Capítulo 3

4.7K 482 22
                                    


Se não fosse por Salvatore, eu teria feito alguma besteira. Só de imaginar, meu coração já queria sair pela boca. No que eu estava pensando, quando segui a minha vontade de bisbilhotar os outros?

— Falei para todos lá em baixo que você vai nos agraciar com o seu talento culinário... — minha careta deve ter entregado o fato de não gostar muito de cozinhar — desculpa... Nem mesmo perguntei se gostaria de fazer isso... — disse Salvatore sem graça. Ele era bonito e com certeza, aquele sorriso sem graça que ele me mostrou conquistava qualquer mulher.

— Se me mostrar onde é cozinha, faço o que me pedir  —minha vontade mesmo era que alguém fosse cozinhar para mim. No entanto, tentei reverter a situação para não parecer ingrata ou coisa parecida.

— O que eu pedir? Ah, assim você vai começar a me deixar mal acostumado... — podia sentir ele gostando do joguinho, só que eu não estava ali para isso. Talvez até rolasse um sexo, mas não seria com ele. Naquele momento, senti que ele estava mais para um predador e eu a coitada da caça.

— Não insultando a minha inteligência, pode me pedir para preparar o prato mais sofisticado — sorri me afastando um pouco dele, que ainda estava segurando as malas na entrada do meu quarto. — Vamos?

— Gostei de você assim que a vi, Ana. Parece ser um mulher muito especial... — falou enquanto descíamos a escada.

— Ser especial é algo muito importante. Talvez eu não seja exatamente como pareço...

— Então você é mais no estilo gata selvagem? — a pergunta dele me deixou um pouco irritada, porém segui o ritmo. Sou do tipo que aprecia um boa conversa, um vinho e no máximo, duas semanas de galanteios. As preliminares de uma boa conquista se resume em como o cara me trata nas primeiras três horas, e Salvatore estava indo bem até me comparar a uma gata selvagem. Qual o problema dos homens com o reino animal e as mulheres?

— Quem sabe...? Gatos selvagens não são muito amigáveis.

— Nada vai me tirar da mente que você é selvagem... — brincou enquanto me guiava até a cozinha.

Não deu tempo rebater o gracejo de Salvatore, assim que ele me mostrou a cozinha, fiquei embasbacada com o quanto era organizada e moderna. Os Castello investiram uma nota preta naquelas bancadas de mármore. A cozinha em conceito aberto, parecia aqueles projetos dos Irmãos a obra que eu gostava de assistir no meu tempo livre.

— Esse é o Atlas Collins, nosso chefe.

O senhor na minha frente deveria ter uns sessenta anos, no máximo. Era bem apresentável e o bigode dele me fazia lembrar dos desenhos satirizados sobre cozinheiros. Para minha sorte, ele me recebeu muito bem. Para alguns, eu estar na cozinha dele, seria até um insulto. Esperava que o Atlas me entendesse e não levasse para o lado pessoal.

— Ana me falou que cozinharia o que eu pedisse, Atlas. Então vou querer Carpaccio... — o olhar desafiador de Salvatore me deixou ofendida.

—  E eu achando que você me pediria algo mais desafiador... Aí me vem com um aperitivo? Isso foi um insulto... — o som da minha voz foi debochado ao nível máximo, fazendo todos que estavam na cozinha rirem alto.

— Ela é muito espirituosa, senhor Salvatore... — ressaltou Atlas, se segurando para não rir como os outros.

— Ela é sim... — respondeu a Atlas, me olhando com admiração. Eu estava tentando pensar em algo mais criativo para falar quando Salvatore disse: — então, me surpreenda. E não insulte minha inteligência, senhorita Delmondes.

Eu não prepararia nada italiano. Pelo amor de Deus, eu tenho sangue espanhol correndo pelas minhas veias... E italiano também, mas isso não vinha ao caso. A família da minha mãe em primeiro lugar. O Tapa espanhol, deixaria eles com gosto de quero mais. E não estava falando de qualquer Tapa, as Delmondes eram as melhores.  Depois um belo Pan tumaca com jamón, seguida por Paella e Rabo de toro... E um belo Syrah, os Castello se lembrariam de mim por um bom tempo.

Antes das dezenove horas, tudo estava pronto. Verdade que eu não havia descansado nem por um segundo, mas há tempos que não me sentia tão bem em uma cozinha. Parecia que os problemas sumiram durante esse tempo. Não era como se eu tivesse esquecido da minha família ou do que estava me acontecendo, porque isso eu não faria. No entanto, por um breve momento, parecia que um pouco de paz se acomodou dentro do meu coração. Atlas e o pessoal da cozinha foram muito gentis comigo e com tudo que eu pedia para eles.

