Capítulo 12

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Capítulo 12

Depois do acontecido, foi para o escritório de Vince, refletir um pouco mais sobre tudo e analisar que rumo eu deveria seguir. Era um ambiente escuro, mas aí mesmo tempo tranquilo. Do lado direito, uma enorme estante rústica, que ia até o teto e tomava toda a parede. Me aproximei mais e fiquei chocada com os títulos envolvendo alguns romances. Na maioria, livros sobre política, direito e economia. Do lado esquerdo, um quadro com uma pintura de Franz, Vince mais jovem e uma mulher, que com certeza era a mãe dele em uma moldura sofisticada preta enfeitava a parede no centro, e ali, logo abaixo, duas cadeiras confortáveis de couro preto. Entre as duas cadeiras, um centro de vidro com os pés dourados e um belo tapete cor vinho, que talvez fosse caro. Ao lado da porta, um bar com uma bancada toda trabalhada em madeira escura, repleta de bebidas caras. De frente, uma enorme janela de vidro, a mesa de escritório e... aquela cadeira. Só de relembrar, me deixava furiosa.

Voltei a prestar atenção na pintura. Ela, a mãe de Vince, parecia triste em cada traço. Mas a sua beleza era de tirar o fôlego. Ele poderia até ter herdado um pouco da beleza do pai, porém, o resto veio da genética da mãe. Cabelos pretos e longos, ela tinha o rosto um pouco retangular no queixo, as maçãs do rosto coradas e lábios grossos. Nos seus olhos, dava para ver a serenidade, apesar de tudo. Não sei o motivo exato, mas me passou um pouco de tranquilidade. Como Vince tinha coragem de fazer aquelas coisas na frente da imagem da mãe? Que desrespeito, pensei. Balancei a cabeça, tentando me livrar novamente das lembranças e fui me sentar na cadeira de escritório. Era macia e ainda por cima, tinha o perfume dele. Tentei me segurar para não bisbilhotar as gavetas da mesa, no entanto, a curiosidade foi mais forte. Duas gavetas de cada lado... fora o arquivo que tinha perto do bar. Tentei abrir a primeira do lado esquerdo e nada. Trancada. Ainda do mesmo lado, tentei a última e estava aberta.
Pastas com a contabilidade, gráficos de projeção e alguns documentos referentes a transações bancárias a várias empresas, que com certeza, eram fantasmas ou laranjas. Nada que eu fosse realmente apreciar passar o meu tempo olhando, mas acabei dando uma olhada em tudo. Algumas das transações eram feitas por Salvatore, até aí tudo bem. Algumas por Luccas, principalmente pagamentos efetuados em caridade, o que achei até irônico. Mafioso fazendo caridade... bufei em deboche. O nome de Vince aparecia em poucos documentos, talvez por ele mandar os outros fazerem o trabalho sujo e ficar monitorando o resto de longe. Pelo que percebi, ele não era do tipo que deixava as coisas para lá, caso algo de errado aconteça.

- Sabe, eu sempre que você era bisbilhoteira. - Vince estava parado na minha frente, com ar animado até. Se fosse outro, talvez não ficasse tão feliz em ver uma desconhecida mexer em documentos importantes.

- Estava querendo fugir um pouco para pensar... - falei sem graça, organizando tudo e guardando.

- Quer conversar sobre o que aconteceu hoje? - arqueou as sobrancelha para mim, sentando na borda da mesa, descansando apenas uma perna.

- Eu não vou perder desculpas. Se você achar isso infantilidade, problema seu. Mas aquele merda não tem o direito de se meter na minha vida e nem muito menos na sua.... - eu não parei nem para respirar direito, quando comecei a falar. Foi então que percebi ele esboçar um sorriso no canto da boca - que sorrisinho Monalisa é esse?

- Você fez algo que eu não posso fazer - se aproximou, saindo do seu canto e vindo na minha direção. Ele chegou mais perto, se curvou e apoiou as mãos nos braços da cadeira, aproximando mais o seu rosto do meu.

