Lily Apaixonada

Por favor, não diga que me ama

Ela ainda estava sentada na calçada de sua casa, pensando em como seu dia fora de maravilhoso à desastroso em poucas horas, quando a luz de um farol atingiu seus olhos. Logo em seguida, ela pôde ouvir o barulho do motor de uma moto sendo estacionada, quebrando o silêncio da noite.

A luz diminuiu aos poucos. Ainda assim, Lilian conseguiu distinguir apenas uma sombra masculina caminhando até ela.

— Estava esperando por mim? — Lilian ouviu a voz de James antes mesmo de conseguir vê-lo.

— Vim tomar um ar — ela respondeu, deslizando para o lado para que o garoto pudesse sentar perto dela. — Por que demorou tanto assim?

Mesmo com a rua meio escura e a visão perturbada pela luz do farol em seus olhos verdes, Lilian conseguiu ver uma leve hesitação no olhar de James. O que ele havia aprontado?

— Perdi a hora — ele respondeu.

A menina percebeu que ele estava mentindo. Não sabia como podia ter tanta certeza disso, mas assim que ele começou a falar, ela soube que ele estava dando uma desculpa esfarrapada. Teve vontade de confrontá-lo, mas não queria brigar. Eles não tinham nenhum compromisso um com o outro e pouca intimidade, James poderia ter seus segredos. Lilian sabia que era loucura negar isso.

— Então... — Ele procurou a mão de Lilian e entrelaçou seus dedos nos dela. — O que você vai fazer agora?

— Praticar meu sotaque lodrino? — Ela soltou uma curta risada amarga.

— E como é esse sotaque?

— Shall we dance, please? — Lilian tentou imitar o jeito que a realeza inglesa falava na primeira frase que veio a sua cabeça.

— Agora, traduz aí — Potter pediu, rindo. — Não é todo mundo que sabe falar londrinês.

— Acho que é algo como "a gente já pode dançar?", só que de um jeito bem ridículo e pomposo, sabe? ­

Os dois riram por mais tempo que o necessário, considerando que a piada era muito sem graça. No entanto, se Lilian pudesse escolher, passaria horas rindo só para evitar saber os motivos de James estar ali, àquela hora da noite, do lado de fora da casa de alguém. O problema era que ela não podia escolher. Ela precisava saber. Seu coração implorava pela resposta enquanto saltitava de seu peito em uma velocidade nunca antes vista.

Então, com um suspiro e soltando a mão do menino bonito sentado ao seu lado, ela finalmente perguntou:

— Por que você está aqui, Potter?

James parou por um momento, pensando em qual resposta deveria dar e, provavelmente, optou pela verdade:

— Eu gosto de você, Lilian Evans — disse ele com uma voz firme e fitando profundamente os olhos castanhos da garota. — Eu sei que é loucura te falar isso tão cedo e especialmente sabendo que você vai atravessar o país em dois meses, mas eu não me perdoaria se não tentasse...

— Não tentasse o quê? — Ela o interrompeu, curiosa. Seu coração batia mais forte ainda.

O menino hesitou mais uma vez. Parecia pensar qual a melhor maneira de dizer aquilo. Foram segundos que pareceram eternos para Lilian.

— Se eu não tentasse ficar com você — ele disse finalmente.

O coração de Lilian quase saltou para fora do peito. Ela nem acreditava no que estava ouvindo. James estaria mesmo disposto a embarcar em um relacionamento com uma garota que estava prestes a se mudar para outra cidade? Era como se um sonho estivesse se transformando em realidade. Ela nem podia acreditar. Era muito bom para ser verdade.

Bom até demais. E quando algo era bom demais para ser verdade, normalmente, é porque não era verdade.

Potter não costuma ficar interessado por muito tempo em uma menina, ela quase ouviu a voz de Andrômeda Black, sua colega, falando. O único problema vai ser quando ele enjoar de você, ela também dissera, alguns dias antes.