Agradeci a todos depois de deixar tudo limpo, mesmo que a equipe tivesse insistido que não precisa de mim para aquele serviço. Subi para tomar meu banho e antes de chegar ao corredor, o meu coração acelerou. Quem seria aquele homem tatuado que estava com aquelas duas mulheres? E como seria ser tocada daquele jeito por ele? Passei correndo até o meu quarto sem olhar para trás. Se eu olhasse, lembraria com mais nitidez da cena. E isso eu não queria... Já me bastava lembrar dos gemidos.
Coloquei o meu melhor vestido e arrumei meu cabelo, passando apenas um batom vermelho para contrastar com o tom do azul do tecido. Nunca gostei muito de me maquiar, apesar de ter vários produtos de cosméticos a minha disposição. Achei que um salto vermelho ficaria interessante, mas eu parecia arrumada demais para um jantar na casa dos Castello, então a boa e velha sandália de salto baixo já me bastava.

Às dezenove e quarenta e cinco, todos estava sentados à mesa e tinha uma mulher junto ao Salvatore de um lado da mesa e outro, um homem, ao lado de outra mulher, que aparentava ser mais novo que ele, também acompanhado. A cadeira da cabeceira estava sem ninguém, mas eu achava que Salvatore sentaria nela. Me enganei. Talvez o mais novo fosse o cara da suruba... Se ele tivesse sem camisa, saberia.

— Você está linda... — Salvatore levantou e veio na minha direção como se fosse um guepardo, com leveza e rapidez. Colocou a mão em volta da minha cintura e fiquei desconfortável. Parecia que éramos íntimos para quem assistia aquela cena, mas não era bem assim.

— Obrigada, mas não precisa me elogiar assim... — tentei me afastar dele, porém ele insistiu em permanecer com a mão na minha cintura.

— Você sabe que é bela, Ana... — sorriu para mim — quero que conheça o Lucca, meu irmão mais novo — Lucca imediatamente se levantou e eu me aproximei para cumprimenta-lo. Diferente do irmão mais velho, ele transmitia uma confiança e uma energia muito boa. Dava para ver o quanto eles eram opostos, tanto em físico quanto em personalidade. Lucca tinha o cabelo curto com o tom um pouco acobreado e olho castanho claro, sem falar no fato dele ser muito alto e bonito. Os homens Castello não tinham rolas, tinham pincéis...

— Finalmente conheci uma Delmondes! — não entendi bem o que ele quis dizer com isso, mas fiquei calada. Lucca dispensou minha mão e me abraçou. Não vou mentir e falar que aquilo não foi uma surpresa, pois foi. Normalmente a minha família é a calorosa, no entanto, os Castello estavam se mostrando bastante espanhóis nesse quesito de receber bem.

— E quem são suas acompanhantes? — perguntei ao me afastar do abraço de Lucca.

— Conquistas da noite... — até teria rebatido o comentário desnecessário dele, mas vi que elas não estavam incomodadas com isso. Queira muito que nem uma precisasse desse tipo de coisa para ser feliz ou subir na vida... ou de um homem chamado de conquista da noite —  achamos que ficaria mais confortável se tivesse mais alguém do sexo feminino sentado à mesa... Já que somos em quatro na casa — informou Salvatore simplesmente. Então teríamos mais um? O meu coração começou a acelerar. Lucca não tinha cara de quem transaria com duas ao mesmo tempo e com a pôr a do escritório entreaberta. Por isso só me restava o Vincenzo, o filho do mafioso.

— Troque de lugar com a nossa convidada, Brittany... — pediu Lucca, me deixando sentar na ponta. A loira gostosa me olhou feio e eu até teria protestado, mas eu já sabia quem sentaria perto de mim.

— Boa noite, senhores e senhoritas... — ainda bem que eu já estava perto da cadeira, caso contrário, o tombo teria sido dos grandes.
Ele era um pedaço de filé de primeira. O homem alto, forte e elegante parado na entrada da sala de jantar não era apenas um espetáculo, era um meteoro demolidor da beleza. O olhar dele tinha um ar de mistério e sedução que eu nunca tinha visto em um homem, e eu já tinha dando bastante para saber disso.

Gostou? Comenta e me segue no insta @debbyscar_

Mafioso Irresistível ( Em andamento)Onde histórias criam vida. Descubra agora