- Não está chateado? - me surpreendi com o fato de estar chocada com a minha pergunta.

- Só não chamo ele de filho da puta porquê o pai deles é irmão do meu. E sei que a mãe deles jamais faria algo errado, e o meu tio era um bom homem.
- Vince...

- Calma, Ana. Está tudo bem - ele me encarava com os olhos cintilantes de alegria - Salvatore não está de bom humor, e já deve ter ligado para o meu pai falando o que aconteceu...

- Ele quer que eu atire na cabeça dele, aposto... - acabei falando o que pensei, divertindo o deus grego parado na minha frente.

- Eu mesmo vou ensinar você a atirar. Aí, quando ele encher o seu saco, você mete uma bala na cabeça dele e tudo resolvido... - deu de ombros como se aquilo fosse a coisa mais natural a se falar. Por um momento, até me deu calafrios - está vendo? Eu sabia que você iria ficar assim, se eu falasse isso. Ana, para poder tirar a vida de alguém, a sua deve estar em perigo. E mais, aquela pessoa tem que merecer a morte por ser uma pessoa ruim. Não matamos por prazer, mas para nos proteger e proteger a nossa família.

- Então vocês tem um código moral, é isso? - ele me beijou de leve na testa e se afastou.

Fiquei triste, pois queria um beijo mais caloroso e quem sabe outra coisa. Mas, pelo que eu estava vendo, a conversa seria outra e até era interessante saber sobre isso. Eu teria uma oportunidade de entender como funcionavam as coisas. Vi quando ele atravessou o escritório e foi parar no bar, pegando a garrafa de uísque e se servindo em um copo. Vince bebeu um pouco do líquido âmbar, respirou fundo, de costas para mim.

- São poucas as regras, mas as que existem, foram feitas pelo conselho para serem respeitadas por todas as famílias envolvidas. Uma delas é: proibido matar sem justa causa. Isso inclui traição ao código da família e a quebra dos acordos e matar um familiar de outra, sem que o mesmo tenha feito as duas primeiras - começou a explicar, se virando para olhar para mim, ainda com o copo na mão, dando mais um pequeno gole.

- O código são as diretrizes que regem a máfia, certo? Tipo, como se comportar, negociar e entre outras coisas?

- Como eu disse, além de linda, inteligente. E com vocação para os negócios.

- Não me lembre disso... - gemi, me sentindo frustrada com tudo.

- Mas eu preciso lembrar. Os dias estão se passando e daqui a pouco, as coisas irão mudar.

- Eu sei - rebati com mal humor.

- Quero ensinar o máximo de coisas sobre esse mundo, para que, quando chegue lá, saiba de tudo - falou terminando a sua bebida com apenas um gole, colocando o copo sobre a bancada do bar. Vince passou a mão pelo cabelo, aparentemente preocupado. Já não estava mais sorrindo, parecia até angustiado - me preocupo com você, Ana. Independente do que aconteça no futuro, estarei sempre ao seu lado. Não importa as circunstâncias...

- Por que você está falando isso? - me levantei da cadeira e fui em sua direção, colocando os braços ao redor da sua cintura.

- Andei procurando informações sobre o que anda acontecendo. Eu nunca tinha ficado no escuro, como estou agora. Ninguém sabe de nada... - senti ele repousando o queixo sobre o topo da minha cabeça de leve.

- O que você acha que está acontecendo? - não tinha como esconder o medo que tinha na minha voz.

- Algo grande. Talvez, uma coisa que jamais aconteceu antes entre na máfia, depois dos acordos feitos. E isso já faz 30 anos...

Eu tinha que me preparar. Seja lá o que estivesse prestes a surgir, estaria relacionado a os acordos da família de Vince e a família do meu pai, Mazzini. No final de tudo, a decisão dele, Enzo, seria determinante para o futuro de todos, inclusive, a minha... Ou melhor, principalmente.

Mafioso Irresistível ( Em andamento)Onde histórias criam vida. Descubra agora