A Mensagem não Autorizada

130 10 5
                                    

A manhã acompanhava o humor de Lilian. Agradável. Era o tipo de manhã em que grandes coisas aconteciam. Uma nova amizade eterna; o título de um campeonato; o amor da sua vida, finalmente, aparece. Lilian acreditava que tudo isso podia acontecer em manhãs como aquela.

A menina, ainda na cama, olhou as horas. Em uma nota no celular, estava o encontro daquela tarde, que ela já havia esquecido há muito tempo: filme com as suas melhores amigas. Definitivamente, aquele seria um dia perfeito. Decidiu levantar e ir tomar café da manhã.

— Bom dia, papai! — Disse, ao chegar à cozinha.

— Bom dia, Lilian. — O sr. Evans tirava algo do forno, e respondeu sem se virar.

Ele pôs a bandeja na frente de Lilian. Brownies. Lilian pegou um. Estava quente e a garota o soltou assim que seus dedos o tocaram. Soprando a pele avermelhada, ela notou um estranho brilho no olhar do pai.

Desde que voltara de viajem, Benjamin Evans andava estranho. Sorrindo pelos cantos, suspirando e cantando. Parecia um adolescente novamente.

— O que foi?

— Nada. — Lilian o fitava fixamente. — Você está rindo. — Observou.

— Um homem não pode mais sorrir? — Ele perguntou, tirando algo da geladeira.

— Pode — Lilian estava cautelosa agora —, mas você está rindo demais!

Benjamin deu de ombros. Começou a cantarolar e a atirar coisas da geladeira. Queijos, sucos, frutas...

— Pai! — Lilian chamou-o, com uma urgência em seu tom. — Está acontecendo alguma coisa que eu deveria saber?

— Defina alguma coisa.

— Uma namorada.

Benjamin riu. Não. Gargalhou. Uma risada gostosa de se ouvir, mas que irritou Lilian profundamente.

— Claro que não. — Riu novamente e mudou bruscamente de assunto. — Acho que devemos jantar fora hoje à noite.

— Hoje à noite não vai dar — ela olhou-o, pedindo desculpas. — As meninas vão vir assistir filme aqui em casa hoje, talvez fiquem pra dormir.

Benjamin assentiu.

— Tudo bem. Façamos o seguinte — sentou-se e tentou manter uma pose casual — eu, você e a Petúnia, assim que vocês puderem, vamos jantar naquele seu restaurante favorito. Topa?

Lilian franziu o cenho. Seu pai certamente estava aprontando alguma coisa, mas ela não tinha muito tempo para pensar nisso, então, apenas assentiu.

— É. Vai ser uma boa. — Deu um beijo em Benjamin e saiu da cozinha, com dois brownies na mão.

Voltou ao próprio quarto. Queria tentar terminar a canção que estava escrevendo, enquanto esperava o tempo passar.

Sentou na cama, o violino de um lado e o violão do outro, caneta azul e caderninho a sua frente. Treinara, durante a semana anterior, escrever canções. Tinha ocorrido uma melhora satisfatória em suas letras, porém as notas continuavam desencaixadas. Ela não conseguia organizar as ideias de modo a deixar letra e música em perfeita harmonia.

Soltou a respiração pela boca. Releu os versos escritos no papel e revisou as notas: pareciam piores à medida que o tempo passava. Em raros momentos como este, sentia a falta da mãe.

Se Sara estivesse ali, ajudaria nos arranjos, nas notas. Organizaria a emoção. Mas ela estava morta e Lilian não lamentava por isso. Pelo menos, não o tempo inteiro. É difícil chorar a morte de alguém quando esta pessoa te abandonou. Mesmo assim, não deixava de pensar que, quem sabe, a música já não estaria pronta àquela altura.

Lily ApaixonadaOnde histórias criam vida. Descubra agora