É proibido partir

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Entre as quatro paredes do banheiro, Lilian finalmente conseguiu respirar. Seu reflexo no espelho mostrava uma menina confusa, com lágrimas nos olhos verdes e um rosto mais vermelho que os fios de cabelo, tamanha sua raiva. A vida nunca seria perfeita, ela acabava de chegar aquela conclusão. A sua própria, então, seguiria sempre um ritmo quase caleidoscópico de imperfeição.

Tentando imitar as personagens que admirava dos filmes que gostava de assistir, ela abriu a torneira e molhou as mãos na água bem fria. Em seguida, passou o líquido gelado no pescoço. Percebendo que aquilo não ajudava em nada, Lilian simplesmente jogou água no próprio rosto, borrando toda a maquiagem que usava. Mas ela não se importava com isso.

Quando seu mundo está prestes a mudar, a sua aparência realmente importa?

Ela também teria de descobrir como contar aquilo às melhores amigas. E como dizer adeus. Certamente não conseguiria. Eram suas melhores amigas. Suas únicas amigas. O mundo dela não seria o mundo dela sem Mary, Emmeline e Marlene.

Ainda tinha James. Ah, Potter. Era uma história que ainda nem tinha começado e já iria acabar. Lilian Evans não queria esse fim para seu primeiro romance. Ela queria que fosse épico. Foi aí que ela entendeu: era por isso que ela tinha tanto medo de se entregar às borboletas no estômago que apareciam quando falavam o nome de James Potter. Ela sabia, sempre soube, que seus amores nunca durariam, mas ela sempre iria desejar que fossem eternos.

Começou com Sara, quando ela decidiu abandonar suas filhas. Continuou com Sara, quando receberam a notícia de sua morte e o testamento pedindo que suas cinzas fossem espalhadas no mar. E agora: Potter. Este último nem tivera a chance de começar.

Todos os seus amores sempre chegavam ao fim.

Quando Lilian entendeu isso, sua respiração começou a ficar ofegante. Sentiu uma necessidade absurda de pegar o celular e mandar dezenas de mensagens para o garoto. Mas falaria o quê? Que ela iria se mudar para Londres em setembro ou que eles nunca poderiam ficar juntos porque esse era o destino dela: ficar sozinha? Ele a acharia louca de qualquer jeito.

— Lilian? — A voz de Petúnia ecoou no banheiro, vinda do outro lado da porta. — Você está aí?

Lilian limpou a água que ainda molhava seu rosto, agora pálido, e tentou manter a voz o mais firme possível:

— O que você quer, Petúnia? — Ela perguntou de volta. — Eu quero ficar sozinha.

— Bem, você pode ficar sozinha o quanto quiser quando chegarmos em casa — Petúnia respondeu —, mas agora você vai ter que sair porque a gente tá indo.

— Vocês não vão comer a pizza? — Ela perguntou, abrindo a porta, surpresa.

— Depois do seu drama, ninguém ficou muito no clima. — Petúnia revirou os olhos.

Lilian estava pronta para contestar, mas sabia que era verdade. Ela havia perdido o controle de si mesma e da situação. Não deveria ter tratado o pai daquele jeito, assim como ele não deveria matriculá-la em uma estúpida escola londrina contra sua vontade. Droga! Ela não conseguia abandonar o drama. Estava com muita raiva para isso.

Na volta para casa, a menina veio no banco de trás. Queria ficar o mais longe possível do pai. Não conseguia nem o perdoar e nem pedir desculpas pelo que acontecera no Caldeirão Furado. Foi por isso, também, que ficou calada durante todo o trajeto e, ao chegar ao destino, correu para o próprio quarto.

Ela precisava ficar sozinha. Ou longe da companhia de sua família, pelo menos.

Na tranquilidade de seu quarto, ela finalmente pegou o celular. Como já esperava, havia centenas de mensagens. Algumas delas eram de James. Ele perguntava o que ela havia achado do encontro, quando poderiam se ver de novo e coisas assim. Lilian queria muito responde-lo, mas tinha a sensação de que iria desabar se o fizesse. Então, ela pegou o notebook que estava no criado-mudo ao lado da cama e o abriu, convidando suas amigas para uma chamada de vídeo.

Lily ApaixonadaOnde histórias criam vida. Descubra agora