Terminar aquela conversa que não terminamos antes

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Lilian estava sentada comendo um hambúrguer e tomando uma Coca-Cola muito gelada enquanto Potter a observava. Ela estava morrendo de fome e decidiu não desperdiçar os poucos minutos que teria entre a apresentação das outras equipes e o anúncio dos resultados e entregas de medalhas e menções honrosas. Quem diria que correr contra o tempo e resolver todas as pendências da própria vida demandava tanta energia?

— Desse jeito você vai acabar engasgando, gulosinha — disse Potter, entregando a ela um pedaço de guardanapo.

— Eu não tenho tempo — ela mostrou a língua para ele. — Você sabe disso!

Potter riu e, então, ficou sério. O coração de Lilian bateu fora do compasso. O que estaria errado dessa vez? Ela achava mesmo que havia resolvido todas as pendências. Não era possível que ainda deixara uma ponta solta...

— Preciso que você arranje tempo para mais uma coisa — ele disse.

— Tipo? — Lilian arqueou a sobrancelha, tentando fazer graça, mas não deu certo.

— Terminar aquela conversa que não terminamos antes.

— Achei que já tava tudo resolvido — ela bufou. — Já até te perdoei.

De fato, ela achava que estava tudo resolvido. Tudo bem. Talvez ele quisesse discutir como as coisas entre eles ficariam depois que ela fosse para Londres, mas até esse caminho estava meio óbvio para ela. Não havia muito o que fazer. Ela iria embora. Potter teria que aceitar. Eles sentiriam saudades um do outro, mas sempre teriam as férias, até que toda a situação fosse insustentável e a mágica fosse embora.

Para ela, seria perfeito assim. Aparentemente, para ele, não funcionaria desse jeito.

— Eu preciso saber como ficarão as coisas quando você for embora — ele disse, apertando a mão dela. — Eu gosto de você, será que alguns quilômetros importam tanto assim?

— Não são apenas alguns quilômetros — ela murmurou de cabeça baixa. Aquela conversa estava indo longe demais, e Lilian sabia exatamente onde iria terminar.

James, então, segurou o rosto de Lilian entre as mãos, exatamente como ele fazia todas as vezes que iria beijá-la apaixonadamente. O coração da garota parou pela milésima vez naquela noite e ela tinha certeza que o desfecho de tudo aquilo seria terrível. Ela não queria sentir falta dele ou precisar demais dele quando estivesse em Londres, no fim das contas.

— Lilian Evans — ele disse, sua voz quase falhando —, você quer ser minha namorada?

Lilian sentiu seus lábios formarem palavras, mas sua voz nunca saía. Estava presa na garganta. Ela até gostaria de poder dizer sim, mas não queria continuar perdidamente apaixonada por James quando ele estivesse a um mundo de distância dela. O único problema era que ela não poderia começar o processo de esquecê-lo enquanto ele estivesse por perto. Ela não queria começar o processo de esquecê-lo enquanto ele estivesse por perto, porque se tinha uma coisa que Lilian amava sobre James era como ele a fazia se sentir em um conto-de-fadas. Não queria perder isso.

Com um aperto no coração e uma vertigem que a fazia quase querer vomitar o hambúrguer que tinha acabado de devorar, Lilian abriu o maior de seus sorrisos e torceu para que ele não percebesse quão falso era.

— Até onde der?

— Até onde der.

— Então, sim — ela finalmente respondeu.

James ia beijá-la, em comemoração, mas a garota virou o rosto, com a desculpa de que já estava na hora de voltar para a quadra. Não sabia porque fez isso, não tinha vontade de descobrir, mas desconfiava que era sua intuição dizendo que aquela mágica logo iria embora. Então, pagaram a conta e voltaram ao Hogwarts.

Foram direto para a quadra. Potter juntou-se aos colegas de Lilian, mesmo que não pertencesse àquela turma, e ficou conversando com Marlene. Lilian havia decidido ficar quieta em seu canto. Estava nervosa. Os juízes haviam saído para dar as notas e apurá-las. A qualquer momento o resultado final poderia ser divulgado. E ela queria tanto ganhar. Precisava tanto ganhar.

Estava tão tensa e concentrada nesse objetivo, que sua irmã, Petúnia, teve que chamar seu nome três vezes até que ela finalmente prestasse atenção.

— Ah, oi — disse, virando-se para a irmã mais nova. — O que tá fazendo na arquibancada da minha equipe?

— Você precisa vir comigo.

A expressão de Petúnia era tão séria que Lilian não conseguiu dizer não. Ela sentia que alguma coisa estava errada, que algo havia acontecido de muito urgente. Seguiu a irmã mais nova, então, pelos cantos da quadra do Hogwarts até chegarem ao gramado verde e, daí, tomarem o caminho mais rápido para A Gruta.

Enquanto andava, Lilian estreitava os olhos. Ir ali não era um bom sinal. Nunca era.

A menina repassou em sua mente todas as vezes que levara alguma de suas amigas para conversar ali... Régulo, Severo, Potter, Lucius... Nada nunca acabara bem. Dessa vez, não poderia ser diferente.

— Tem alguém que você precisa muito ver, querida irmã — disse Petúnia, esticando o pescoço, como se estivesse tentando chamar alguém.

E foi aí que o coração de Lilian Evans parou pela vez de número mil e um naquele dia.

Saindo das sombras d'A Gruta, em um terno cor de chumbo, vinha um homem alto com um quê de Lemoney Snicket, o narrador de um de seus livros favoritos quando criança — ou pelo menos como ela imaginava que ele se parecesse.

Um pressentimento apoderou-se da menina de apenas dezesseis anos ao ver aquele homem parado à sua frente.

— Olá, Lilian Evans — ele disse, e ela sentiu um arrepio percorrer sua espinha dorsal. — Nós precisamos conversar sobre a sua mãe.

A voz do homem era a mesma que ouvira no recado da secretária eletrônica. Ele era o detetive particular de seu pai.

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⏰ Última atualização: Jul 16, 2023 ⏰

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Lily ApaixonadaOnde histórias criam vida. Descubra agora