Sui Generis

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Os fios castanhos caiam sobre o rosto de Frank enquanto ele desenhava, com uma precisão arquitetônica, a quadra do colégio. Mary estava ao lado dele, com uma maçã nos lábios. Emmeline debruçava-se sobre a mesa de jacarandá acompanhando cada risco do lápis. A própria Lilian estava com o notebook no colo, sentada de pernas cruzadas no chão. Procurava vídeos de apresentações, roupas, maquiagens... Tudo com o tema Cinderela.

Azul foi a cor escolhida. Como o céu e a serenidade. Todavia, a calma não estava em seu interior. As batidas rápidas no teclado carregavam ansiedade. Sentia-se correndo contra um tempo quase escasso. O relógio avançando, fatos se sucedendo. Ela sendo deixada para trás, como um objeto a ser descartado. A certeza do fracasso invadiu-a.

O ano anterior ia se repetir. Possuía verdadeira convicção quanto a isto. Pânico. Lilian não queria passar vergonha. Toda a cidade estaria ali para ver seu desfile. Sim. Seu. Ela ficara responsável por fazê-lo e iria doar tudo de si. E, caso perdessem, caso viesse à ruína, não seria por falta de esforço. Mesmo assim, a tristeza a invadiria.

Retirando ânimo do medo, levantou-se e prostrou-se à frente de Frank, Emmeline e Mary, que trabalhavam na planta da quadra. Frank era perfeccionista e a sombra feita pelo corpo de Lilian o fez escorregar o lápis um milímetro no papel.

Ele levantou o rosto, seu olhar demonstrando irritação.

— Pensou em algo, Lilian?

— Se ela não tivesse pensado em alguma coisa, não viria aqui, não é mesmo? — Mary atirou, revirando os olhos e fingindo indignação.

Lilian achou melhor interromper a conversa, antes que as provocações de Mary causassem uma briga. Tudo o que elas não precisavam era que Frank decidisse que não iria ajudar mais e abandonasse a liderança.

— Vejam bem, estava analisando alguns pontos — e parou, esperando que as meninas prestassem exclusiva atenção nela — e me dei conta de que toda a apresentação ficaria muito mais original e única se um fator fosse levado em conta.

— E que fator seria este? — Perguntou Frank, já acompanhando o raciocínio de Lilian.

— Alguns estilistas desenham roupas especialmente para as damas da alta sociedade. Roteiristas criam personagens perfeitos para alguns bons e populares atores...

— Aonde quer chegar, Lilian? — Emmeline interrompeu-a.

— Bom, o fato é que grande parte do que é produzido exclusivamente para alguém se torna um épico ou é ovacionado pelo público.

— O que você está sugerindo é...

— Singularidade, caro Frank. Sin-gu-la-ri-da-de.

— Está sugerindo um sui generis ou algo do tipo? — Mary perguntou, obviamente repetindo uma expressão que ouvira em algum lugar que, entretanto, não sabia utilizar direito.

— Exatamente! — Exclamou Lilian. — Estou sugerindo uma apresentação sui generis. Única em seu gênero. Peculiar.

— Que seria...?

— Não é óbvio? — Frank olhou para Emmeline incrédulo, como se os planos de Lilian estivessem expostos em um outdoor com letras em neon.

Emmeline e Mary balançaram a cabeça negativamente. Elas não possuíam o mesmo raciocínio rápido de Frank, de modo que esperavam que alguém explicasse a proposta de Lilian.

— Ela quer fazer um desfile especialmente para alguém.

— Mais que isso — Lilian pôs-se a deslindar sua ideia. — O nosso desfile, especificamente, deveria ser completamente produzido para ser protagonizado por um casal distinto.

Lily ApaixonadaOnde histórias criam vida. Descubra agora