estava ligado a mim não de uma forma sentimental... Era mais algo sexual, eu acho. Ou eu estava tentando me enganar. Explicar isso para Atlas, seria complicado.
Explicar isso para qualquer outra pessoa, seria complicado.
— Não sei pelo o quê ele passou, porém, eu não estou aqui para isso. Estou passando por algo difícil na minha família, e é por isso que estou aqui. Vince pode ter passado por barreiras...
— Eu apenas falei o que penso, senhorita — ele se pôs firme na conversa. — não estou aqui para me intrometer na vida particular dos meus patrões. Só sei que você é uma mulher muito sensível e merecia saber disso.
Atlas me deixou parada com cara no chão e foi embora como se nada tivesse acontecido.
Se eu estava confusa, aquela quase conversa, tinha me deixado ainda mais. A recordação do desespero que senti quando o vi daquele jeito, sendo carregado para ser socorrido, me deixou aflita.
Será mesmo que Vince gostava de mim? Porquê sinceramente, não era isso que parecia. Ele era escroto, apesar de ter sido o melhor beijo e a melhor chupada da minha vida. Eu não podia pensar com a cabeça do grelo. A Ana que estava ali, de nada parecia com a Ana da família Delmondes.
Peguei a bandeja com o jantar de Vince e levei até seu quarto. Ele ia soltar de alegria sarcástica, quando me visse entrando no seu quarto com o seu jantar. Para minha surpresa, ele estava dormindo. Por pouco não derrubei a bandeja, quando abri a porta. Deixei ao lado da cama, em cima da mesinha de cabeceira e o observei dormir. Cada traço do rosto dele era um convite para passar a ponta do dedo, criando linhas imaginárias que dariam para ser um belo esboço de um desenho. A boca levemente rosada, os cílios fartos, a barba bem feita, o nariz perfeito, o cabelo preto e brilhoso... Aquele homem era lindo.
— Vince... — o chamei para poder comer alguma coisa. Desde o ocorrido, ele não tinha aceitado nada do tinha oferecido para ele comer.
— Ana, o que está fazendo aqui? — questionou com a voz sonolenta, se acomodando melhor na cama para ficar sentado com as costas no espelho da cama.
Vince estava sem camisa, mostrando as inúmeras tatuagens que cobriam a sua pele. No meio do seu peito tinha uma nome: Clara. Devia ser uma pessoa muito importante para ele, já que estava tatuado no peito esquerdo. No peito direito, um dragão enorme, que pegava uma parte das costelas e várias outras espalhadas pelos seus braços. Naquele momento, eu tive a oportunidade de observar de perto, já que da primeira vez, ele estava bem ocupado.
— Atlas disse que não trabalha mais fora do horário estipulado por lei... — brinquei pegando a bandeja e colocando sob suas pernas — culpa minha, eu sei.
— Não falei sério, quando pedi para trazer o meu jantar — ele parecia mais relaxado, eu acho. O seu semblante parecia tranquilo em quanto me encarava.
— Era isso ou você morrer de fome... — sorri para ele. Os olhos dele tinha um brilho diferente. Ou talvez, fosse apenas impressão minha, já que eu escutei tudo que Atlas havia falado.
— Ana, eu já avisei que não sou um homem bom... — suspirou, fechando os olhos, quebrando o contato visual que tinha sido estabelecido — e quando você olha assim para mim, eu me sinto um bom homem. Mas eu não sou.
— Vince, sei bem que você não é. Na verdade, estou sentindo na pele. Você é um escroto... — dei de ombros, mesmo sabendo que ele estava de olhos fechados.
— Mas eu quero você. Não estou falando de paixão... — foi nesse momento que ele abriu os olhos para mim, me passando toda intensidade que poderia expressar — eu disse que você seria minha e vai ser.
— Você vai acabar me deixando louca! — gritei olhando para ele — a hora você está tocando meu corpo, em outra me chupando como se o mundo fosse acabar e depois seu filho da puta, diz que não é um homem bom!
Minha respiração estava acelerada demais, para eu conseguir controlar a minha boca.
— Agora fala que me quer? Você sabe perfeitamente pelo o quê estou passando, e não está sendo fácil administrar a ideia que eu sou a herdeira de um grupo mafioso. Droga... — as lágrimas começaram a sair como cachoeira e tudo ficou embaçado por causa delas.
Não sei como os braços dele estavam ao meu redor, me abraçando enquanto o meu rosto repousava em seu peito.
— Tudo isso é uma merda mesmo. Porém, eu tinha prometido que você seria minha. Eu sei tudo sobre você, Ana. Só não queria...
— Que eu visse o seu lado negro — completei a frase, fungando e me sentindo envergonhada por ter chorado daquele jeito.
— Podemos tentar... — em sua voz havia esperança, coisa que eu não tinha muito no momento.
— Vince, se tudo der errado com as negociações do seu pai com o meu, eu terei um noivo me esperando... Entende como tudo isso é estressante? — afastei minha cabeça do seu peito para poder olhar o rosto dele — não posso me apaixonar por você e nem você deve fazer com que eu o ame.
— A única promessa que não vou quebrar, aja o que houver, será a desistir que você seja minha — de onde tinha saindo aquilo? Agora ele parecia uma bomba nuclear perto de mim.
A luta para não me apaixonar por ele, estava cada segundo mais difícil. Ainda mais quando ele estava se mostrando um Vince diferente. O tipo de homem por quem eu abriria mão de tudo. Ele segurou meu rosto entre suas mãos e me beijou com calma. Parecia que sugava a minha alma, se alimentando pouco a pouco.
— Não posso... — falei de repente, me afastando dele bruscamente.
— Ana — e lá estava aquele olhar triste de novo. O olhar do Vince adolescente, que tinha tudo, mas parecia não ter nada.
— Não.
Sai correndo pela segunda vez, naquele dia, do quarto dele.
Muitas coisas na minha cabeça para processar de uma única vez.

Mafioso Irresistível ( Em andamento)Onde histórias criam vida. Descubra agora