Andrômeda parecia tão certa do que dizia. Ainda assim, Potter estava ali, não estava? Dizendo que queria ficar com ela, mesmo ela indo embora para Londres em poucos meses.

Potter não costuma ficar interessado por muito tempo em uma menina. Será que ele apenas dissera aquilo porque sabia que iria perder o interesse? Que iria enjoar dela?

O sorriso que Lilian havia estampado no rosto apenas alguns segundos antes, sem nem perceber, estava se desfazendo. James percebeu.

— Você não quer...

Ele nem teve a chance de terminar a frase.

— Não é isso — ela disse.

— Então por que está fazendo essa carinha triste? — Ele perguntou, colocando uma mecha dos fios ruivos dela atrás da orelha. — Tá tudo bem, Evans?

— Tá sim... — Ela mordeu os lábios, pensando no que deveria dizer. De repente, começava a ter dúvidas em relação a James novamente. — Mas... Vamos viver no presente?

Potter franziu o cenho. Seus lindos olhos cobertos pelos óculos redondos encararam Lilian com dúvida. Ele não entendia o que estava acontecendo. E como poderia? Ela estava confusa. Sua vida havia virado de cabeça para baixo em apenas um dia. Primeiro, percebera que estava apaixonado por aquele garoto de camisa branca e fios completamente bagunçados ao seu lado. Depois, descobrira que iria morar em Londres, na terra da rainha, em dois meses. Para completar, como uma espécie de cereja do bolo, ela beijara a melhor amiga, Mary McDonald — e tentava não pensar muito nisso, para não ficar mais ansiosa e nervosa do que já estava.

Como se não bastasse, uma insegurança repentina a invadira e ela não conseguia manda-la para longe.

— Quer dizer — ela tentou começar de novo —, vamos nos conhecer melhor e quando estiver perto de eu ir embora, a gente conversa sobre isso de novo, ok?

— OK...

Mas não parecia estar ok. James continuava olhando para Lilian como se ela não estivesse bem, enquanto a garota, por sua vez, vasculhava a própria mente procurando uma boa desculpa para dispensá-lo. Por sorte, não precisou.

— Então, está ficando tarde — ele começou — e você estuda de manhã, eu trabalho... Acho melhor eu ir.

Ela assentiu, concordando. Quando levantou da calçada, já pronta para se virar e entrar em casa, James segurou a mão dela e a puxou para perto de si. Seu corpo estava tão próximo do dele que ela podia sentir o cheiro de menta que exalava de seu hálito, e tinha certeza que ele ouvia o coração dela batendo incrivelmente forte pela milésima vez naquela noite.

Uma forte corrente elétrica arrepiou todos os pelos do corpo de Lilian quando James, suavemente, afastou uma mecha de seu cabelo para o lado e tocou seu rosto. Ela, definitivamente, nunca conseguiria esquecer aquele garoto, mesmo se tentasse, porque Potter fazia-a sentir-se viva.

— Eu gosto de você, Lilian Evans — ele disse, num tom de voz mais baixo que o usual, e Lilian sentiu suas bochechas se tornarem incrivelmente vermelhas.

Era a segunda vez que Potter dizia aquelas palavras para Lilian e em nenhuma das vezes ela teve a coragem de retribuir. No entanto, naquele momento, a culpa não fora dela. James aproximou seus lábios dos da garota e, instantaneamente, eles estavam se beijando e Lilian sentiu que fogos de artifício explodiam naquele exato momento. Tudo estava perfeito.

Potter não costuma ficar interessado por muito tempo em uma menina, ela ouviu a voz de Andrômeda ecoar mais uma vez em sua mente e o encanto da cena que acontecia se quebrou. As dúvidas, que não a haviam deixado, apenas estavam esquecidas durante aqueles gloriosos segundos, invadiram-na como um tsunami.

Lilian tentou, mas não conseguiu evitar sair correndo para dentro da própria casa assim que o beijo acabou, enquanto James observava a fachada da casa dos Evans se perguntando se havia feito algo de errado.